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URBANIDADE
Oficina do Sol
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Desenvolvidas na Universidade de São Paulo, as
invenções do engenheiro eletrônico Augustin Woelz, de 62 anos,
são tão simples que muitos de
seus auxiliares são crianças, treinadas para disseminar tecnologia. "Uma criança é capaz de fabricar os aparelhos e ajudar os
adultos a usá-los", orgulha-se.
Depois de anos de testes com
materiais baratos, ele conseguiu
criar sistemas de baixo custo de
energia solar -um aparelho sai
por até R$ 150 mensais. Nos seus
cálculos, aliás, sairia de graça.
"Em seis meses, com a economia
de energia elétrica, todo o investimento estará pago." Devido a essas invenções, a USP decidiu dar-lhe um espaço no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas para que ele aprimorasse as descobertas e garantisse sua sustentabilidade econômica.
Até pouco tempo atrás, ele não
prestava muita atenção aos debates sobre meio ambiente. Chegou
a viver no mato, mas sem nenhuma motivação bucólica. Era mesmo falta de dinheiro. Quando
menino, na década de 40, vivia
na rua do Gado, em São Paulo,
num bairro verde, hoje conhecido
como Vila Nova Conceição -o
metro quadrado de área construída mais caro da cidade. Demoraria até surgir, ali nas imediações,
o parque Ibirapuera. "Os terrenos
lá eram muito baratos."
Apenas recentemente Augustin
Woelz foi seduzido pela energia
alternativa. Antes, depois de ter
fracassado como vendedor, ensinou pessoas a construir ultraleves, antenas coletivas e computadores. "O que eu gosto mesmo é
de ensinar a montar coisas."
Com esse prazer de experimentar e a habilidade de produzir e
encaixar peças, dedicou-se, na década de 90, a criar aparelhos de
energia solar. "Tudo o que existia
era caro." Não era um negócio,
mas um projeto comunitário, que
exigia voluntários.
Na busca de ajudantes, entrou
nas escolas para ensinar as crianças a disseminar a energia solar
em favelas. "É um jeito que elas
têm de aprender noções de química, física e biologia. Além disso, é
claro, elas se sentem importantes
fazendo isso." Como seu interesse
não é financeiro, disponibilizou
todo o manual num site (www.sociedadedosol.org.br). "Qualquer um pode fazer seu aparelho", aposta.
Quando a pessoa não consegue
entender o manual, ele oferece
cursos no Centro Incubador de
Empresas Tecnológicas da USP.
Seu objetivo é arregimentar
crianças, adolescentes e líderes
comunitários para instalar nas
favelas e bairros periféricos de todo o país esses sistemas de energia
solar. "É um jeito de economizar
dinheiro e, ao mesmo tempo, preservar a natureza."
E-mail - gdimen@uol.com.br
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