São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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URBANIDADE

Oficina do Sol

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Desenvolvidas na Universidade de São Paulo, as invenções do engenheiro eletrônico Augustin Woelz, de 62 anos, são tão simples que muitos de seus auxiliares são crianças, treinadas para disseminar tecnologia. "Uma criança é capaz de fabricar os aparelhos e ajudar os adultos a usá-los", orgulha-se.
Depois de anos de testes com materiais baratos, ele conseguiu criar sistemas de baixo custo de energia solar -um aparelho sai por até R$ 150 mensais. Nos seus cálculos, aliás, sairia de graça. "Em seis meses, com a economia de energia elétrica, todo o investimento estará pago." Devido a essas invenções, a USP decidiu dar-lhe um espaço no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas para que ele aprimorasse as descobertas e garantisse sua sustentabilidade econômica.
Até pouco tempo atrás, ele não prestava muita atenção aos debates sobre meio ambiente. Chegou a viver no mato, mas sem nenhuma motivação bucólica. Era mesmo falta de dinheiro. Quando menino, na década de 40, vivia na rua do Gado, em São Paulo, num bairro verde, hoje conhecido como Vila Nova Conceição -o metro quadrado de área construída mais caro da cidade. Demoraria até surgir, ali nas imediações, o parque Ibirapuera. "Os terrenos lá eram muito baratos."
Apenas recentemente Augustin Woelz foi seduzido pela energia alternativa. Antes, depois de ter fracassado como vendedor, ensinou pessoas a construir ultraleves, antenas coletivas e computadores. "O que eu gosto mesmo é de ensinar a montar coisas."
Com esse prazer de experimentar e a habilidade de produzir e encaixar peças, dedicou-se, na década de 90, a criar aparelhos de energia solar. "Tudo o que existia era caro." Não era um negócio, mas um projeto comunitário, que exigia voluntários.
Na busca de ajudantes, entrou nas escolas para ensinar as crianças a disseminar a energia solar em favelas. "É um jeito que elas têm de aprender noções de química, física e biologia. Além disso, é claro, elas se sentem importantes fazendo isso." Como seu interesse não é financeiro, disponibilizou todo o manual num site (www.sociedadedosol.org.br). "Qualquer um pode fazer seu aparelho", aposta.
Quando a pessoa não consegue entender o manual, ele oferece cursos no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas da USP. Seu objetivo é arregimentar crianças, adolescentes e líderes comunitários para instalar nas favelas e bairros periféricos de todo o país esses sistemas de energia solar. "É um jeito de economizar dinheiro e, ao mesmo tempo, preservar a natureza."

E-mail - gdimen@uol.com.br


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