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ESTRANHO NO PARAÍSO
Manoel da Silva, que foi tirado de praça da Vila Nova Conceição, deixou hospital psiquiátrico à noite
Morador de rua recebe alta e deixa o Pinel
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA
O morador de rua Manoel Menezes da Silva, internado desde o
dia 13 de maio no Hospital Psiquiátrico Pinel, em Pirituba (zona
norte de São Paulo), recebeu alta
ontem e foi levado para a Oficina
Boracea (centro), um abrigo para
populações de rua.
Menezes da Silva foi retirado no
último dia 10 da praça Pereira
Coutinho, na Vila Nova Conceição, zona sul, onde se encontram
os empreendimentos imobiliários com metro quadrado de área
construída mais caro de São Paulo. Levado ao Centro de Atenção
Integrada à Saúde Mental
(Caism) para avaliação psiquiátrica, recebeu diagnóstico de "demência" e foi encaminhado para
o Pinel, um hospital estadual.
Ontem, Reynaldo Mapelli Júnior e Anna Trotta Yaryd, promotores de Justiça do Grupo de
Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do Consumidor do
Ministério Público do Estado de
São Paulo, acompanhados do médico Ocimar Azzolini, da Vigilância Sanitária Estadual, chegaram
ao Pinel às 18h, para pedir esclarecimentos ao diretor do hospital,
Eduardo Guidolin, sobre a internação. Ficaram reunidos até
20h45, quando foi decidida a desinternação.
Na segunda-feira, o ministério
público instaurou inquérito para
apurar a legalidade da internação.
"Por tudo o que levantamos sobre
esse caso, não havia justificativa
alguma para a permanência do
senhor Manoel Menezes da Silva
na internação", disse o promotor
Mapelli Jr.
Anteontem, durante visita ao
morador de rua, o deputado estadual Adriano Diogo (PT) disse
que "a reclusão no hospital parece
obedecer a uma lógica higienista,
que pretende "limpar" a cidade
desse "incômodo social" que são
os moradores de rua, os mais excluídos entre os excluídos".
Ao dar alta para o paciente, o diretor do Pinel defendeu a internação. Disse que havia indícios sérios de que o morador de rua estivesse em um quadro "agudo" de
transtorno mental. Indagado sobre quais eram esses indícios,
Guidolin alegou impedimentos
éticos para descrevê-los.
Ao sair, Manoel Menezes da Silva usava um lenço enrolado na
cabeça -chovia e ele sentia frio
na cabeça recém-raspada. Sorrindo, dizia que queria ir para a avenida Afonso Brás, próxima à praça Pereira Coutinho. "Eu preciso
ir pra lá encontrar os meus amigos. Eles vão me dar um cobertor
para esse frio", disse.
Hoje, Manoel Menezes será entrevistado por assistentes sociais,
e encaminhado para sua família
ou para outro albergue.
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