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UM SONHO DE LIBERDADE
Mulher presa por tentar furtar xampu é solta após um ano e sete dias
"Pensei que jamais iria sair de lá"
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Primeiro, a empregada doméstica Maria Aparecida de
Matos, 24, achou que era mentira e riu. Depois, percebeu que
poderia ser verdade, mas continuou desconfiada. Só acreditou
mesmo quando avistou a irmã
mais velha.
Foi assim que Maria Aparecida narrou ontem os momentos
que viveu entre a notícia de que
seria libertada, dada por uma
funcionária, e o instante em
que, ao lado da irmã, cruzou os
portões de Hospital de Tratamento e Custódia de Franco da
Rocha (Grande São Paulo).
Ela ficou exatos um ano e sete
dias na cadeia sob acusação de
ter tentado furtar um xampu e
um condicionador, no valor de
R$ 24. Na prisão, diz ter sido torturada por outras presas e funcionários do Cadeião de Pinheiros (zona oeste de São Paulo)
-só depois foi transferida para
Franco da Rocha.
"Pensei que jamais iria sair de
lá, como todos ali [os presos]
pensam. Não queria virar patrimônio [como é chamado o preso com muitos anos de manicômio judiciário]", afirmou Maria
Aparecida. "Se não fosse minha
família, jamais sairia de lá."
Ela foi solta depois que o STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
concedeu liminar anteontem,
estabelecendo a liberdade, a
partir de um habeas corpus impetrado pela PAJ (Procuradoria
de Assistência Judiciária). O ministro Paulo Gallotti aceitou a
argumentação do princípio da
insignificância - jurisprudência que prevê suspensão da ação
nos crimes de valor irrisório,
sem violência ou ameaça.
A prisão de Maria Aparecida
mobilizou entidades como a
Pastoral Carcerária e a Acat
(Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura). A 2ª Vara Criminal da Capital e o Tribunal de
Justiça de São Paulo negaram
pedidos anteriores de soltura.
"Agora só quero cuidar dos
meus dois filhos, arrumar um
emprego e estudar", disse Maria
Aparecida, que começou a se alfabetizar na prisão. Segundo a
irmã dela, Gislene de Matos, 30,
a família vai processar o Estado
por danos morais por causa da
agressão sofrida na cadeia. "É
um descaso total do Poder Judiciário. Jogaram minha irmã na
prisão como se ela fosse um objeto qualquer", afirmou Gislene.
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