São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

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SAÚDE / TERCEIRA IDADE

Idosos utilizam jogos para tentar manter mente ativa

Produtos oferecem "treinamento cerebral" com intuito de melhorar memória

Na opinião de neurologista, há benefícios, mas melhora na atenção e na memória fica restrita à atividade proposta no jogo

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Manter a cabeça ativa é uma estratégia para evitar a perda de memória em idosos e minimizar ou adiar o aparecimento de demências. Apostando nisso, empresas de eletrônicos têm colocado no mercado jogos on-line ou de videogame voltados a esse público.
Atividades que antes eram feitas apenas no papel, como cruzadinhas, sudoku e variados exercícios para treinar a mente agora podem ser feitos em aparelhos eletrônicos.
Diversas pesquisas foram realizadas para comprovar os benefícios dos jogos. Muitas delas, com patrocínio das próprias empresas fabricantes. Porém, médicos ligados à saúde dos idosos ouvidos pela Folha questionaram até que ponto os produtos podem melhorar o funcionamento cognitivo.
Eles defendem que os jogos e outras atividades ajudam a preservar a mente, mas que os benefícios são restritos.

Produtos
Uma das empresas a perceber o filão foi a Nintendo, que lançou jogos como o Brain Age. Nele, o usuário pode acompanhar uma partitura, identificando as notas, fazer o troco de valores em dinheiro, escrever as palavras que escuta e memorizar uma ordem de números para depois lembrá-la.
Conforme o desempenho, o jogo diz se o cérebro do usuário está em forma ou não.
Depois dele, a linha "brain gym" (ginástica cerebral) ganhou concorrentes, como o MindFit e o Brain Fitness Program. Este último, vendido nos EUA, tem como slogan "seus netos irão lhe agradecer". Já o MindFit foi tema de uma pesquisa recente sobre jogos. Divulgada em 2007 por pesquisadores em Israel, ela mostrou que os usuários do MindFit e de videogames clássicos tiveram melhoras na memória especial de curto prazo e na atenção. O estudo foi patrocinado pela fabricante CogniFit e envolveu 121 voluntários.
Mas foi outra pesquisa, divulgada em 2006, que chamou em especial a atenção dos médicos.
Comandada por institutos de saúde do governo americano, o estudo avaliou 2.832 pessoas e constatou que os que receberam treinamento de raciocínio, treino de velocidade ou memória tiveram desempenhos melhores em exercícios que um grupo controle -que não recebeu treinamento. Eles foram melhores até cinco anos depois.
Os resultados vão no mesmo sentido do que diz Carlos Paixão, da Sociedade de Geriatria do Rio de Janeiro. Para ele, jogos e outras atividades "podem melhorar a memória nessas pessoas que têm transtornos cognitivos que não são considerados demência".
Porém, segundo ele, não há nenhum trabalho realmente sério até hoje que mostre que a estimulação cognitiva previna o aparecimento de demências. Sonia Brucki, médica da Academia Brasileira de Neurologia, também diz que jogos eletrônicos têm a mesma propriedade que outras atividades por manterem a mente da pessoa ativa de alguma forma.
"A atividade pode ajudar aumentando as sinapses entre os neurônios. Ajuda a evitar a perda de memória e algumas doenças degenerativas e pode postergar o aparecimento de outras. Mas não pode ser em excesso. E se o paciente tiver que ter uma doença como o Alzheimer, vai ter de qualquer jeito."
Sonia diz que, treinando com jogos, o usuário pode ficar mais veloz em perceber um estímulo visual na tela, mas isso não quer dizer que ficará mais rápido em outras atividades do cotidiano. "Quem garante que vai deixar o reflexo mais rápido no carro. É muito mais interessante tentar lembrar uma notícia do que ficar lendo um computador", afirma. Entre as atividades recomendadas pela médica estão palavra-cruzada, sudoku e jogo da memória.
On-line
Além do videogame, a internet é também terreno vasto para proliferação desse tipo de jogos, a maioria voltados ao público em geral. Um deles, o www.brainbuilder.com promete resultados em poucos meses. Há também sites em português com jogos de raciocínio, sem a promessa de melhorar a memória, entre eles o http://rachacuca.com.br/.


Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI, da Reportagem Local

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