São Paulo, domingo, 25 de junho de 2000


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VIDA DE SOLTEIRO
De 81 para 98, número de pessoas solitárias cresceu em ritmo quatro vezes superior ao da população
3,8 milhões moram sozinhos no Brasil

ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Está aumentando o número de pessoas no Brasil que moram sozinhas. De 1981 para 1998, o número de brasileiros que residem sós cresceu num ritmo quatro vezes superior ao da população.
Em 1981, o Brasil tinha 119 milhões de habitantes, dos quais 1,6 milhão morava sozinho. Em 1998, os brasileiros chegaram a 158 milhões, um aumento de 32%, enquanto os que moram sozinhos já eram 3,8 milhões, representando um aumento de 137%.
Em 1988, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios, 7% das famílias eram constituídas por apenas uma pessoa.
Os últimos levantamentos do IBGE, presentes na Síntese de Indicadores Sociais de 1999, mostram que as famílias unipessoais já representavam 8,5% do total, ou seja, 3,8 milhões de brasileiros.
As regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de Porto Alegre são as que mais concentram pessoas nessa situação.
No Rio, 12,3% das famílias, o equivalente a 415 mil pessoas, são de uma pessoa apenas. Em Porto Alegre, esse número é de 130 mil habitantes, o que representa 12,2% do total das famílias.
Para o chefe do Departamento de Pesquisa e Indicadores Sociais do IBGE, Luiz Antônio de Oliveira, os fatores que podem explicar essa tendência são a modernização dos relacionamentos, a ampliação da oferta de serviços para esse grupo e o envelhecimento da população brasileira, principalmente das mulheres.
Carioca moradora de Copacabana, Lisete Santos, 75, talvez seja o melhor exemplo do que se refere Oliveira. Ela é viúva, tem três filhos e mora só há 22 anos, desde que seu marido morreu.
Apesar da morte do marido, ela não se abateu, começou um novo relacionamento quatro anos após ter ficado viúva e hoje namora um homem três anos mais velho.
"Mas sou eu aqui e ele lá. Não quero morar junto de novo. Gosto de ter liberdade. Quando sinto saudade ou algum ciúme, pego o telefone e ligo para ele", diz Lisete.
Ela mora sozinha por opção própria, tem uma vida social relativamente agitada (faz trabalhos voluntários, viaja com grupos de terceira idade e administra os imóveis do falecido marido) e não troca os passeios pelo calçadão da praia por nada.
Como Lisete, há também mulheres mais novas que não querem abrir mão da liberdade em casa. "Já há muitas mulheres vivendo sozinhas, sobretudo da classe média. Elas preferem não casar cedo, entram no mercado de trabalho e não vivem na casa dos pais", explica Oliveira.
A oferta de serviços, principalmente para consumidores de classe média, tem facilitado a vida dos que moram sós, apesar de ainda haver reclamações a respeito da falta de produtos nas prateleiras de supermercados para famílias de uma só pessoa.
"Está acontecendo no Brasil o mesmo que aconteceu há 20 anos na França. Estamos aumentando o número de produtos vendidos em embalagens menores para serem consumidos por apenas uma pessoa", afirma Pierre Brisset, diretor de marketing e comunicação do Carrefour.
Apesar do aumento no número de produtos para uma pessoa só em supermercados, uma das queixas mais comuns dos solteiros é que ainda há muito pouca variedade nas prateleiras.
"Eu acabo comendo na rua ou pedindo pizza. Os produtos que compro no supermercado acabam quase sempre estragando porque as embalagens vêm em grande quantidade", diz Cristiane Gonçalves, 21, que mora há dois anos sozinha, desde que saiu de Piracicaba para estudar artes plásticas em São Paulo.
Morar sozinho, sinônimo de liberdade para muitos, pode trazer também algumas preocupações. Para a pesquisadora em nutrição da USP Jocelen Salgado, pessoas que moram sozinhas precisam se preocupar mais com a qualidade da alimentação.
"Quem mora sozinho dificilmente faz a própria comida e acaba preferindo se alimentar na rua, comendo produtos com mais gordura", diz Jocelen.
No caso dos idosos que moram sós, a preocupação é maior ainda. "É muito comum casos de idosos que se machucam seriamente em casa após levar um tombo, e a situação se agrava porque não têm ninguém para socorrê-los imediatamente", afirma o médico Marcelo Galdino Campos, que tem consultório no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio, o campeão de concentração de idosos na cidade.
Além da má alimentação e do risco de acidentes, no caso de idosos, os médicos que atendem pessoas que moram sós contam que há muitos casos de depressão causada pela solidão.
"A depressão é muito comum na terceira idade, principalmente entre os que moram sozinhos. Nessa população, a doença chega a atingir de 20% a 30% dos idosos. É sempre recomendável que eles não deixem de ter um grupo de amigos", afirma João Toniolo Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria de São Paulo.


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