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VIDA DE SOLTEIRO
De 81 para 98, número de pessoas solitárias cresceu em ritmo quatro vezes superior ao da população
3,8 milhões moram sozinhos no Brasil
ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Está aumentando o número de
pessoas no Brasil que moram sozinhas. De 1981 para 1998, o número de brasileiros que residem
sós cresceu num ritmo quatro vezes superior ao da população.
Em 1981, o Brasil tinha 119 milhões de habitantes, dos quais 1,6
milhão morava sozinho. Em 1998,
os brasileiros chegaram a 158 milhões, um aumento de 32%, enquanto os que moram sozinhos já
eram 3,8 milhões, representando
um aumento de 137%.
Em 1988, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostragem
por Domicílios, 7% das famílias
eram constituídas por apenas
uma pessoa.
Os últimos levantamentos do
IBGE, presentes na Síntese de Indicadores Sociais de 1999, mostram que as famílias unipessoais
já representavam 8,5% do total,
ou seja, 3,8 milhões de brasileiros.
As regiões metropolitanas do
Rio de Janeiro e de Porto Alegre
são as que mais concentram pessoas nessa situação.
No Rio, 12,3% das famílias, o
equivalente a 415 mil pessoas, são
de uma pessoa apenas. Em Porto
Alegre, esse número é de 130 mil
habitantes, o que representa
12,2% do total das famílias.
Para o chefe do Departamento
de Pesquisa e Indicadores Sociais
do IBGE, Luiz Antônio de Oliveira, os fatores que podem explicar
essa tendência são a modernização dos relacionamentos, a ampliação da oferta de serviços para
esse grupo e o envelhecimento da
população brasileira, principalmente das mulheres.
Carioca moradora de Copacabana, Lisete Santos, 75, talvez seja
o melhor exemplo do que se refere Oliveira. Ela é viúva, tem três filhos e mora só há 22 anos, desde
que seu marido morreu.
Apesar da morte do marido, ela
não se abateu, começou um novo
relacionamento quatro anos após
ter ficado viúva e hoje namora um
homem três anos mais velho.
"Mas sou eu aqui e ele lá. Não
quero morar junto de novo. Gosto de ter liberdade. Quando sinto
saudade ou algum ciúme, pego o
telefone e ligo para ele", diz Lisete.
Ela mora sozinha por opção
própria, tem uma vida social relativamente agitada (faz trabalhos
voluntários, viaja com grupos de
terceira idade e administra os
imóveis do falecido marido) e não
troca os passeios pelo calçadão da
praia por nada.
Como Lisete, há também mulheres mais novas que não querem abrir mão da liberdade em
casa. "Já há muitas mulheres vivendo sozinhas, sobretudo da
classe média. Elas preferem não
casar cedo, entram no mercado
de trabalho e não vivem na casa
dos pais", explica Oliveira.
A oferta de serviços, principalmente para consumidores de
classe média, tem facilitado a vida
dos que moram sós, apesar de
ainda haver reclamações a respeito da falta de produtos nas prateleiras de supermercados para famílias de uma só pessoa.
"Está acontecendo no Brasil o
mesmo que aconteceu há 20 anos
na França. Estamos aumentando
o número de produtos vendidos
em embalagens menores para serem consumidos por apenas uma
pessoa", afirma Pierre Brisset, diretor de marketing e comunicação do Carrefour.
Apesar do aumento no número
de produtos para uma pessoa só
em supermercados, uma das
queixas mais comuns dos solteiros é que ainda há muito pouca
variedade nas prateleiras.
"Eu acabo comendo na rua ou
pedindo pizza. Os produtos que
compro no supermercado acabam quase sempre estragando
porque as embalagens vêm em
grande quantidade", diz Cristiane
Gonçalves, 21, que mora há dois
anos sozinha, desde que saiu de
Piracicaba para estudar artes
plásticas em São Paulo.
Morar sozinho, sinônimo de liberdade para muitos, pode trazer
também algumas preocupações.
Para a pesquisadora em nutrição
da USP Jocelen Salgado, pessoas
que moram sozinhas precisam se
preocupar mais com a qualidade
da alimentação.
"Quem mora sozinho dificilmente faz a própria comida e acaba preferindo se alimentar na rua,
comendo produtos com mais
gordura", diz Jocelen.
No caso dos idosos que moram
sós, a preocupação é maior ainda.
"É muito comum casos de idosos
que se machucam seriamente em
casa após levar um tombo, e a situação se agrava porque não têm
ninguém para socorrê-los imediatamente", afirma o médico
Marcelo Galdino Campos, que
tem consultório no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio, o
campeão de concentração de idosos na cidade.
Além da má alimentação e do
risco de acidentes, no caso de idosos, os médicos que atendem pessoas que moram sós contam que
há muitos casos de depressão
causada pela solidão.
"A depressão é muito comum
na terceira idade, principalmente
entre os que moram sozinhos.
Nessa população, a doença chega
a atingir de 20% a 30% dos idosos.
É sempre recomendável que eles
não deixem de ter um grupo de
amigos", afirma João Toniolo Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria de São Paulo.
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