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Após punição, meta é mudar escala de vôos
Governo avalia que pousos e decolagens concentrados nos horários de pico terão que ser distribuídos para outros períodos
Empresas aéreas resistem à mudança; ontem, os vôos com atraso representavam 5,1% do total do país, segundo balanço até 19h47
MARTA SALOMON
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo avalia que o teste
do plano de emergência adotado para conter o caos nos aeroportos será nesta semana e vai
iniciar negociações com as
companhias aéreas para mudar
os planos de vôo. Dirigentes das
empresas foram convidados
para reunião hoje com o ministro Waldir Pires (Defesa).
A avaliação feita no governo é
que o número de pousos e decolagens nos horários de pico
terá de ser adaptado à capacidade atual de controle de tráfego. As companhias aéreas, que
montaram seus planos com base em estratégias de mercado,
resistem a mudar horários.
O presidente Lula foi informado pelo Comando da Aeronáutica de que o plano de emergência conseguiu normalizar o
movimento dos aeroportos no
fim de semana, principalmente
ontem à noite, quando o tráfego aéreo é mais intenso. A avaliação transmitida a Lula é que
acabou acontecendo o "melhor
dos cenários" previstos.
Balanço da Infraero indicava
que, da 0h às 19h47 de ontem,
dos 1.271 vôos programados em
todo o país, 66 (5,1%) partiram
com atraso superior a uma hora
e 68 (5,3%) foram cancelados.
No sábado, entre 0h e 19h30,
havia 276 vôos (21,6%) atrasados e 64 (5%) cancelados entre
os 1.275 programados.
O governo, porém, ainda está
cauteloso. Nas palavras de um
assessor presidencial, não é
possível "cantar vitória". Antes,
será necessário aguardar o movimento durante esta semana
para ter uma avaliação definitiva, principalmente se não haverá novos focos de "insubordinação" entre os controladores.
Segundo a Folha apurou, se
tudo correr bem ao longo desta
semana, o presidente pode assinar na semana seguinte a medida provisória que concede
gratificação aos controladores.
O texto da MP, inclusive, já
está pronto. Só falta a assinatura presidencial. Ou seja, Lula
quer usá-la como instrumento
de pressão sobre os controladores, para que eles voltem a
trabalhar normalmente.
Lula quer "ter certeza", segundo um auxiliar, de que não
vão acontecer novos problemas com controladores, como
chegou a ocorrer no Cindacta-4, em Manaus (AM).
Segundo relatos de operadores, 22 controladores -todos
sargentos- foram substituídos
por não terem condições psicológicas de trabalhar depois de
sofrer coações de chefes para
monitor mais de 14 vôos.
Os substitutos dos operadores do Cindacta-4 são controladores da defesa aérea.
A Força Aérea enviou de
Anápolis (GO) para Manaus
uma equipe extra, mas que acabou não sendo utilizada.
Na sexta-feira, a Aeronáutica
afastou 14 sargentos do Cindacta-1, o centro de monitoramento de vôo de Brasília.
Durante o final de semana,
controladores de defesa aérea,
que até sexta cuidavam exclusivamente de aviões militares, já
ocuparam alguns postos de
controle dos aviões civis. Não
foi divulgado o número de
substituições no Cindacta-1.
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores
em Proteção de Vôo (que representa os civis que operam
em tráfego aéreo), Jorge Botelho, o plano de emergência do
governo se resumiu, até aqui, à
ameaça de novas punições.
Segundo Botelho, o plano
não teria resposta para momentos de fluxo mais intenso.
O Comando da Aeronáutica
informou, ontem à noite, que,
de fato, não há previsão para a
entrada em vigor do novo minicentro de controle no morro de
Santa Tereza (ES). Anunciado
entre as medidas do plano de
emergência na sexta, o centro
desafogaria parte do trabalho
do Cindacta-1, referente ao tráfego no eixo Rio-São Paulo.
É justamente nessa área que
se concentram as preocupações do governo. O objetivo é
reduzir a concentração de vôos
nos horários e aeroportos de
maior movimento.
Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em
Manaus
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