São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2007

Próximo Texto | Índice

Após punição, meta é mudar escala de vôos

Governo avalia que pousos e decolagens concentrados nos horários de pico terão que ser distribuídos para outros períodos

Empresas aéreas resistem à mudança; ontem, os vôos com atraso representavam 5,1% do total do país, segundo balanço até 19h47

MARTA SALOMON
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo avalia que o teste do plano de emergência adotado para conter o caos nos aeroportos será nesta semana e vai iniciar negociações com as companhias aéreas para mudar os planos de vôo. Dirigentes das empresas foram convidados para reunião hoje com o ministro Waldir Pires (Defesa).
A avaliação feita no governo é que o número de pousos e decolagens nos horários de pico terá de ser adaptado à capacidade atual de controle de tráfego. As companhias aéreas, que montaram seus planos com base em estratégias de mercado, resistem a mudar horários.
O presidente Lula foi informado pelo Comando da Aeronáutica de que o plano de emergência conseguiu normalizar o movimento dos aeroportos no fim de semana, principalmente ontem à noite, quando o tráfego aéreo é mais intenso. A avaliação transmitida a Lula é que acabou acontecendo o "melhor dos cenários" previstos.
Balanço da Infraero indicava que, da 0h às 19h47 de ontem, dos 1.271 vôos programados em todo o país, 66 (5,1%) partiram com atraso superior a uma hora e 68 (5,3%) foram cancelados.
No sábado, entre 0h e 19h30, havia 276 vôos (21,6%) atrasados e 64 (5%) cancelados entre os 1.275 programados.
O governo, porém, ainda está cauteloso. Nas palavras de um assessor presidencial, não é possível "cantar vitória". Antes, será necessário aguardar o movimento durante esta semana para ter uma avaliação definitiva, principalmente se não haverá novos focos de "insubordinação" entre os controladores.
Segundo a Folha apurou, se tudo correr bem ao longo desta semana, o presidente pode assinar na semana seguinte a medida provisória que concede gratificação aos controladores.
O texto da MP, inclusive, já está pronto. Só falta a assinatura presidencial. Ou seja, Lula quer usá-la como instrumento de pressão sobre os controladores, para que eles voltem a trabalhar normalmente.
Lula quer "ter certeza", segundo um auxiliar, de que não vão acontecer novos problemas com controladores, como chegou a ocorrer no Cindacta-4, em Manaus (AM). Segundo relatos de operadores, 22 controladores -todos sargentos- foram substituídos por não terem condições psicológicas de trabalhar depois de sofrer coações de chefes para monitor mais de 14 vôos.
Os substitutos dos operadores do Cindacta-4 são controladores da defesa aérea. A Força Aérea enviou de Anápolis (GO) para Manaus uma equipe extra, mas que acabou não sendo utilizada.
Na sexta-feira, a Aeronáutica afastou 14 sargentos do Cindacta-1, o centro de monitoramento de vôo de Brasília. Durante o final de semana, controladores de defesa aérea, que até sexta cuidavam exclusivamente de aviões militares, já ocuparam alguns postos de controle dos aviões civis. Não foi divulgado o número de substituições no Cindacta-1.
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção de Vôo (que representa os civis que operam em tráfego aéreo), Jorge Botelho, o plano de emergência do governo se resumiu, até aqui, à ameaça de novas punições.
Segundo Botelho, o plano não teria resposta para momentos de fluxo mais intenso.
O Comando da Aeronáutica informou, ontem à noite, que, de fato, não há previsão para a entrada em vigor do novo minicentro de controle no morro de Santa Tereza (ES). Anunciado entre as medidas do plano de emergência na sexta, o centro desafogaria parte do trabalho do Cindacta-1, referente ao tráfego no eixo Rio-São Paulo.
É justamente nessa área que se concentram as preocupações do governo. O objetivo é reduzir a concentração de vôos nos horários e aeroportos de maior movimento.


Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em Manaus


Próximo Texto: Controlador aposta em pressão do exterior
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.