São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2007

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Controlador aposta em pressão do exterior

Categoria busca mobilizar entidades que poderão rebaixar a classificação de segurança do espaço aéreo brasileiro

Profissionais punidos também decidem destacar novas lideranças civis com "blindagem" contra as punições dos militares

ALENCAR IZIDORO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os controladores de vôo punidos pela Aeronáutica decidiram destacar novas lideranças civis, com "blindagem" contra as punições da carreira militar, para tentar manter acesas as reivindicações da categoria e a operação-padrão dos profissionais nos aeroportos do Brasil.
Eles apostam na repercussão internacional da crise e devem pressionar entidades internacionais, como a Icao (sigla em inglês para Organização de Aviação Civil Internacional), a reconhecer deficiências e rebaixar a classificação de segurança do espaço aéreo do país.
Depois da seqüência de transtornos aos passageiros entre quarta e a manhã de sábado, os controladores avaliavam que a normalização ontem do movimento nos aeroportos estava ligada à queda do fluxo e afirmam que os atrasos voltarão.
Dois líderes punidos disseram à Folha que devem se afastar de mobilizações para evitar processos que levariam à expulsão pela Força Aérea Brasileira. No fim de semana, alguns se comunicavam por mensagens de texto e celular -embora digam estar "grampeados".
A estratégia discutida foi a de passar a liderança a controladores civis isentos das retaliações militares. Além de Jorge Botelho, presidente do sindicato dos trabalhadores na proteção ao vôo, dois nomes foram citados para representá-los.
Um deles, Sérgio Marques, 34, já preside a associação dos controladores do aeroporto de Guarulhos, na Grande SP.
Ele foi nomeado porta-voz da Febracta (Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo) diante do anúncio da prisão do presidente, Carlos Trifílio, que atuava em Congonhas, e do vice-presidente Moisés Almeida, de Brasília -ambos militares.
Marques viaja hoje ao Distrito Federal para se reunir com controladores do país e da América do Sul que participam de um seminário amanhã.
Outra liderança em ascensão é Ricardo Sterchele, secretário-executivo da Febracta, que trabalha em Cumbica. Nesta semana, uma reunião vai discutir um comando interino e civil da federação que, desde 2005, quando criada, é presidida pelo militar Trifílio (que teve negada ontem liminar para suspender sua prisão administrativa).
Os controladores reivindicam a desmilitarização da atividade, investimentos em aparelhos e melhorias salariais.
O ponto fraco principal das novas lideranças é a falta de representatividade na categoria -os civis são menos de 20% dos controladores de vôo.

Estratégia
Para reforçar a pressão internacional, a estratégia dos controladores envolve a Ifatca -federação internacional que reúne mais de 50 mil profissionais da categoria em 125 países.
A entidade já repudiou as medidas anunciadas na última sexta. Christoph Gilgen, representante da Ifatca na Suíça, avalia que os punidos são justamente os mais experientes.
Entre as deficiências apontadas por ele nos profissionais brasileiros está a falta de conhecimento do idioma inglês, além do tempo para um controlador obter uma licença da Icao. "Enquanto na Europa isso pode levar até quatro anos, no Brasil ela é obtida em um ano."
Segundo Gilgen, a segurança de vôo na América do Sul é três vezes pior que nos EUA. "Os modelos norte-americano, europeu e japonês são considerados "top". Os menos seguros são Rússia, África e América do Sul." O continente sul-americano só ganha da África, que é considerada quatro vezes pior que os EUA, afirma ele.
A Ifatca já informou que estuda declarar insegura a situação do espaço aéreo brasileiro. A repercussão mais esperada, porém, envolve uma reunião da Icao neste ano, na qual a federação poderia tentar pressionar para a retirada do Brasil de um grupo de países com maior autonomia para vôos no exterior.


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