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Controlador aposta em pressão do exterior
Categoria busca mobilizar entidades que poderão rebaixar a classificação de segurança do espaço aéreo brasileiro
Profissionais punidos também decidem destacar novas lideranças civis com "blindagem" contra as punições dos militares
ALENCAR IZIDORO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Os controladores de vôo punidos pela Aeronáutica decidiram destacar novas lideranças
civis, com "blindagem" contra
as punições da carreira militar,
para tentar manter acesas as
reivindicações da categoria e a
operação-padrão dos profissionais nos aeroportos do Brasil.
Eles apostam na repercussão
internacional da crise e devem
pressionar entidades internacionais, como a Icao (sigla em
inglês para Organização de
Aviação Civil Internacional), a
reconhecer deficiências e rebaixar a classificação de segurança do espaço aéreo do país.
Depois da seqüência de
transtornos aos passageiros entre quarta e a manhã de sábado,
os controladores avaliavam que
a normalização ontem do movimento nos aeroportos estava
ligada à queda do fluxo e afirmam que os atrasos voltarão.
Dois líderes punidos disseram à Folha que devem se afastar de mobilizações para evitar
processos que levariam à expulsão pela Força Aérea Brasileira. No fim de semana, alguns
se comunicavam por mensagens de texto e celular -embora digam estar "grampeados".
A estratégia discutida foi a de
passar a liderança a controladores civis isentos das retaliações militares. Além de Jorge
Botelho, presidente do sindicato dos trabalhadores na proteção ao vôo, dois nomes foram
citados para representá-los.
Um deles, Sérgio Marques,
34, já preside a associação dos
controladores do aeroporto de
Guarulhos, na Grande SP.
Ele foi nomeado porta-voz
da Febracta (Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo)
diante do anúncio da prisão do
presidente, Carlos Trifílio, que
atuava em Congonhas, e do vice-presidente Moisés Almeida,
de Brasília -ambos militares.
Marques viaja hoje ao Distrito Federal para se reunir com
controladores do país e da
América do Sul que participam
de um seminário amanhã.
Outra liderança em ascensão
é Ricardo Sterchele, secretário-executivo da Febracta, que trabalha em Cumbica. Nesta semana, uma reunião vai discutir
um comando interino e civil da
federação que, desde 2005,
quando criada, é presidida pelo
militar Trifílio (que teve negada ontem liminar para suspender sua prisão administrativa).
Os controladores reivindicam a desmilitarização da atividade, investimentos em aparelhos e melhorias salariais.
O ponto fraco principal das
novas lideranças é a falta de representatividade na categoria
-os civis são menos de 20%
dos controladores de vôo.
Estratégia
Para reforçar a pressão internacional, a estratégia dos controladores envolve a Ifatca -federação internacional que reúne mais de 50 mil profissionais
da categoria em 125 países.
A entidade já repudiou as
medidas anunciadas na última
sexta. Christoph Gilgen, representante da Ifatca na Suíça,
avalia que os punidos são justamente os mais experientes.
Entre as deficiências apontadas por ele nos profissionais
brasileiros está a falta de conhecimento do idioma inglês,
além do tempo para um controlador obter uma licença da
Icao. "Enquanto na Europa isso
pode levar até quatro anos, no
Brasil ela é obtida em um ano."
Segundo Gilgen, a segurança
de vôo na América do Sul é três
vezes pior que nos EUA. "Os
modelos norte-americano, europeu e japonês são considerados "top". Os menos seguros são
Rússia, África e América do
Sul." O continente sul-americano só ganha da África, que é
considerada quatro vezes pior
que os EUA, afirma ele.
A Ifatca já informou que estuda declarar insegura a situação do espaço aéreo brasileiro.
A repercussão mais esperada,
porém, envolve uma reunião da
Icao neste ano, na qual a federação poderia tentar pressionar
para a retirada do Brasil de um
grupo de países com maior autonomia para vôos no exterior.
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