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CLARICE OSÓRIO TEIXEIRA (1915-2009)
A tia Cinha do orfanato fazia maçãs do amor
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Resta um único casarão
naquela quadra que dá para a
av. Paulista. Fica no 954 da
rua Bela Cintra, onde viveu
por toda a vida -exatos 93
anos e dez meses- Clarice
Osório Teixeira, professora.
Ela morreu domingo, de
insuficiência cardíaca. Não
foi casada; não deixa filhos.
Até sexta-feira, ainda dava
aulas. Conta a sobrinha Marilia que tia Cinha, como era
chamada, estava alfabetizando a sobrinha da enfermeira
que cuidava dela. Ao pedreiro da casa também ensinou a
ler e a escrever.
Por mais de 30 anos, foi
professora num orfanato
chamado Lar da Infância,
que ficava na avenida Angélica. Gostava tanto do que fazia, que costumava festejar o
próprio aniversário no local.
Dedicada, preocupava-se
até com o que as crianças
queriam comer. "Teve um
ano em que passamos um
domingo inteiro preparando
maçãs, porque as crianças
queriam maçãs do amor",
lembra a sobrinha.
Explicava assim sua vocação: "Os ricos não precisam
de mim, eu ajudo a resolver
os problemas dos pobres".
Clarice também foi professora do tradicional externato
Elvira Brandão. Era muito
religiosa -evangélica-, e
gostava de pintar porcelana e
de se distrair com crochê
-tinha acabado de fazer uma
toalhinha. Bem-humorada,
"nunca a viram brigar".
Estava sempre em contato
com seus ex-alunos, alguns
já com netos. Duas das crianças da época do orfanato estiveram em seu enterro.
obituario@grupofolha.com.br
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