São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2010

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Moradores reviram lixo atrás de comida

Em Palmares (PE), grupo disputa produtos cheios de lama, como biscoitos, em mercado destruído pelas águas

Cheias causam alta dos preços de alimentos, água e produtos básicos; também faltam remédios nas farmácias


ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PALMARES (PE)

O desespero dos moradores de Palmares (PE), uma das cidades mais devastadas pelas chuvas, é tão grande que muitos reviram escombros em busca de comida.
Ontem, um grupo tentava salvar o que podia do lixo de um supermercado destruído pelas águas. Na cidade, a 129 km de Recife, 5.550 pessoas tiveram de deixar suas casas.
Enquanto funcionários retiravam lama, entulhos e produtos avariados, dezenas reviravam os restos chafurdados no lodo. Muitos se espremiam em frente às grades da porta pedindo para que os produtos fossem jogados em cestas para ser reutilizados.
Josineire Maria de Souza, 37, enchia uma sacola com pacotes de macarrão e de goiabada. Sua sobrinha, de 12 anos, abria pacotes de biscoitos cobertos de lama.
A briga maior era por latas de goiabada e leite em pó. Mas até saquinhos de leite sem refrigeração há quase uma semana eram limpos na barra da saia e recolhidos.
"É um horror ter que remexer esse lixo, mas não temos saída", disse Maria Carmelina de Lima, 59.

INFLAÇÃO
As cheias trouxeram ainda um efeito colateral amargo: a alta dos preços de alimentos e produtos básicos. Também faltam medicamentos.
Em Palmares e na vizinha Barreiros, ouvem-se queixas. O galão de água chega a R$ 10 -antes, era R$ 4.
Ainda sem energia, uma vela simples é vendida na Venda do Riuna, em Barreiros, por R$ 2. "Era o preço de um pacote inteiro", diz o morador Itaci Saldanha.
O pacote de macarrão custa R$ 4, o dobro do valor da última semana. Botas para enfrentar a lama chegam a R$ 50. Quem não pode pagar usa sacos plásticos nos pés.
Segundo comerciantes, a "inflação" se deve à perda de estoques e ao fechamento dos mercados. "Precisamos reforçar a segurança com medo de saques", diz Josué Ribeiro, do Mercado Central.
Em Barreiros, o Mercado da Cida espera que os estoques comecem a normalizar amanhã, com a chegada de produtos e a volta da luz.


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