São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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SISTEMA PRISIONAL

Segundo inquérito, detento foi solto por carcereiros e, após cometer crime, retornou à prisão em Ribeirão Preto

Preso sai da cadeia para matar inimigo

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Um detento da cadeia de Vila Branca, em Ribeirão Preto (314 km de SP), deixou a unidade, possivelmente com a ajuda de carcereiros, e matou um inimigo que estava em liberdade. Após cometer o crime, retornou à prisão.
O fato ocorreu em março de 2000, mas o inquérito só foi concluído no final do mês passado e chegou à Corregedoria da Polícia ontem. O relatório do delegado Samuel Antônio Zanferdini, que realizou as investigações, aponta o detento Edson dos Santos como autor dos disparos.
Três carcereiros estão sendo investigados pela Corregedoria e também pelo Ministério Público. Um deles, Márcio José Brasileiro, 33, também é acusado de facilitar a entrada de barris de chope aos presos da unidade durante um churrasco.
Os outros dois, Donizete Aparecido Pereira e Carlos Eduardo Alonso de Barros, continuam trabalhando no local.
Esse é o terceiro caso neste ano em que funcionários da cadeia são acusados de promover facilidades a presos. No começo do ano, dois barris do chope foram encontrados em uma das celas e, no começo desta semana, gravações telefônicas apontaram a entrega de pizza e droga a eles.
Segundo a polícia, o preso Edson dos Santos, conhecido como "Formigão", saiu de Vila Branca no dia 18 de março de 2000 e, na companhia de outras duas pessoas, matou a tiros Márcio Pereira de Souza, em um lava-jato, no centro de Ribeirão.
A mulher da vítima, que não foi identificada, reconheceu o presidiário como o autor dos disparos. Após praticar o crime, o acusado voltou para a cela onde cumpria pena por homicídio. O total da pena não foi informado.
Santos também é suspeito de matar o filho de Souza, fato que ele nega à polícia.
O crime aconteceu em um sábado e, na segunda-feira, os policiais submeteram "Formigão" a um exame residuográfico. O exame comprovou a existência de pólvora na mão do detento.
O inquérito sobre o caso só terminou no dia 25 de junho passado, quando um relatório do delegado Zanferdini foi apresentado ao delegado seccional José Manoel de Oliveira. Cópias também foram entregues à Promotoria. "Nós fornecemos os elementos e pedimos para que eles sejam denunciados, que seja decretada a prisão preventiva", afirmou o delegado seccional.
O corregedor de Ribeirão, Jayme Ribeiro da Silva Filho, foi procurado ontem para comentar o assunto, mas ele disse que desconhecia o caso. O promotor Sebastião Sérgio da Silveira, que também investiga o caso, não foi encontrado.
Zanferdini afirmou que a demora para a conclusão do inquérito ocorreu em razão dos depoimentos e dos exames solicitados na investigação.
Ainda segundo ele, há indícios da participação dos funcionários no crime, mas a responsabilidade de cada um vai ser apurada pela corregedoria. "Com certeza teve a conivência de alguém", disse.
O juiz corregedor dos presídios de Ribeirão, Luís Augusto Freire Teotônio, disse ontem ter conhecimento do assunto, mas não poderia fazer comentários.
O delegado Oliveira afastou ontem o diretor-adjunto da cadeia de Vila Branca, Marcelo Velludo Garcia de Lima, e um carcereiro identificado apenas como Francisco. O afastamento foi determinado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).



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