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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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HABITAÇÃO

Grupo aceitou deixar edifício no centro, mas parte acampou em frente à companhia para forçar uma negociação

Sem-teto trocam hotel pela sede da CDHU

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 600 sem-teto que ocupavam o hotel Danúbio, no centro de São Paulo, abandonaram o local ontem. Mas, dizendo não ter para onde ir, parte deles acampou na frente da sede da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), na avenida Nove de Julho (zona oeste).
Os secretários estadual e municipal da Habitação, Barjas Negri e Paulo Teixeira, afirmaram não ter condições de oferecer acomodação emergencial para essas pessoas (cerca de 250, segundo os organizadores). A previsão era de que elas dormissem no local.
"Não passei por tudo aquilo para ficar de mãos abanando", afirmou Joelma de Melo Silva, 21. Grávida de sete meses, ela se recusava a voltar para a casa da mãe, em Campo Limpo. "Enquanto precisar, fico aqui. Quero uma casa para morar com meus filhos e meu namorado."
Negri e Teixeira se reuniram ontem com 12 coordenadores do MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro). Os sem-teto reivindicavam que o governo entregasse, na área central, 500 moradias agora e 2.000 até o fim deste ano. "Isso é impossível", disse Negri.
Segundo ele, serão entregues dentro de oito meses cerca de cem unidades no centro. A meta da gestão, diz, é 4.000 unidades. "Mas isso não se faz da noite para o dia." Ele também anunciou que, na segunda-feira, o governo federal destinará ao Estado R$ 100 milhões para habitação popular.
O MSTC diz que os projetos habitacionais não atingem a camada mais pobre, que sobrevive com cerca de um salário mínimo. "Nos sentimos totalmente excluídos desses programas", afirmou a coordenadora Ivaneti Araújo.
Diante da negativa às reivindicações, os coordenadores pediram um alojamento ou escola para acomodar os sem-teto durante a noite, mas também não foram atendidos. "Atendemos 5.000 famílias em termos emergenciais neste ano. Estamos no nosso limite", afirmou Paulo Teixeira.
Entre as propostas apresentadas ao MSTC estão a realização de um cadastro das famílias acampadas e a realização de uma reunião, na próxima semana, da prefeitura, do Estado e dos sem-teto com a União para discutir a crise habitacional na cidade.
O hotel Danúbio foi invadido na madrugada da segunda. Na terça, a Justiça concedeu a reintegração de posse à UniFMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), que pretende construir um teatro e um centro de pesquisas no local. O mandado autorizava, se necessário, o uso da força policial.
Na manhã de ontem, PMs isolaram a entrada do hotel. Perto do meio-dia, o grupo deixou o local.
Também na segunda-feira, outros três imóveis foram invadidos. Ontem, os proprietários do prédio da avenida Ipiranga entraram com pedido de reintegração de posse. Já o da rua Mauá está sendo negociado entre o proprietário e o MSTC. Os donos do imóvel da rua Aurora ainda não fizeram contato, segundo o movimento.


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