|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA
Após depoimentos, delegado diz ter certeza de que o homem suspeito de matar fotógrafo participou de roubo a posto
Testemunhas ligam atirador a assalto
DA REPORTAGEM LOCAL
O homem suspeito de assassinar anteontem o repórter-fotográfico Luis Antônio da Costa, 36,
conhecido profissionalmente como La Costa, com um tiro à queima-roupa em frente ao acampamento de trabalhadores sem-teto
em São Bernardo do Campo
(Grande SP), foi o mesmo que, segundo a polícia paulista, roubou
minutos antes R$ 62 de um posto
de combustível nas proximidades
com outros dois homens.
A conclusão da polícia foi tomada a partir das fotos feitas pelo repórter-fotográfico André Porto,
do "Agora", e dos depoimentos
de quatro testemunhas -duas do
local do homicídio e duas do roubo ao posto de combustíveis.
"Pelos indícios encontrados, estou convencido que o homem que
atirou no fotógrafo foi um dos
que assaltaram o posto", afirmou
o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula
Santos. Segundo ele, duas vítimas
do assalto confirmaram à polícia
que o homem que aparece com a
arma na mão na foto publicada
ontem é um dos ladrões do posto.
Outras duas testemunhas do assassinato -o repórter do "Diário
do Grande ABC" Javier Contreras
e o repórter-fotográfico do "Diário de S. Paulo" Paulo Bravos-
também confirmaram à polícia
que o homem da foto foi o autor
do disparo que atingiu La Costa.
Apesar de estabelecida a relação
entre os dois crimes, a polícia ainda não sabe a identidade nem o
paradeiro do assassino. Segundo
a polícia, a foto tirada por Porto
continua sendo a principal pista.
A investigação, que concentra
cerca de 50 policiais civis, passou
a levantar informações de criminosos que atuam na região e que
têm características físicas semelhantes ao homem da foto.
Nessa operação, a polícia prendeu dois homens que estavam no
acampamento no momento em
que La Costa foi morto. Eles foram surpreendidos pelos policiais
quando chegaram em casa ontem
de madrugada para jantar e tomar banho -durante o dia eles
ficam na área invadida.
Os dois foram liberados à tarde
depois de não serem reconhecidos por testemunhas. "Fui preso
porque sou favelado, preto e pobre", disse o músico Valdir Pereira dos Santos, 27.
Até agora a polícia não entrou
no acampamento, apesar de existir um sistema de segurança dos
próprios sem-teto que controla o
fluxo de pessoas e que pode ter informações sobre a entrada e saída
de pessoas no dia do homicídio.
Segundo o delegado, ainda não
há indícios de relação entre os
dois crimes e o movimento dos
sem-teto. "Ainda não sabemos a
motivação. Não podemos descartar nada", disse.
Peritos voltaram ontem à cena
do crime, em frente ao portão
principal do acampamento, 25
horas depois. "O ambiente estava
muito tenso ontem [anteontem]",
afirmou o diretor do Instituto de
Criminalística de São Bernardo.
O tiro que atingiu La Costa acertou o tórax, atravessou o corpo e
saiu pelo ombro esquerdo. O projétil, no entanto, que poderia ajudar na realização de exames para
esclarecer o autor do crime, não
foi encontrado ontem.
Baseada nos depoimentos
-cinco jornalistas, dois integrantes do movimento e dois funcionários do posto- , a polícia acredita que o atirador saía do acampamento quando cruzou com La
Costa. Uma possibilidade cogitada é que o assassino tentou roubar a máquina do fotógrafo.
Não se sabe, segundo o perito
Carlos Fonseca, se o assassino
voltou para o acampamento ou
fugiu do local após dar o tiro.
Repercussão
O site do jornal "The New York
Times" trouxe ontem um texto
sobre as invasões de prédios e terrenos em São Paulo e a morte do
fotógrafo La Costa.
A reportagem da agência Associated Press, publicada no site, informa que "embora o Brasil seja
aproximadamente do tamanho
dos Estados Unidos [território
continental], 90% da terra pertence a apenas 20% dos 170 milhões
de pessoas do país. Os 40% mais
pobres possuem apenas 1%."
(GILMAR PENTEADO, CHICO DE GOIS E SIMONE IWASSO)
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Cidade anuncia luto em alto-falante Índice
|