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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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VIOLÊNCIA

Após depoimentos, delegado diz ter certeza de que o homem suspeito de matar fotógrafo participou de roubo a posto

Testemunhas ligam atirador a assalto

DA REPORTAGEM LOCAL

O homem suspeito de assassinar anteontem o repórter-fotográfico Luis Antônio da Costa, 36, conhecido profissionalmente como La Costa, com um tiro à queima-roupa em frente ao acampamento de trabalhadores sem-teto em São Bernardo do Campo (Grande SP), foi o mesmo que, segundo a polícia paulista, roubou minutos antes R$ 62 de um posto de combustível nas proximidades com outros dois homens.
A conclusão da polícia foi tomada a partir das fotos feitas pelo repórter-fotográfico André Porto, do "Agora", e dos depoimentos de quatro testemunhas -duas do local do homicídio e duas do roubo ao posto de combustíveis.
"Pelos indícios encontrados, estou convencido que o homem que atirou no fotógrafo foi um dos que assaltaram o posto", afirmou o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula Santos. Segundo ele, duas vítimas do assalto confirmaram à polícia que o homem que aparece com a arma na mão na foto publicada ontem é um dos ladrões do posto.
Outras duas testemunhas do assassinato -o repórter do "Diário do Grande ABC" Javier Contreras e o repórter-fotográfico do "Diário de S. Paulo" Paulo Bravos- também confirmaram à polícia que o homem da foto foi o autor do disparo que atingiu La Costa.
Apesar de estabelecida a relação entre os dois crimes, a polícia ainda não sabe a identidade nem o paradeiro do assassino. Segundo a polícia, a foto tirada por Porto continua sendo a principal pista.
A investigação, que concentra cerca de 50 policiais civis, passou a levantar informações de criminosos que atuam na região e que têm características físicas semelhantes ao homem da foto.
Nessa operação, a polícia prendeu dois homens que estavam no acampamento no momento em que La Costa foi morto. Eles foram surpreendidos pelos policiais quando chegaram em casa ontem de madrugada para jantar e tomar banho -durante o dia eles ficam na área invadida.
Os dois foram liberados à tarde depois de não serem reconhecidos por testemunhas. "Fui preso porque sou favelado, preto e pobre", disse o músico Valdir Pereira dos Santos, 27.
Até agora a polícia não entrou no acampamento, apesar de existir um sistema de segurança dos próprios sem-teto que controla o fluxo de pessoas e que pode ter informações sobre a entrada e saída de pessoas no dia do homicídio.
Segundo o delegado, ainda não há indícios de relação entre os dois crimes e o movimento dos sem-teto. "Ainda não sabemos a motivação. Não podemos descartar nada", disse.
Peritos voltaram ontem à cena do crime, em frente ao portão principal do acampamento, 25 horas depois. "O ambiente estava muito tenso ontem [anteontem]", afirmou o diretor do Instituto de Criminalística de São Bernardo.
O tiro que atingiu La Costa acertou o tórax, atravessou o corpo e saiu pelo ombro esquerdo. O projétil, no entanto, que poderia ajudar na realização de exames para esclarecer o autor do crime, não foi encontrado ontem.
Baseada nos depoimentos -cinco jornalistas, dois integrantes do movimento e dois funcionários do posto- , a polícia acredita que o atirador saía do acampamento quando cruzou com La Costa. Uma possibilidade cogitada é que o assassino tentou roubar a máquina do fotógrafo.
Não se sabe, segundo o perito Carlos Fonseca, se o assassino voltou para o acampamento ou fugiu do local após dar o tiro.

Repercussão
O site do jornal "The New York Times" trouxe ontem um texto sobre as invasões de prédios e terrenos em São Paulo e a morte do fotógrafo La Costa.
A reportagem da agência Associated Press, publicada no site, informa que "embora o Brasil seja aproximadamente do tamanho dos Estados Unidos [território continental], 90% da terra pertence a apenas 20% dos 170 milhões de pessoas do país. Os 40% mais pobres possuem apenas 1%."
(GILMAR PENTEADO, CHICO DE GOIS E SIMONE IWASSO)


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