São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2006

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Delegado é alvo de nova denúncia

André Di Rissio, presidente da Associação dos Delegados, é acusado agora de tráfico de influência

Ele foi preso no mês passado sob acusação de participar de esquema ilegal de liberação de mercadorias no aeroporto de Viracopos


DA REPORTAGEM LOCAL

Preso no mês passado por supostamente participar de um esquema ilegal de liberação de mercadorias importadas no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (95 km de SP), o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, André Di Rissio, agora também é investigado por tráfico de influência.
Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal mostram Di Rissio manipulando operações feitas pelo Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado) para supostamente beneficiar amigos. Nos grampos, divulgados ontem pelo "Jornal Nacional", da Rede Globo, o delegado também conversa com o pai, o desembargador do Tribunal de Justiça Eduardo Di Rissio Barbosa, sobre uma suposta pressão no TJ para ajudar um advogado.
As escutas foram feitas na mesma investigação, iniciada no ano passado, que descobriu a suposta quadrilha que atuava no aeroporto de Viracopos. A suspeita de tráfico de influência motivou a abertura de um outro procedimento.
O advogado de Di Rissio, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, afirmou que as escutas divulgadas ontem não comprovam a existência de tráfico de influência (leia texto ao lado).
Em um dos grampos, Di Rissio conversa com um advogado, que relata que seu cliente teve bebidas apreendidas. Em outra ligação, Di Rissio dá a resposta: "Você quer a má notícia ou a boa notícia?". O advogado prefere a má. "A má é que a apreensão está legalizada. A boa é que eu liguei para o delegado. Acabou, está zero a zero. Tá abortada a operação", disse.
Em outra escuta, Di Rissio conversa por celular com uma pessoa presa por sonegar imposto. "Você está sendo levado para o Deic por quem?", questiona. O preso passa o telefone para um investigador. "Alô, é o doutor André Di Rissio, da delegacia geral. Está muito ruim a situação aí?"
O policial responde: "Não, doutor. Nada de horrível". "Você resolve pra mim?", prossegue Di Rissio. "Com certeza, doutor", responde o investigador. Em outro grampo, mas ainda da mesma operação, um delegado liga para Di Rissio para dizer que o acusado estava solto. "Fico te devendo um almoço", agradece.
As escutas da PF também flagraram suposto tráfico de influência no Poder Judiciário. Em grampos, Di Rissio fala com o pai, o desembargador Eduardo de Rissio Barbosa, sobre a ajuda dada ao advogado Luiz Silvio Moreira Salata.
Salata era alvo de uma ação popular que contestava sua contratação, sem licitação, por uma prefeitura do interior. A ação contra o advogado foi trancada pelo TJ em setembro de 2005. Barbosa teria pedido a intermediação de outro desembargador, hoje aposentado, para resolver o problema.
Em outra escuta, feita após essa decisão, Di Rissio chega a repreender o pai por falar ao telefone sobre essa questão. O desembargador não aceita a repreensão dizendo para não se preocupar porque ele era "vitalício" na função. "A única coisa vitalícia que você tem é a sua mulher", respondeu o filho.


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