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Segundo professores, piadinha inocente esconde preconceito
DA SUCURSAL DO RIO
Para professores ouvidos pela Folha, a homofobia nas escolas muitas vezes se esconde
atrás das piadinhas ou brincadeiras. Essa é a opinião, por
exemplo, de Léa Carvalho, diretora da Escola Técnica Estadual de Saúde Herbert Daniel
de Souza, em Quintino (zona
norte do Rio).
"A homofobia aqui acontece
por meio de piadinhas, olhares
e fofocas. É uma violência psicológica velada que é perigosa
porque muitos acham que não
passa de uma brincadeira", diz.
Ela, como diretora, tenta solucionar uma média de um caso de homofobia a cada 15 dias.
"Não adianta brigar. Temos
que levar os agressores à reflexão. Por isso, desde 2004, trabalhamos com o mural da diversidade, que fica no principal
corredor da escola e é atualizado semanalmente. Nele, o assunto que mais aparece é a homossexualidade e a importância da tolerância."
Para o professor Antonio Pinheiro, que é gay e leciona no
Instituto de Educação Sarah
Kubitschek, em Campo Grande (RJ), o maior preconceito,
em seu caso, vem dos professores. "Apesar de, entre os alunos, o preconceito correr solto,
eles sabem que sou gay e me
respeitam muito. Entre os professores, no entanto, muitos
me olham de forma diferente
ou fingem que a homossexualidade não existe. É uma maneira que só contribui para aumentar a homofobia."
Soluções
Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade do MEC, Ricardo
Henriques, o preconceito e o
fato de a sexualidade ainda ser
um tema tabu na sociedade exigem uma solução complexa.
"Não podemos ser rasteiros.
O que estamos tentando encontrar são propostas pedagógicas que tenham sido testadas
de forma eficiente. Precisamos
ter coragem de dizer que temos
de investir muito em conhecimento para saber a melhor maneira de lidar com esse tema
em sala de aula. Não dá para ser
algo improvisado", diz ele.
Em busca da melhor forma
de trabalhar com o tema, o secretário afirma que o MEC está
investindo R$ 1,5 milhão em
ações desenvolvidas em escolas. Entre elas estão projetos pilotos feitos por 16 diferentes
entidades que têm professores
como público-alvo.
"A partir dessas experiências, saberemos quais metodologias deram certo e podem ser
ampliadas", afirmou.
Um desses projetos é coordenado pelo grupo Arco-Íris no
Rio com o nome "Rompendo a
Fronteira e Discutindo a Homossexualidade na Escola". O
coordenador, Márcio Caetano,
explica que a opção foi não estabelecer um manual único
porque as realidades são muito
diferentes em cada colégio.
Com isso, cada professor elaborou seu próprio plano de ação.
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