São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2006

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Segundo professores, piadinha inocente esconde preconceito

DA SUCURSAL DO RIO

Para professores ouvidos pela Folha, a homofobia nas escolas muitas vezes se esconde atrás das piadinhas ou brincadeiras. Essa é a opinião, por exemplo, de Léa Carvalho, diretora da Escola Técnica Estadual de Saúde Herbert Daniel de Souza, em Quintino (zona norte do Rio).
"A homofobia aqui acontece por meio de piadinhas, olhares e fofocas. É uma violência psicológica velada que é perigosa porque muitos acham que não passa de uma brincadeira", diz.
Ela, como diretora, tenta solucionar uma média de um caso de homofobia a cada 15 dias. "Não adianta brigar. Temos que levar os agressores à reflexão. Por isso, desde 2004, trabalhamos com o mural da diversidade, que fica no principal corredor da escola e é atualizado semanalmente. Nele, o assunto que mais aparece é a homossexualidade e a importância da tolerância."
Para o professor Antonio Pinheiro, que é gay e leciona no Instituto de Educação Sarah Kubitschek, em Campo Grande (RJ), o maior preconceito, em seu caso, vem dos professores. "Apesar de, entre os alunos, o preconceito correr solto, eles sabem que sou gay e me respeitam muito. Entre os professores, no entanto, muitos me olham de forma diferente ou fingem que a homossexualidade não existe. É uma maneira que só contribui para aumentar a homofobia."

Soluções
Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Ricardo Henriques, o preconceito e o fato de a sexualidade ainda ser um tema tabu na sociedade exigem uma solução complexa.
"Não podemos ser rasteiros. O que estamos tentando encontrar são propostas pedagógicas que tenham sido testadas de forma eficiente. Precisamos ter coragem de dizer que temos de investir muito em conhecimento para saber a melhor maneira de lidar com esse tema em sala de aula. Não dá para ser algo improvisado", diz ele.
Em busca da melhor forma de trabalhar com o tema, o secretário afirma que o MEC está investindo R$ 1,5 milhão em ações desenvolvidas em escolas. Entre elas estão projetos pilotos feitos por 16 diferentes entidades que têm professores como público-alvo.
"A partir dessas experiências, saberemos quais metodologias deram certo e podem ser ampliadas", afirmou.
Um desses projetos é coordenado pelo grupo Arco-Íris no Rio com o nome "Rompendo a Fronteira e Discutindo a Homossexualidade na Escola". O coordenador, Márcio Caetano, explica que a opção foi não estabelecer um manual único porque as realidades são muito diferentes em cada colégio. Com isso, cada professor elaborou seu próprio plano de ação.


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