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Vítimas de tragédia em Alagoas vivem em situação precária
Pouco mais de um mês após cheia, abrigos estão superlotados
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A MURICI (AL)
Pouco mais de um mês
após a tragédia provocada
pela enchente que atingiu
parte do Nordeste, centenas
de famílias que perderam
suas casas em Alagoas ainda
vivem em abrigos lotados,
onde a higiene é precária e a
violência amedronta os próprios desabrigados.
Homens, mulheres e
crianças andam descalços na
lama fétida que se forma próximo aos banheiros.
Em Murici (a 50 km de Maceió), flagelados tomam banho com as roupas do corpo,
à vista de todos. Com a mesma água, lava-se a louça.
Na vizinha União dos Palmares, a situação é parecida.
Na Escola Estadual Monsenhor Clóvis Duarte de Barros,
crianças urinam no pátio e
mulheres cortam galinhas
sobre bancos de concreto.
Famílias reclamam de furtos nos barracos. Brigas de
casais e desentendimentos
provocados pela presença de
animais ou por barulho excessivo são constantes.
No dia 17, um homem esfaqueou a ex-namorada de 17
anos em frente à escola. A
adolescente sobreviveu. O
agressor foi preso.
Em Murici, a Folha presenciou a intervenção de
guardas municipais em briga
de casal. O homem agrediu a
mulher e foi retirado do abrigo, sob ameaça de prisão.
A ociosidade e o consumo
de bebidas alcoólicas contribuem para elevar a tensão.
Há um mês, a principal atividade das vítimas da chuva
é vigiar a chegada dos veículos que trazem doações.
AMEAÇAS
Quando os carros chegam,
há correria. Integrantes de
uma mesma família se dispersam, na tentativa de obter
mais de um benefício.
"Antes existia respeito.
Agora, já fui ameaçada por
um morador que queria mais
doações", disse a diretora da
escola Monsenhor Clóvis
Duarte, Santina Veras. "Aqui
eu não fico mais em tempo
integral", afirmou. "Tenho
dois filhos para criar." No local estão 398 desabrigados.
Homens da Força Nacional armados com fuzis vigiam abrigos durante o dia
para evitar tumultos. O Exército, que chegou a atuar em
dez municípios, hoje trabalha apenas em Murici e em
Branquinha, na organização
e entrega de donativos.
No centro de distribuição
de Murici, crianças com 12
anos de idade transportam as
doações em carrinhos de
mão. Em troca, recebem entre R$ 2 e R$ 5 dos flagelados.
Nas áreas devastadas, o
trabalho infantil também é
comum. Meninos arrastam
barras de ferro retorcidas para vender a R$ 0,10 o quilo.
O governo de Alagoas
anunciou que até o dia 20 de
agosto pretende transferir os
desabrigados para tendas individuais montadas em
acampamentos provisórios.
Em alguns locais, como
Murici, essa transferência já
começou, mas o número de
barracas é insuficiente.
Em Alagoas, a enchente
ocorrida em 18 de junho atingiu 19 municípios e provocou
a morte de 26 pessoas.
Segundo o governo, o número de desabrigados chegou a 27.757 e o de desalojados a 44.504. O prejuízo estimado é de R$ 954 milhões.
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