São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

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Vítimas de tragédia em Alagoas vivem em situação precária

Pouco mais de um mês após cheia, abrigos estão superlotados

FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A MURICI (AL)

Pouco mais de um mês após a tragédia provocada pela enchente que atingiu parte do Nordeste, centenas de famílias que perderam suas casas em Alagoas ainda vivem em abrigos lotados, onde a higiene é precária e a violência amedronta os próprios desabrigados.
Homens, mulheres e crianças andam descalços na lama fétida que se forma próximo aos banheiros.
Em Murici (a 50 km de Maceió), flagelados tomam banho com as roupas do corpo, à vista de todos. Com a mesma água, lava-se a louça.
Na vizinha União dos Palmares, a situação é parecida. Na Escola Estadual Monsenhor Clóvis Duarte de Barros, crianças urinam no pátio e mulheres cortam galinhas sobre bancos de concreto.
Famílias reclamam de furtos nos barracos. Brigas de casais e desentendimentos provocados pela presença de animais ou por barulho excessivo são constantes.
No dia 17, um homem esfaqueou a ex-namorada de 17 anos em frente à escola. A adolescente sobreviveu. O agressor foi preso.
Em Murici, a Folha presenciou a intervenção de guardas municipais em briga de casal. O homem agrediu a mulher e foi retirado do abrigo, sob ameaça de prisão.
A ociosidade e o consumo de bebidas alcoólicas contribuem para elevar a tensão.
Há um mês, a principal atividade das vítimas da chuva é vigiar a chegada dos veículos que trazem doações.

AMEAÇAS
Quando os carros chegam, há correria. Integrantes de uma mesma família se dispersam, na tentativa de obter mais de um benefício.
"Antes existia respeito. Agora, já fui ameaçada por um morador que queria mais doações", disse a diretora da escola Monsenhor Clóvis Duarte, Santina Veras. "Aqui eu não fico mais em tempo integral", afirmou. "Tenho dois filhos para criar." No local estão 398 desabrigados.
Homens da Força Nacional armados com fuzis vigiam abrigos durante o dia para evitar tumultos. O Exército, que chegou a atuar em dez municípios, hoje trabalha apenas em Murici e em Branquinha, na organização e entrega de donativos.
No centro de distribuição de Murici, crianças com 12 anos de idade transportam as doações em carrinhos de mão. Em troca, recebem entre R$ 2 e R$ 5 dos flagelados.
Nas áreas devastadas, o trabalho infantil também é comum. Meninos arrastam barras de ferro retorcidas para vender a R$ 0,10 o quilo.
O governo de Alagoas anunciou que até o dia 20 de agosto pretende transferir os desabrigados para tendas individuais montadas em acampamentos provisórios.
Em alguns locais, como Murici, essa transferência já começou, mas o número de barracas é insuficiente.
Em Alagoas, a enchente ocorrida em 18 de junho atingiu 19 municípios e provocou a morte de 26 pessoas.
Segundo o governo, o número de desabrigados chegou a 27.757 e o de desalojados a 44.504. O prejuízo estimado é de R$ 954 milhões.


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