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1 a cada 4 não compreende orientação médica no HC
Usuário consegue ler a receita,
mas é incapaz de entendê-la
Pesquisa identificou analfabetos funcionais entre acompanhantes de pacientes; índice preocupa, afirma HC
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
Dado 1: o remédio deve ser
tomado uma hora antes do
almoço. Dado 2: o almoço é
às 12h. Pergunta: a que hora
você deve tomar o remédio?
De cada quatro pessoas
submetidas a um teste escrito no HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo, uma foi incapaz de escrever a resposta
certa a perguntas tão corriqueiras como essa.
De cada quatro pessoas,
portanto, uma é analfabeta
funcional: frequentou a escola, aprendeu a ler e escrever,
mas não consegue entender
aquilo que lê. As frases escritas não têm significado.
O teste, com questões bem
simples (impressas em letra
de forma, e não escritas com
letra de médico), foi aplicado
por neurologistas do HC.
Participaram 312 adultos
alfabetizados de diferentes
idades e escolaridades. Eram
acompanhantes de pacientes do HC.
Dessas pessoas, 23,5% não
entendem o que leem. Entre
as menos escolarizadas (até
sete anos de estudos), o índice salta para quase 60%.
O analfabetismo funcional
afeta inclusive pessoas que
chegaram ao ensino médio
-14% dos que têm escolaridade de 8 a 11 anos.
O resultado é preocupante
tanto em termos de saúde como de educação.
Em saúde, por sugerir que
parte considerável das pessoas que saem dos consultórios vai tomar o remédio na
hora errada ou perder o dia
certo da próxima consulta.
"Quando o paciente diz
que lê e escreve, o médico explica uma vez, dá a receita e
pronto. Não imagina que é
analfabeto funcional", diz
Ricardo Nitrini, neurologista
responsável pelo estudo.
TÁTICAS
A pesquisa do HC, então,
serve de alerta aos médicos.
Ao notar que o paciente tem
dificuldades com a leitura, o
profissional deve tratá-lo como um analfabeto absoluto.
O médico Antonio Carlos
Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica
Médica, criou táticas. Em vez
de escrever "tomar um comprimido de manhã e outro à
noite", anota "2 por dia". "As
pessoas entendem mais facilmente os números", diz.
Em termos de educação, a
conclusão do HC é preocupante por confirmar que a escola brasileira não consegue
alfabetizar plenamente.
"O professor não usa jornal, letra de música ou panfleto de supermercado. A
criança acha que a leitura
não é da vida real, que é só
uma atividade escolar", explica Onaide Schwartz, professora de metodologia da alfabetização na Unesp.
Para Vera Masagão, da organização Ação Educativa,
os governos deveriam levar
de volta à escola o adulto de
baixa escolaridade: "A EJA
[antigo supletivo] precisa
mudar e ficar atraente".
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