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MASSACRE NO CENTRO
Fonte de retrato falado não viu ataque; outras pessoas também citaram homens em moto e carro preto
Atitude suspeita é principal pista da polícia
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de cinco dias depois dos
primeiros ataques em série a moradores de rua em São Paulo, a
polícia paulista divulgou ontem
suas principais pistas sobre a autoria do massacre: os retratos falados de dois homens que supostamente estavam em atitude suspeita perto da praça da Sé, horas antes das agressões.
Os retratos foram feitos a partir
do depoimento, ontem de manhã,
de uma única testemunha, moradora de rua, que não presenciou
nenhum dos ataques. Ela diz ter
visto um carro preto, com película
escura nos vidros, e uma motocicleta grande circulando devagar
pelas proximidades na noite de
quarta-feira, como se examinassem a área -os crimes começaram na madrugada de quinta.
A testemunha é a primeira, das
mais de 20 ouvidas pela polícia, a
fornecer alguma informação com
características físicas de suspeitos.
Ela descreveu um dos homens
como branco, magro, entre 25 e
28 anos, com a cabeça raspada, estilo moicano. Não soube dizer se
estava na direção ou na garupa da
motocicleta. O outro ocupante da
moto, afirmou a testemunha, tinha características semelhantes.
O segundo suspeito estaria dentro do carro preto, no banco de
trás, com jaqueta preta, e teria feito um sinal com a mão para os
que estavam na motocicleta. Ele
seria negro, forte, com 30 anos.
O grupo teria ao menos cinco
integrantes nos dois veículos.
O delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira, responsável pelas investigações, diz que esses retratos
foram considerados relevantes
pela polícia pelo fato de outras
testemunhas ouvidas já terem
mencionado a presença de um
carro preto com película e uma
motocicleta grande, estilo Harley
Davidson, rondando a região. Nenhuma dessas testemunhas, porém, presenciou algum ataque.
"Quem viu [alguma agressão]
geralmente era morador de rua,
estava alcoolizado e se complica
nas versões", afirmou Teixeira,
que também recebeu relatos de
homens com faixas na cabeça.
Mesmo assim, quem ajudou a
elaborar os retratos falados não ficará sob vigilância do serviço de
proteção às testemunhas, segundo o delegado, porque não quis o
benefício. "A gente ofereceu, mas
a maioria dos moradores de rua
quer rua. A gente não pode forçá-la a ficar enclausurada."
Grupo radical
As informações sobre "pessoas
usando roupas negras", com motocicleta grande e carro preto reforçam, na avaliação de policiais,
as suspeitas sobre a ação de um
grupo radical de intolerância, como os skinheads, nos ataques.
"Tudo leva a crer que não se visava este ou aquele [indivíduo],
mas sim moradores de rua [em
geral]", afirmou Teixeira. O fato
de um dos retratos falados ser de
um homem negro, disse ele, não
significa incompatibilidade com
grupos de intolerância, já que
nem todas as facções de skinheads são racistas.
O delegado também afirmou
que dois moradores de rua relataram ter conversado com colegas
que teriam sido alvo de ataques de
homens que desceram de um carro preto e de uma moto grande. A
polícia não localizou essas duas
vítimas: uma delas atacada com
uma paulada na cabeça na própria madrugada de quinta-feira, e
a outra, duas semanas antes, com
um golpe de estilete no peito.
A falta de informações e a fragilidade das obtidas até agora fazem
os investigadores até mesmo ampliarem as hipóteses do crime.
"Tudo é levado em consideração.
Se falarem que foi a mando do Papa, a gente vai investigar o Papa",
afirmou Teixeira.
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