São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MASSACRE NO CENTRO

Fonte de retrato falado não viu ataque; outras pessoas também citaram homens em moto e carro preto

Atitude suspeita é principal pista da polícia

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de cinco dias depois dos primeiros ataques em série a moradores de rua em São Paulo, a polícia paulista divulgou ontem suas principais pistas sobre a autoria do massacre: os retratos falados de dois homens que supostamente estavam em atitude suspeita perto da praça da Sé, horas antes das agressões.
Os retratos foram feitos a partir do depoimento, ontem de manhã, de uma única testemunha, moradora de rua, que não presenciou nenhum dos ataques. Ela diz ter visto um carro preto, com película escura nos vidros, e uma motocicleta grande circulando devagar pelas proximidades na noite de quarta-feira, como se examinassem a área -os crimes começaram na madrugada de quinta.
A testemunha é a primeira, das mais de 20 ouvidas pela polícia, a fornecer alguma informação com características físicas de suspeitos.
Ela descreveu um dos homens como branco, magro, entre 25 e 28 anos, com a cabeça raspada, estilo moicano. Não soube dizer se estava na direção ou na garupa da motocicleta. O outro ocupante da moto, afirmou a testemunha, tinha características semelhantes.
O segundo suspeito estaria dentro do carro preto, no banco de trás, com jaqueta preta, e teria feito um sinal com a mão para os que estavam na motocicleta. Ele seria negro, forte, com 30 anos.
O grupo teria ao menos cinco integrantes nos dois veículos.
O delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira, responsável pelas investigações, diz que esses retratos foram considerados relevantes pela polícia pelo fato de outras testemunhas ouvidas já terem mencionado a presença de um carro preto com película e uma motocicleta grande, estilo Harley Davidson, rondando a região. Nenhuma dessas testemunhas, porém, presenciou algum ataque.
"Quem viu [alguma agressão] geralmente era morador de rua, estava alcoolizado e se complica nas versões", afirmou Teixeira, que também recebeu relatos de homens com faixas na cabeça.
Mesmo assim, quem ajudou a elaborar os retratos falados não ficará sob vigilância do serviço de proteção às testemunhas, segundo o delegado, porque não quis o benefício. "A gente ofereceu, mas a maioria dos moradores de rua quer rua. A gente não pode forçá-la a ficar enclausurada."

Grupo radical
As informações sobre "pessoas usando roupas negras", com motocicleta grande e carro preto reforçam, na avaliação de policiais, as suspeitas sobre a ação de um grupo radical de intolerância, como os skinheads, nos ataques.
"Tudo leva a crer que não se visava este ou aquele [indivíduo], mas sim moradores de rua [em geral]", afirmou Teixeira. O fato de um dos retratos falados ser de um homem negro, disse ele, não significa incompatibilidade com grupos de intolerância, já que nem todas as facções de skinheads são racistas.
O delegado também afirmou que dois moradores de rua relataram ter conversado com colegas que teriam sido alvo de ataques de homens que desceram de um carro preto e de uma moto grande. A polícia não localizou essas duas vítimas: uma delas atacada com uma paulada na cabeça na própria madrugada de quinta-feira, e a outra, duas semanas antes, com um golpe de estilete no peito.
A falta de informações e a fragilidade das obtidas até agora fazem os investigadores até mesmo ampliarem as hipóteses do crime. "Tudo é levado em consideração. Se falarem que foi a mando do Papa, a gente vai investigar o Papa", afirmou Teixeira.


Texto Anterior: Risco de convulsão deve durar 1 ano
Próximo Texto: Três vítimas morreram com um só golpe
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.