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WALTER CENEVIVA
Mais impostos sem contraprestação
O contribuinte tem direito de saber como o dinheiro dos tributos é empregado pelo Poder Público
A CAPA DO CADERNO DINHEIRO
desta Folha, na quarta-feira,
foi expressiva: "Carga de impostos é a maior da história". A semana assinalou, ainda, a disputa
política pela manutenção da contribuição provisória conhecida pela sigla CPMF. A sigla refere uma
das muitas "provisoriedades" criadas para satisfação do apetite insaciável dos governantes.
Lembre-se o leitor de que a
CPMF foi iniciada sob desculpa de
beneficiar a saúde do povo. A versão teve apoio respeitável do médico Adib Jatene, com a condição de
ser provisória. Logo abandonou a
saúde. Deixou Jatene. Manteve
"provisória" no nome, ou seja, preservou a máscara, em ardil para obtenção de vantagem indevida. Engana a cidadania e agora é vista como mercadoria de troca na feira da
política.
Volto ao tema, repetindo coisas
já escritas, porque o governo se dispôs a pagar o preço da barganha
para manter a contribuição dita
provisória, sem abdicar dos tributos diretos e indiretos integrados à
carga tributária. Quando pensamos no conjunto dos encargos a
que o cidadão brasileiro se vê submetido, ano após ano, é justo reconhecer o excesso. Por outro lado,
quando pensamos no uso que a administração pública faz do nosso
dinheiro na União, nos Estados e
nos Municípios, temos de revigorar a crítica.
Não se trata, porém, apenas do
encargo redutor dos ganhos da cidadania, sem que os correspondentes serviços nos compensem. E,
para ser justo, sem esquecermos
que a contribuição sobre a movimentação financeira é, em si mesma, uma forma boa de incidência
fiscal, desde que compensada pela
redução de outras fontes da arrecadação federal.
O excesso se mostra sob formas
muito variadas. As contribuições
previdenciárias incidentes sobre
os empregados, empregadores, autônomos e praticamente sobre toda a população que trabalha não
oferecem contraprestação qualificada. O INSS não se vexa de aplicar
todos os lances da esperteza judiciária para retardar o pagamento
do que deve. Seu espaço interno é
marcado por desfalques imensos,
que, de tão repetidos, até deixaram
de impressionar a cidadania, embora o dinheiro saia de nosso bolso.
Olhando sob outro prisma, o leitor sabe que taxa é tecnicamente a
retribuição por serviços públicos.
Ocorre que os preços de taxas estão em constante ascensão, sem a
evolução correspondente da qualidade de atendimento. Cabem dois
exemplos quase simplórios: o fornecimento privado de xerocópias
custa R$ 0,10 a R$ 0,30 centavos,
por exemplar. No fornecimento estadual a xerocópia autenticada sai
por R$ 0,80. Os exames de motorista, de matrícula à entrega da carta e às segundas vias, tudo é cobrado por valores tabelados pelos
mesmos órgãos que os exigem ou
pela administração.
O contribuinte tem direito de saber como o dinheiro dos tributos é
empregado pelo Poder Público. De
saber se se destina à melhora da situação de todos, com igualdade. Se
é permanente ou apenas em períodos pré-eleitorais. Se sua capacidade tributária é determinada por
critérios objetivos e se tem previsibilidade viável. A cidadania não
tem confiança nos critérios de cobrança. O círculo é vicioso: inconfiáveis os governos, o contribuinte
não é estimulado a cumprir seu papel com lealdade. A busca da contraprestação e do equilíbrio é elemento essencial da recomposição
da carga tributária.
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