São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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Desocupação termina em confronto entre polícia e sem-teto

Cerca de 2.000 pessoas viviam na favela, no Capão Redondo; moradores fizeram barricadas e incendiaram dois carros

PM afirma que foi atacada e reagiu com bombas de efeito moral e balas de borracha; pelo menos quatro pessoas se feriram

Nelson Antoine/Associated Press
Policiais tentam passar carro em chamas em reintegração de posse no Capão Redondo (zona sul)

AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores, militantes de organizações de sem-teto e policiais militares entraram em confronto ontem de manhã durante a reintegração de posse de um terreno particular no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. No local, viviam aproximadamente 2.000 pessoas em 800 barracos.
Eram quase 7h quando cerca de 250 policiais, incluindo o Batalhão de Choque, entraram na comunidade. Os moradores fizeram barricadas e fecharam acessos à rua Ana Aslan, onde ficava a favela, com móveis, botijões de gás e dois veículos, que acabaram incendiados.
Segundo a PM, o grupo atirou pedras, paus, rojões e coquetéis Molotov contra os policiais, que revidaram com bombas de efeito moral e balas de borracha. Houve três prisões.
A PM diz que dois homens se feriram durante a ação -um policial, que foi atropelado, e um morador, que cortou as mãos quando carregava um vaso. Porém, a Folha constatou que pelo menos outras duas pessoas se machucaram. Ambas foram atingidas por balas de borracha -segundo as vítimas, disparadas por policiais.
"Eu pedia calma para o pessoal quando o policial disparou e acertou a bala de borracha no meu peito", disse Marcos Rogério, 33, membro da ONG Frente de Luta por Moradia.
O comandante da ação, coronel Carlos Botelho, disse que a desocupação foi "tranquila e pacífica". Ele disse ser possível haver mais feridos, "mas ninguém disse nada à polícia".
Uma das bombas de gás lacrimogêneo lançadas por PMs no início da manhã atingiu a casa do aposentado Edvaldo Manoel Correa, 57. Cadeirante, ele diz que teve dificuldades para sair do barraco.
"Achei que ia morrer quando vi tanto gás. Meu filho e um vizinho me ajudaram a sair, mas logo o incêndio começou e não salvamos quase nada", afirma.
Moradores dizem que bombas jogadas por PMs incendiaram os barracos. Já os policiais alegam que moradores atearam fogo. Cerca de 40 bombeiros controlaram o incêndio.
A reintegração da área de 33 mil metros quadrados foi autorizada pela Justiça há oito meses. Segundo o advogado Daniel Góes, que defende a dona do terreno, a Viação Campo Limpo, o assunto foi discutido com os moradores. "Eles diziam que iam sair, mas não saíam. Até que a gente pediu que a reintegração fosse feita."
A empresa cedeu 14 veículos para os sem-teto transportarem os pertences. Alguns foram para casas de parentes e abrigos. Um grupo decidiu ficar em frente à antiga favela.
A pedido da PM, aulas de quatro escolas municipais da região foram suspensas por dois dias. Cerca de 4.500 alunos voltam às aulas amanhã.
Antes do início da desocupação, dois repórteres-fotográficos foram assaltados na favela.


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