São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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Morador vê pela televisão a favela ser derrubada

Auxiliar de cozinha estava no trabalho e diz que ficou só com a roupa do corpo

"Eles poderiam ter esperado eu tirar minhas coisinhas do barraco", afirma ele; outros moradores contam não ter para onde ir agora

DO "AGORA"
DA REPORTAGEM LOCAL

Morador do terreno desocupado no Capão Redondo, o auxiliar de cozinha Manoel Canuto, 35, estava no Itaim Bibi (zona oeste de SP), onde trabalha, quando soube pela televisão, por volta das 8h30, da reintegração de posse, com incêndio, confronto e casas derrubadas.
"Saí às 5h de casa. Tinha ouvido falar do despejo, mas não sabia que os policiais viriam hoje [ontem]. Como minha mulher também estava no trabalho, ninguém me avisou nada. Agora, eles poderiam ter esperado eu tirar minhas coisinhas do barraco. Perdi geladeira, fogão, televisão, sapato... Fiquei só com a roupa do corpo."
Pai de dois filhos, de dez e nove anos, Canuto conta que vai para a casa de uma irmã.
A alagoana Maria José da Silva, 53, diz que não sabe para onde irá. Desempregada, ela se mudou para São Paulo há sete anos com o marido, cinco filhos e três netos. A ideia era se tratar de elefantíase, doença que deixa membros do corpo inchados, mas, até ontem, não tinha encontrado ajuda médica.
"Vamos ficar aqui na calçada porque não sei nem o que dá para alugar com um salário mínimo [R$ 465]. Ou a gente paga o aluguel de uma casa ou compra comida", disse.
Baiano, o sorveteiro Jailson Martins Macedo, 32, que morava sozinho na favela, diz que, apesar de contar com a opção de voltar para a casa dos pais, também no Capão Redondo, não sabe o que vai fazer.
"Quem sabe, vou dormir na casa de um amigo. Para a casa dos "velhos" é que não dá. Sou independente, não quero ninguém pegando no meu pé."
Macedo fazia também bicos como vigilante noturno. Só ficou sabendo da desocupação quando retornava do trabalho e, como não teve tempo de recolher seus pertences, perdeu diversos móveis e R$ 170.
O pintor William Braz, 18, é experiente em desocupações. Antes de ir para o local, em 2007, morava em outra área invadida. "Agora foi pior. Não deu tempo de tirar meu gatinho do barraco e ele morreu."
(LÉO ARCOVERDE e AFONSO BENITES)


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