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Morador vê pela televisão a favela ser derrubada
Auxiliar de cozinha estava no trabalho e diz que ficou só com a roupa do corpo
"Eles poderiam ter esperado eu tirar minhas coisinhas
do barraco", afirma ele; outros moradores contam não ter para onde ir agora
DO "AGORA"
DA REPORTAGEM LOCAL
Morador do terreno desocupado no Capão Redondo, o auxiliar de cozinha Manoel Canuto, 35, estava no Itaim Bibi (zona oeste de SP), onde trabalha,
quando soube pela televisão,
por volta das 8h30, da reintegração de posse, com incêndio,
confronto e casas derrubadas.
"Saí às 5h de casa. Tinha ouvido falar do despejo, mas não
sabia que os policiais viriam
hoje [ontem]. Como minha
mulher também estava no trabalho, ninguém me avisou nada. Agora, eles poderiam ter esperado eu tirar minhas coisinhas do barraco. Perdi geladeira, fogão, televisão, sapato... Fiquei só com a roupa do corpo."
Pai de dois filhos, de dez e nove anos, Canuto conta que vai
para a casa de uma irmã.
A alagoana Maria José da Silva, 53, diz que não sabe para onde irá. Desempregada, ela se
mudou para São Paulo há sete
anos com o marido, cinco filhos
e três netos. A ideia era se tratar
de elefantíase, doença que deixa membros do corpo inchados, mas, até ontem, não tinha
encontrado ajuda médica.
"Vamos ficar aqui na calçada
porque não sei nem o que dá
para alugar com um salário mínimo [R$ 465]. Ou a gente paga
o aluguel de uma casa ou compra comida", disse.
Baiano, o sorveteiro Jailson
Martins Macedo, 32, que morava sozinho na favela, diz que,
apesar de contar com a opção
de voltar para a casa dos pais,
também no Capão Redondo,
não sabe o que vai fazer.
"Quem sabe, vou dormir na
casa de um amigo. Para a casa
dos "velhos" é que não dá. Sou
independente, não quero ninguém pegando no meu pé."
Macedo fazia também bicos
como vigilante noturno. Só ficou sabendo da desocupação
quando retornava do trabalho
e, como não teve tempo de recolher seus pertences, perdeu
diversos móveis e R$ 170.
O pintor William Braz, 18, é
experiente em desocupações.
Antes de ir para o local, em
2007, morava em outra área invadida. "Agora foi pior. Não deu
tempo de tirar meu gatinho do
barraco e ele morreu."
(LÉO ARCOVERDE e AFONSO BENITES)
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