São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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GERDA LAGUS (1914-2009)

Passou 17 dias no porão de um navio

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 22 anos, Gerda Lagus deixou a Alemanha, sozinha, a bordo de um navio.
Foram 17 dias em um porão -o lugar mais barato da embarcação- até que ela chegasse ao Brasil, para onde foi mandada pelo pai. Era 1936, às vésperas da Segunda Guerra, e ele temia a perseguição aos judeus.
Foi a última vez que viu os pais: eles morreram em um campo de concentração dias antes de a guerra terminar.
Os dois irmãos, que também haviam deixado Berlim, conseguiram se salvar.
Quando chegou ao Brasil, Gerda não conhecia ninguém. Aos poucos, foi refazendo os laços com a terra natal. Morou na Vila Mariana, bairro da zona sul da capital que abrigava a comunidade judaica.
Em um clube conheceu o marido, Edgar, também alemão e judeu, e, dois anos depois, casaram-se. "Foi o primeiro casamento da comunidade judaica alemã celebrado no Brasil", afirma o filho Mário Pedro Lagus, 69.
Dedicou-se a vida toda à família e à natureza -presidiu uma entidade que plantava árvores em nome do Estado de Israel. Para homenageá-la, o filho adotou uma praça.
Ele conta que a mãe tinha uma saúde invejável. "A vontade dela de viver era maior que tudo", diz Mário.
Ficou um longo período em hospitais por apenas duas vezes. A primeira, em 2006, já aos 92 anos, para cuidar da filha, Evelina, que teve câncer e morreu ainda naquele ano.
A segunda, quando foi internada com uma infecção, por 78 dias. Foi lá que passou seu último aniversário, em julho. Na quarta, morreu, aos 95, de falência múltipla dos órgãos. Deixou filho, quatro netos e quatro bisnetos, todos judeus, como o pai dela.

coluna.obituario@uol.com.br


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