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GERDA LAGUS (1914-2009)
Passou 17 dias no porão de um navio
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 22 anos, Gerda Lagus
deixou a Alemanha, sozinha,
a bordo de um navio.
Foram 17 dias em um porão -o lugar mais barato da
embarcação- até que ela
chegasse ao Brasil, para onde
foi mandada pelo pai. Era
1936, às vésperas da Segunda
Guerra, e ele temia a perseguição aos judeus.
Foi a última vez que viu os
pais: eles morreram em um
campo de concentração dias
antes de a guerra terminar.
Os dois irmãos, que também haviam deixado Berlim,
conseguiram se salvar.
Quando chegou ao Brasil,
Gerda não conhecia ninguém. Aos poucos, foi refazendo os laços com a terra
natal. Morou na Vila Mariana, bairro da zona sul da capital que abrigava a comunidade judaica.
Em um clube conheceu o
marido, Edgar, também alemão e judeu, e, dois anos depois, casaram-se. "Foi o primeiro casamento da comunidade judaica alemã celebrado no Brasil", afirma o filho Mário Pedro Lagus, 69.
Dedicou-se a vida toda à
família e à natureza -presidiu uma entidade que plantava árvores em nome do Estado de Israel.
Para homenageá-la, o filho
adotou uma praça.
Ele conta que a mãe tinha
uma saúde invejável. "A vontade dela de viver era maior
que tudo", diz Mário.
Ficou um longo período
em hospitais por apenas
duas vezes. A primeira, em
2006, já aos 92 anos, para
cuidar da filha, Evelina, que
teve câncer e morreu ainda
naquele ano.
A segunda, quando foi internada com uma infecção,
por 78 dias. Foi lá que passou
seu último aniversário, em
julho. Na quarta, morreu, aos
95, de falência múltipla dos
órgãos. Deixou filho, quatro
netos e quatro bisnetos, todos judeus, como o pai dela.
coluna.obituario@uol.com.br
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