São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2000

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Homicídios aumentam em bairro tradicional

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Mapa da Exclusão/Inclusão Social 2000 mostrou que o crescimento da violência e da exclusão não ameaça apenas os moradores da periferia de São Paulo.
Bairro tradicional do centro da cidade, o Brás registrou o maior aumento percentual de homicídios entre 1996 e 1999, 149%. Passou de 37,503 assassinatos por 100 mil habitantes para 93,47 mortes. O bairro também concentra 11% da população de rua da cidade.
A liderança do número de homicídios continua com o Jardim Ângela (zona sul de São Paulo), que registrou 116,23 assassinatos por 100 mil habitantes em 1999. A média do município foi de 66,89.
No Brás, conflitos entre vendedores ambulantes e brigas em bares por motivo fútil lideram as causas dos assassinatos. No Jardim Ângela, o envolvimento com o tráfico de drogas é o principal responsável pelo assassinato de 99 jovens (entre 15 e 24 anos) no ano passado.
O empobrecimento econômico mudou a realidade do Brás. Em dois anos, cerca de 3.000 lojas fecharam -20% do total-, segundo o presidente da associação de comerciantes do bairro, Jorge Hamuche. "O PIB (Produto Interno Bruto) caiu pela metade por causa do comércio informal", disse.
O número de empregos no setor do comércio caiu de 60 mil para 45 mil, segundo a entidade.
Hamuche afirmou que o crescimento da violência fez muitos moradores mudarem do bairro. Segundo dados da Exclusão/Inclusão, a população diminuiu 20% entre 1991 e 1996.
Em contrapartida, cresceu a população de rua do bairro, atraída pelos albergues de entidades assistenciais. "Durante o dia, eles fazem bico na região", disse José Luiz de Lima, coordenador da Fraternidade Povo da Rua. A entidade filantrópica realiza uma campanha contra a Aids entre os moradores de rua.
Na rua há três anos, o pedreiro desempregado Moisés Francisco dos Santos, 31, não encontra hoje a mesma facilidade em conseguir uma vaga em um dos albergues.
Na última quinta-feira, Santos estava na fila de espera de um abrigo no Brás e não sabia se iria conseguir a vaga. "O número de pessoas morando na rua aumentou muitos nos últimos tempos", afirmou o pedreiro, que saiu da Bahia em busca de trabalho.
Quando tinha emprego temporário em uma fábrica, Santos conseguia alugar uma casa na Freguesia do Ó (região noroeste de São Paulo). Agora, passa o dia procurando emprego e fazendo bicos.
O desemprego também está diretamente ligado aos números da violência no Jardim Ângela, segundo o padre Jaime Crowe, coordenador do Fórum em Defesa da Vida e Contra a Violência.
Segundo o padre, a implantação da polícia comunitária no distrito melhorou a segurança, mas não resolveu o problema.
"Sem uma política social, a polícia só acaba empurrando a violência cada vez mais para a periferia", afirmou.


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