|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Maiores infratoras, motos ficam impunes
Em SP, 99 das 100 lombadas eletrônicas não flagram motocicletas; tapar a placa é prática comum para burlar radares
Pesquisa mostra que, em pelo menos seis Estados, esses veículos excedem a velocidade em proporção superior à média
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Criticados pelo comportamento de risco no trânsito e alvos de preocupação de especialistas devido ao número crescente de acidentes e mortes, os
motociclistas ficam impunes
até hoje a uma série de infrações devido a falhas ou dificuldades para a sua fiscalização.
Na cidade de São Paulo -onde 99 das 100 lombadas eletrônicas ainda não multam motos
por excesso de velocidade-,
elas já somam 10% da frota,
mas receberam neste ano só
3% de todas as autuações feitas
pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
A explicação para esses números está na impunidade,
conforme indicam estudos.
Levantamento feito pela Perkons (empresa que trabalha
com radares) sugere como os
condutores de motocicletas são
potenciais infratores, algo que
agrava os riscos de acidentes.
Foram analisados os registros de janeiro a julho deste ano
em 191 aparelhos de controle
da velocidade de trechos urbanos e estradas, em seis Estados
(RJ, PB, ES, PR, MS e PE).
A proporção de infrações de
motociclistas foi sempre superior à média da frota desses veículos. Na Paraíba, as motocicletas somam 27% da frota, mas
cometeram 85% das infrações
por excesso de velocidade. No
Rio, onde são 9% do total de
veículos, foram responsáveis
por 38% dos flagrantes de lombadas ou bandeiras eletrônicas.
Os equipamentos chegaram
a detectar velocidades de até
138 km/h das motocicletas, em
lugares onde a sinalização permite entre 40 km/h e 60 km/h.
"O motociclista é tentado à
velocidade porque a própria
propaganda estimula isso", diz
José Mário de Andrade, diretor
da Perkons. "Ele é instigado a
andar mais rápido, não só pela
mobilidade que a moto oferece
como pelas condições de trabalho", diz Aldemir Martins, presidente do sindicato dos motoboys em São Paulo.
A impunidade é favorecida
por várias razões: primeiro
porque há órgãos de trânsito
que exigem aparelhos que registrem apenas a placa dianteira -e as motos têm identificação traseira. É o que ocorre, por
exemplo, com 99 das 100 lombadas eletrônicas de São Paulo,
que começaram a ser instaladas
na década passada e cuja concepção tecnológica original só
previa a fotografia pela frente.
Apenas uma na capital, em
testes há quatro meses na av.
Raimundo Pereira de Magalhães, já está adaptada.
Além disso, há um artifício
comum usado pelos que querem burlar a fiscalização dos
radares fixos (são 40 em São
Paulo, mas nem todos fotografam a placa traseira) e móveis
(serão 40 nas próximas semanas): tapar a placa com a mão
quando excedem a velocidade.
Há ainda uma terceira dificuldade citada pela própria
CET. "A placa é muito pequena.
Defendemos um novo modelo,
maior e mais visível", diz Adauto Martinez, diretor de operações da companhia, citando
uma proposta que já é discutida
no Denatran (Departamento
Nacional de Trânsito).
A preocupação com os acidentes envolvendo motos virou
um dos temas centrais de relatório da OMS (Organização
Mundial da Saúde) em 2004.
Neste ano, virou destaque da
Semana Nacional de Trânsito.
Na cidade de São Paulo, em
1997, as motocicletas representavam 8% da frota e 11% das
mortes no trânsito. Em 2005,
os índices atingiam quase 10%
e 23%, respectivamente. Hoje,
há praticamente uma morte de
motociclista por dia. De cada
100 acidentes com motos, há
vítimas em 71. Para carros, essa
proporção é de 7 para 100.
Texto Anterior: Clima: Capital de SP tem queda de temperatura Próximo Texto: "A gente precisa correr muito para sobreviver" Índice
|