São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maiores infratoras, motos ficam impunes

Em SP, 99 das 100 lombadas eletrônicas não flagram motocicletas; tapar a placa é prática comum para burlar radares

Pesquisa mostra que, em pelo menos seis Estados, esses veículos excedem a velocidade em proporção superior à média

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Criticados pelo comportamento de risco no trânsito e alvos de preocupação de especialistas devido ao número crescente de acidentes e mortes, os motociclistas ficam impunes até hoje a uma série de infrações devido a falhas ou dificuldades para a sua fiscalização.
Na cidade de São Paulo -onde 99 das 100 lombadas eletrônicas ainda não multam motos por excesso de velocidade-, elas já somam 10% da frota, mas receberam neste ano só 3% de todas as autuações feitas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
A explicação para esses números está na impunidade, conforme indicam estudos.
Levantamento feito pela Perkons (empresa que trabalha com radares) sugere como os condutores de motocicletas são potenciais infratores, algo que agrava os riscos de acidentes.
Foram analisados os registros de janeiro a julho deste ano em 191 aparelhos de controle da velocidade de trechos urbanos e estradas, em seis Estados (RJ, PB, ES, PR, MS e PE).
A proporção de infrações de motociclistas foi sempre superior à média da frota desses veículos. Na Paraíba, as motocicletas somam 27% da frota, mas cometeram 85% das infrações por excesso de velocidade. No Rio, onde são 9% do total de veículos, foram responsáveis por 38% dos flagrantes de lombadas ou bandeiras eletrônicas.
Os equipamentos chegaram a detectar velocidades de até 138 km/h das motocicletas, em lugares onde a sinalização permite entre 40 km/h e 60 km/h.
"O motociclista é tentado à velocidade porque a própria propaganda estimula isso", diz José Mário de Andrade, diretor da Perkons. "Ele é instigado a andar mais rápido, não só pela mobilidade que a moto oferece como pelas condições de trabalho", diz Aldemir Martins, presidente do sindicato dos motoboys em São Paulo.
A impunidade é favorecida por várias razões: primeiro porque há órgãos de trânsito que exigem aparelhos que registrem apenas a placa dianteira -e as motos têm identificação traseira. É o que ocorre, por exemplo, com 99 das 100 lombadas eletrônicas de São Paulo, que começaram a ser instaladas na década passada e cuja concepção tecnológica original só previa a fotografia pela frente.
Apenas uma na capital, em testes há quatro meses na av. Raimundo Pereira de Magalhães, já está adaptada.
Além disso, há um artifício comum usado pelos que querem burlar a fiscalização dos radares fixos (são 40 em São Paulo, mas nem todos fotografam a placa traseira) e móveis (serão 40 nas próximas semanas): tapar a placa com a mão quando excedem a velocidade.
Há ainda uma terceira dificuldade citada pela própria CET. "A placa é muito pequena. Defendemos um novo modelo, maior e mais visível", diz Adauto Martinez, diretor de operações da companhia, citando uma proposta que já é discutida no Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
A preocupação com os acidentes envolvendo motos virou um dos temas centrais de relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2004. Neste ano, virou destaque da Semana Nacional de Trânsito.
Na cidade de São Paulo, em 1997, as motocicletas representavam 8% da frota e 11% das mortes no trânsito. Em 2005, os índices atingiam quase 10% e 23%, respectivamente. Hoje, há praticamente uma morte de motociclista por dia. De cada 100 acidentes com motos, há vítimas em 71. Para carros, essa proporção é de 7 para 100.


Texto Anterior: Clima: Capital de SP tem queda de temperatura
Próximo Texto: "A gente precisa correr muito para sobreviver"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.