São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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Hospitais suspendem cirurgias

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A alta do dólar em relação ao real está agravando a situação financeira de hospitais públicos do país, fazendo com que alguns serviços e cirurgias que dependam de aparelhos e de material importado sejam suspensos.
No Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP de Bauru (343 km de SP), foram cortadas, desde agosto, a colocação de aparelhos de amplificação sonora e cirurgias de ouvidos biônicos (implante coclear). Os aparelhos são importados dos EUA, da Dinamarca e da Noruega.
Há 60 pacientes na fila de espera do implante (metade só espera a cirurgia). A fila de aparelhos de amplificação tem 2.300 pessoas.
No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o alto custo de próteses, válvulas cardíacas e marca-passos, aliado à grave situação financeira da instituição, fez com que as cirurgias cardíacas caíssem de uma média de 25 para 15 por mês.
Além disso, o hospital está tendo dificuldade para comprar produtos importados, como seringas descartáveis, luvas estéreis, tubos para coleta de sangue e catéteres.
Outro hospital universitário, o Antônio Pedro, da UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói (RJ), enfrenta problemas com fornecedores, como os de filme radiológico, que alegam dificuldades para cumprir contratos assinados antes da alta do dólar.
O hospital de Bauru, chamado de Centrinho, deve R$ 4 milhões para fornecedores. Ele responde por 80% dos implantes feitos pelo SUS no país e 60% das adaptações gratuitas de aparelhos auditivos.
Segundo o superintendente José Alberto de Sousa Freitas, o Centrinho pagava os fabricantes de aparelhos pelo dólar do dia e recebia 60 dias depois do SUS pelo dólar a R$ 1,91 (aparelho auditivo) e R$ 2,43 (implante coclear).
Cada aparelho auditivo custa para o Centrinho de US$ 300 a US$ 600. Já o implante coclear varia de US$ 12 mil a US$ 17 mil.
Para renegociar a dívida, Freitas propôs que o Ministério da Saúde fixe o dólar em R$ 3,25. Segundo ele, o secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco, disse anteontem que o governo tentará resolver o problema.
"Os fornecedores não se interessam em vender porque a gente paga depois da entrega, em 30 dias. Isso não dá a ele nenhuma segurança sobre o valor que vai receber no dia em que precisar pagar a conta da importação em dólar", disse o diretor do hospital da UFRJ, Amâncio Carvalho.
Segundo a assessoria do ministério, a pasta não foi informada por nenhum município ou Estado sobre problemas para comprar material devido à alta do dólar.


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