São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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CARNAVAL 2005

A cinco meses do Carnaval, Psiu já recebeu 12 reclamações sobre barulho em sedes de escolas de samba

Ensaios já incomodam vizinhos em SP

MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Três vezes por semana, o sono da filha de 11 meses da relações-públicas Mariana, 25, é interrompido por fortes batuques de bateria. Ainda faltam cinco meses para o Carnaval, mas ela mora em um prédio em frente à escola de samba Barroca Zona Sul, na Água Funda, zona sul de São Paulo, cujos ensaios já começaram.
Assim como Mariana, outros paulistanos que moram perto de quadras de escolas já estão incomodados. Desde julho, o Psiu (Programa de Silêncio Urbano da Prefeitura de São Paulo) vem registrando reclamações.
Segundo o coordenador-geral do programa, Rosano Pierre Maieto, 12 queixas já foram recebidas só no segundo semestre. A escola com mais reclamações desde julho é a Unidos de Vila Maria, com quatro ocorrências. Em seguida está a Acadêmicos do Tatuapé, com três. A escola já foi multada neste ano, um pouco antes do Carnaval, em R$ 19.533.
Maieto diz que, a partir de dezembro, as reclamações devem, no mínimo, triplicar.
Mariana, que preferiu não revelar o sobrenome, não quer esperar o Carnaval chegar. Ela já está de mudança. A decisão foi tomada quando a filha passou a acordar durante a noite chorando, incomodada com o barulho. Os ensaios (ou festas para arrecadação de fundos) da Barroca Zona Sul ocorrem, segundo ela, às quintas, sextas e sábados -algumas vezes até de madrugada.
Uma vizinha da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi, que não quis dar o nome, já deixou o marido no quarto e foi dormir na sala, onde o barulho é menor. "O pior é que ele dorme como um anjo e não reclama.
Diferentemente de Mariana, que já fez cinco reclamações ao Psiu e chamou até a polícia, ela nunca se queixou oficialmente do barulho. "Achei que eles eram imunes à lei do silêncio", diz.
Na verdade não são. O Psiu pode atuar de acordo com o zoneamento e o horário previstos em lei. O coordenador do órgão explica, no entanto, que algumas vezes a medição é feita, mas o barulho ou vibração gerados pelo estabelecimento ou escola de samba não estão acima do nível médio de barulho na região.
Em casos como o da escola de samba Vai-Vai, cujos ensaios são feitos na rua, no bairro da Bela Vista (centro), a agremiação acaba imune, pois o Psiu atua apenas no controle de lugares fechados -já que as multas são registradas no CCM (Cadastro de Contribuintes Municipais).
Para a presidente da Uesp (União das Escolas de Samba Paulistanas), Léia dos Santos, as escolas de samba não apenas representam a cultura do país mas também fazem importantes trabalhos sociais nas comunidades em que estão localizadas e a maioria delas tem bom relacionamento com a vizinhança. Além disso, ela compara: "É como feira: todo mundo vai, mas ninguém quer na porta de casa".

Mercado imobiliário
Para Léia, uma maneira de evitar dor de cabeça é verificar a proximidade com sedes de escolas de samba antes de comprar ou alugar um imóvel.
Na Aclimação, um prédio de alto padrão está sendo construído em frente a uma praça onde há ensaios de uma escola todo sábado à noite. Os corretores de plantão no edifício não quiseram falar sobre uma possível dificuldade para vender os apartamento, mas alguns vizinhos do local afirmam que um casal desistiu de comprar depois de uma visita que fizeram ao prédio em um sábado à noite.


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