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CARNAVAL 2005
A cinco meses do Carnaval, Psiu já recebeu 12 reclamações sobre barulho em sedes de escolas de samba
Ensaios já incomodam vizinhos em SP
MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL
Três vezes por semana, o sono
da filha de 11 meses da relações-públicas Mariana, 25, é interrompido por fortes batuques de bateria. Ainda faltam cinco meses para o Carnaval, mas ela mora em
um prédio em frente à escola de
samba Barroca Zona Sul, na Água
Funda, zona sul de São Paulo, cujos ensaios já começaram.
Assim como Mariana, outros
paulistanos que moram perto de
quadras de escolas já estão incomodados. Desde julho, o Psiu
(Programa de Silêncio Urbano da
Prefeitura de São Paulo) vem registrando reclamações.
Segundo o coordenador-geral
do programa, Rosano Pierre
Maieto, 12 queixas já foram recebidas só no segundo semestre. A
escola com mais reclamações desde julho é a Unidos de Vila Maria,
com quatro ocorrências. Em seguida está a Acadêmicos do Tatuapé, com três. A escola já foi
multada neste ano, um pouco antes do Carnaval, em R$ 19.533.
Maieto diz que, a partir de dezembro, as reclamações devem,
no mínimo, triplicar.
Mariana, que preferiu não revelar o sobrenome, não quer esperar
o Carnaval chegar. Ela já está de
mudança. A decisão foi tomada
quando a filha passou a acordar
durante a noite chorando, incomodada com o barulho. Os ensaios (ou festas para arrecadação
de fundos) da Barroca Zona Sul
ocorrem, segundo ela, às quintas,
sextas e sábados -algumas vezes
até de madrugada.
Uma vizinha da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi, que
não quis dar o nome, já deixou o
marido no quarto e foi dormir na
sala, onde o barulho é menor. "O
pior é que ele dorme como um
anjo e não reclama.
Diferentemente de Mariana,
que já fez cinco reclamações ao
Psiu e chamou até a polícia, ela
nunca se queixou oficialmente do
barulho. "Achei que eles eram
imunes à lei do silêncio", diz.
Na verdade não são. O Psiu pode atuar de acordo com o zoneamento e o horário previstos em
lei. O coordenador do órgão explica, no entanto, que algumas vezes a medição é feita, mas o barulho ou vibração gerados pelo estabelecimento ou escola de samba
não estão acima do nível médio
de barulho na região.
Em casos como o da escola de
samba Vai-Vai, cujos ensaios são
feitos na rua, no bairro da Bela
Vista (centro), a agremiação acaba imune, pois o Psiu atua apenas
no controle de lugares fechados
-já que as multas são registradas
no CCM (Cadastro de Contribuintes Municipais).
Para a presidente da Uesp
(União das Escolas de Samba
Paulistanas), Léia dos Santos, as
escolas de samba não apenas representam a cultura do país mas
também fazem importantes trabalhos sociais nas comunidades
em que estão localizadas e a maioria delas tem bom relacionamento com a vizinhança. Além disso,
ela compara: "É como feira: todo
mundo vai, mas ninguém quer na
porta de casa".
Mercado imobiliário
Para Léia, uma maneira de evitar dor de cabeça é verificar a proximidade com sedes de escolas de
samba antes de comprar ou alugar um imóvel.
Na Aclimação, um prédio de alto padrão está sendo construído
em frente a uma praça onde há
ensaios de uma escola todo sábado à noite. Os corretores de plantão no edifício não quiseram falar
sobre uma possível dificuldade
para vender os apartamento, mas
alguns vizinhos do local afirmam
que um casal desistiu de comprar
depois de uma visita que fizeram
ao prédio em um sábado à noite.
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