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No RJ, empresa interfere em enredo
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O Carnaval carioca de 2005 terá
estátua de bicheiro, a ONU caindo
no samba e as duas maiores estatais brasileiras financiando um
dos desfiles mais caros da história. Coronelismo, globalização e
muito merchandising se misturam no painel que as 14 escolas do
Grupo Especial mostrarão no
Sambódromo em fevereiro.
A reta final dos trabalhos começa agora, depois que todos os
sambas-enredo foram escolhidos.
Na Grande Rio, a final aconteceu
no último dia 16 e marcou um novo capítulo nas relações cada vez
mais estreitas entre escolas e empresas.
A Nestlé, por meio de um representante, participou da decisão de
juntar pedaços de três finalistas
para costurar o vencedor. Foi a
primeira interferência explícita de
um patrocinador na seleção de
um samba. "As pessoas da Nestlé
são capacitadas para dar opinião e
contribuir com a escola", justifica
o presidente da Grande Rio, Helinho de Oliveira.
A empresa, que investe R$ 2,5
milhões no enredo "Alimentar
Corpo e Alma Faz Bem", não comentou sua participação na escolha. Ressaltou, por meio de sua assessoria, a união entre os seus
programas sociais e os da escola.
Das 14 agremiações, oito contam com patrocínio. Recursos
multinacionais vêm para quatro,
além da Grande Rio: Mocidade
Independente (Tim e empresas
italianas), Tradição (Monsanto e
empresários da soja), Imperatriz
Leopoldinense (Câmara de Comércio Dinamarca-Brasil) e a
Portela, que tem o apoio inusitado das Nações Unidas.
Para divulgar as oito metas que
traçou para o mundo até 2015, a
ONU decidiu usar a Portela como
outdoor. A escola passa por um
momento especial após a saída do
bicheiro Carlinhos Maracanã, que
deu as cartas por 33 anos.
"As pessoas que não iam mais à
escola estão voltando. A ala das
crianças vai sair de novo depois
de 30 anos. A Velha Guarda está
feliz. Será um grande desfile", empolga-se Noca da Portela, legítimo representante das tradições
da escola e um dos autores do
samba-enredo vencedor.
Na ala dos recursos nacionais
destaca-se a Mangueira, que consumirá cerca de R$ 5 milhões vindos da Petrobras e da Eletrobras.
O tema: energia.
"Temos desde 96 um trabalho
social na Mangueira. Por isso, resolvemos dar pela primeira vez
esse tipo de apoio", explica Eliane
Costa, gerente de patrocínio da
Petrobras, que entrará com R$ 3,5
milhões no desfile.
A Beija-Flor, atual bicampeã,
desenvolve outro enredo baseado
em Estados do país. Depois do
Amazonas, é a vez do Rio Grande
do Sul, representado pela história
das missões jesuíticas. O governo
gaúcho está investindo na escola.
Já a Unidos de Vila Isabel conta,
na estréia de Joãosinho Trinta como seu carnavalesco, com verbas
do Sindicato da Construção Naval
para falar de mares e navios.
Seis escolas (ainda) não conseguiram patrocínio. Entre elas está
o Salgueiro, cujo desfile sobre o
fogo será encerrado com uma estátua de Maninho, bicheiro assassinado em 28 de setembro.
A trajetória mais confusa é a da
Caprichosos de Pilares. Em julho,
um grupo comandado por Paulo
de Almeida invadiu a escola e depôs o presidente Aldemar Alberto
Leandro. A Justiça lhe devolveu o
cargo, mas ele voltou a perdê-lo
em setembro.
Almeida, ex-deputado federal,
candidato (PFL) não eleito a vereador em São João de Meriti e ex-presidente da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba),
mudou o enredo, já além do prazo oficial, para 20 anos da Liesa.
De quem mais se espera é Paulo
Barros, que levou a Unidos da Tijuca ao vice-campeonato em 2004
com um enredo não-convencional (sobre ciência). O tema agora
é imaginação. "Vou fugir mais
uma vez desses enredos que as escolas vêm apresentando em busca
de patrocínio", diz Barros.
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