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REFERENDO
Municípios de SP com maiores taxas de homicídio tiveram proporção de "não" inferior à média; "sim" venceu em Diadema
Resultado foi apertado em cidade violenta
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A vitória do "não" no referendo
sobre a proibição da venda de armas foi mais apertada nos municípios do Estado de São Paulo
com maiores taxas de homicídio
doloso (com intenção) em 2004.
O "sim" chegou até mesmo a
ganhar em um deles, Diadema, no
ABC paulista, com 50,22% dos
votos válidos. Em outros 13 dos 14
líderes do ranking de violência, a
votação do "não" prevaleceu, porém em proporção inferior à média paulista -onde 59,55% decidiram manter a comercialização
de armas de fogo e munições.
A constatação é resultado do
cruzamento de estatísticas de
2004 da Secretaria da Segurança
Pública com os dados do TRE
(Tribunal Regional Eleitoral).
Ela confirma uma tendência já
verificada nos distritos da capital
paulista, onde os votos do "sim"
foram vencedores em 3 das 47 zonas eleitorais -justamente nas líderes no ranking de homicídios,
Grajaú, Piraporinha e Parelheiros.
Sumaré e Hortolândia, a 120 km
e a 105 km de SP, próximas de
Campinas, foram os municípios
do Estado com as maiores taxas
de homicídios em 2004: 45,89 e
44,61 por 100 mil habitantes, respectivamente. Na lista dos 15 primeiros aparecem ainda Itaquaquecetuba e Embu -que, ao lado
de Diadema, estão no grupo dos
cinco em São Paulo com melhor
votação do "sim" no referendo.
A tendência de vitória mais
apertada do "não" também se
aplica, em menor proporção, aos
maiores centros urbanos do Estado. Nos oito municípios mais populosos de São Paulo, segundo
dados da Fundação Seade, a votação do "sim" ficou acima da média. Isso indica que a votação pela
manutenção da comercialização
de armas foi mais intensa nas cidades médias e pequenas.
O coronel da reserva José Vicente da Silva, mestre em psicologia
social e ex-secretário nacional de
Segurança Pública, cita como hipótese para esses resultados a
existência de "uma percepção da
violência mais próxima da realidade" nos lugares com mais homicídios, além do fato de essas
pessoas conhecerem com mais
freqüência, no grupo de amigos e
vizinhos, as vítimas de armas.
Silva cita Diadema, onde a votação do "sim" venceu, como um
lugar onde a lei de fechamento de
bares de madrugada, entre outras
ações, mobilizou os habitantes.
"As populações de áreas menos
violentas têm distorção de percepção, tem mais medo do que a
realidade, algo desproporcional",
afirma ele, citando, por exemplo,
moradores de áreas nobres, como
no bairro dos Jardins, na capital.
A hipótese se estende às duas cidades paulistas que tiveram as
maiores proporções de votos do
"não". Fernando Prestes, a 362
km de SP, e Oscar Bressane, a 480
km, registraram 80,91% e 78,77%
de "não", respectivamente.
As duas são pequenas -juntas,
somaram 5.138 votos válidos- e
tidas por ilhas de tranqüilidade.
O último homicídio com arma
de fogo em Fernando Prestes
ocorreu em setembro de 1998,
afirma Claudemir Aparecido Pereira da Silva, delegado da região.
De lá para cá, houve ainda um
crime violento -em janeiro de
2003, quando um rapaz matou
seu vizinho de sítio a paulada.
Mas foi só, "um caso isolado", diz
ele. De 2002 para cá, nem sequer
um roubo foi registrado.
A situação é semelhante em Oscar Bressane, líder em um ranking
de nível de escolaridade da população paulista feito pela Fundação
Seade com dados de 2000. O sargento Ramiro dos Santos, responsável pela PM no local, diz que está lá há 27 anos e, nesse período,
soube de um único homicídio, há
20 anos, por divergência familiar.
"O que tem mais é acidente de
trânsito, briga familiar, mas, mesmo assim, é pouca coisa."
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