São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005

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REFERENDO

Municípios de SP com maiores taxas de homicídio tiveram proporção de "não" inferior à média; "sim" venceu em Diadema

Resultado foi apertado em cidade violenta

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A vitória do "não" no referendo sobre a proibição da venda de armas foi mais apertada nos municípios do Estado de São Paulo com maiores taxas de homicídio doloso (com intenção) em 2004.
O "sim" chegou até mesmo a ganhar em um deles, Diadema, no ABC paulista, com 50,22% dos votos válidos. Em outros 13 dos 14 líderes do ranking de violência, a votação do "não" prevaleceu, porém em proporção inferior à média paulista -onde 59,55% decidiram manter a comercialização de armas de fogo e munições.
A constatação é resultado do cruzamento de estatísticas de 2004 da Secretaria da Segurança Pública com os dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Ela confirma uma tendência já verificada nos distritos da capital paulista, onde os votos do "sim" foram vencedores em 3 das 47 zonas eleitorais -justamente nas líderes no ranking de homicídios, Grajaú, Piraporinha e Parelheiros.
Sumaré e Hortolândia, a 120 km e a 105 km de SP, próximas de Campinas, foram os municípios do Estado com as maiores taxas de homicídios em 2004: 45,89 e 44,61 por 100 mil habitantes, respectivamente. Na lista dos 15 primeiros aparecem ainda Itaquaquecetuba e Embu -que, ao lado de Diadema, estão no grupo dos cinco em São Paulo com melhor votação do "sim" no referendo.
A tendência de vitória mais apertada do "não" também se aplica, em menor proporção, aos maiores centros urbanos do Estado. Nos oito municípios mais populosos de São Paulo, segundo dados da Fundação Seade, a votação do "sim" ficou acima da média. Isso indica que a votação pela manutenção da comercialização de armas foi mais intensa nas cidades médias e pequenas.
O coronel da reserva José Vicente da Silva, mestre em psicologia social e ex-secretário nacional de Segurança Pública, cita como hipótese para esses resultados a existência de "uma percepção da violência mais próxima da realidade" nos lugares com mais homicídios, além do fato de essas pessoas conhecerem com mais freqüência, no grupo de amigos e vizinhos, as vítimas de armas.
Silva cita Diadema, onde a votação do "sim" venceu, como um lugar onde a lei de fechamento de bares de madrugada, entre outras ações, mobilizou os habitantes.
"As populações de áreas menos violentas têm distorção de percepção, tem mais medo do que a realidade, algo desproporcional", afirma ele, citando, por exemplo, moradores de áreas nobres, como no bairro dos Jardins, na capital.
A hipótese se estende às duas cidades paulistas que tiveram as maiores proporções de votos do "não". Fernando Prestes, a 362 km de SP, e Oscar Bressane, a 480 km, registraram 80,91% e 78,77% de "não", respectivamente.
As duas são pequenas -juntas, somaram 5.138 votos válidos- e tidas por ilhas de tranqüilidade.
O último homicídio com arma de fogo em Fernando Prestes ocorreu em setembro de 1998, afirma Claudemir Aparecido Pereira da Silva, delegado da região.
De lá para cá, houve ainda um crime violento -em janeiro de 2003, quando um rapaz matou seu vizinho de sítio a paulada. Mas foi só, "um caso isolado", diz ele. De 2002 para cá, nem sequer um roubo foi registrado.
A situação é semelhante em Oscar Bressane, líder em um ranking de nível de escolaridade da população paulista feito pela Fundação Seade com dados de 2000. O sargento Ramiro dos Santos, responsável pela PM no local, diz que está lá há 27 anos e, nesse período, soube de um único homicídio, há 20 anos, por divergência familiar. "O que tem mais é acidente de trânsito, briga familiar, mas, mesmo assim, é pouca coisa."


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