São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005

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REDUTO DO "SIM"

Para prefeito de Diadema, resultado reflete queda da violência

Ex-líder do ranking condena arma

Fernando Donasci/Folha Imagem
Crianças que participam do projeto "Adolescente Aprendiz", em Diadema (Grande SP)


AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

DANIELA TÓFOLI
ENVIADA A ANGATUBA

Eles ainda não votam, mas engrossaram o coro contra o comércio de armas em Diadema -uma das duas cidades paulistas onde o "sim" ganhou mais votos que o "não". O placar foi de 50,22% a 49,78%.
Alvos de programas de prevenção à violência, crianças e jovens da cidade aprendem desde cedo a discutir a questão das armas e da violência. A medida integra a política de segurança adotada pela prefeitura nos últimos anos, cuja ação mais polêmica é o fechamento de bares entre as 23h e as 6h.
As mudanças fizeram com que a cidade caísse do primeiro lugar no ranking estadual de homicídios por grupos de 100 mil habitantes em 1999, para o 15º lugar, no ano passado.
A venda de armas de brinquedo, por exemplo, é proibida por lei. Além disso, há quatro anos são feitas campanhas de "desarmamento" infantil. Em troca de revistas, as crianças entregam à prefeitura de estilingues e espadas a revólveres incrivelmente semelhantes a armas de verdade. Nesse período, foram coletadas 13.000 armas de brinquedo.
"Aqui a discussão sobre o desarmamento não foi imediatista, é perene. Nossa intenção é desarmá-las no coração", disse a secretária de Defesa Social de Diadema, Regina Miki.
Para o prefeito José de Filippi (PT), o resultado no referendo foi um "voto de confiança" da população pelas mudanças na política de segurança pública.
Nas regiões com maiores índices de violência, os jovens de 14 e 15 anos são convidados a integrar o projeto "Adolescente Aprendiz", no qual tanto recebem noções sobre o mercado de trabalho como aprendem a valorizar a própria comunidade.
Na última semana, eles realizaram um debate sobre o referendo e o "sim". A maioria se posicionou pelo "sim". "Agora que o "não" ganhou, a violência vai continuar", disse Natália de Souza, de 15 anos.

Angatuba
Já o resultado a favor do "sim" no município de Angatuba (210 km da capital) é atribuído ao padre Luiz Antônio Machado de Oliveira. Ele passou as últimas semanas pregando pelo desarmamento na igreja matriz de Angatuba, convencendo os fiéis a votar pelo "sim".
Foi uma disputa acirrada: 51% a 49%. "As missas foram essenciais para o "sim" ganhar aqui", afirma o prefeito José Emílio Carlos Lisboa (PMDB).
Há duas semanas, quando souberam que o desempenho do "não" avançava no município, o padre e o prefeito convenceram as professoras das nove escolas a informar aos pais a importância da votação e tentar reverter o índice.
Os estudantes também mostraram aos parentes e aos vizinhos a importância da votação. Muitos estavam decepcionados ontem. "Pensei que os brasileiros fossem mais solidários. Não entendo porque uma pessoa de bem quer ter arma em casa", diz Daniela Ferreira André, 14.


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