São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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Tese é preconceituosa, afirma socióloga

Para estudiosa, paralelo feito por Cabral entre aborto e criminalidade foi "lamentável", baseado em livro "reacionário"

Afirmações pressupõem que pobres cresçam marginais; segundo antropóloga, natalidade tem diminuído em favelas do Rio de Janeiro

DA SUCURSAL DO RIO

As declarações do governador fluminense Sérgio Cabral Filho sobre aborto e criminalidade foram atacadas por acadêmicos e adversários políticos.
A socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio, considerou a afirmação "lamentável" e afirmou que a tese defendida por ele, a partir do livro "Freakonomics", é atacada pelos principais criminólogos do mundo. Lemgruber participou de debates com um dos autores do livro, o economista norte-americano Stephen Levitt, em que divergiu da tese.
"É absolutamente lamentável que o governador, com a responsabilidade que tem, assuma que os filhos dos pobres devam ser necessariamente marginais. Foi uma frase absolutamente equivocada", afirmou. De acordo com a socióloga, trata-se de tese combatida, "porque é reacionária e preconceituosa" ao pressupor "que filhos de pobres necessariamente crescem para ser marginais."
A antropóloga Alba Zaluar afirmou que, nas favelas do Rio, a taxa de natalidade tem diminuído muito, diferentemente do que acontece no Nordeste. "Ela é altíssima no Nordeste, onde a pobreza é ainda maior e, por algum motivo e outras variáveis, esses marginais não aparecem lá. [É curioso que ele fale isso] justo quando as taxas de natalidade estão caindo muito -o que é comemorado pela área de saúde."

Adversários
O senador Marcello Crivela (PR-RJ), ligado à Igreja Universal e que apoiou Sérgio Cabral no segundo turno da eleição estadual de 2006, discordou das frases do governador. "Morei dez anos na África, e lá não existe essa violência e o tráfico de drogas que temos aqui porque não existe a desigualdade social que temos no Brasil. Aqui, o consumo de drogas é maior exatamente entre a classe A, e não entre os pobres. Por isso, não podemos dizer que a pobreza é sinônimo de produção de marginal".
O ex-governador Anthony Garotinho, presidente regional do PMDB, também atacou a declaração do companheiro de partido. "É uma posição que se assemelha muito ao nazismo. É fruto da prepotência e da arrogância que tomaram conta desse rapaz", afirmou Garotinho, por meio de sua assessoria.
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) também fez críticas. "Defender o aborto como meio de controle da natalidade dos pobres, por serem estes potenciais criminosos, é justificar políticas de extermínio, inclusive na segurança pública", discursou em plenário.
De acordo ele, ao falar sobre o aborto, Cabral ofendeu "as mulheres da Rocinha" e "todas as comunidades pobres".
(SERGIO TORRES E RAPHAEL GOMIDE)


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