São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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Jóias de ouro são trocadas por latão em cofre da polícia

Anéis, brincos e colares de ouro, diamante e esmeralda foram furtados no Instituto de Criminalística, no Rio

Polícia diz desconhecer total de peças levadas, entre elas anel estimado em R$ 50 mil; 15 peritos que tinham acesso ao local são suspeitos

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

Anéis, brincos e colares de ouro, diamante e esmeralda foram furtados de um cofre protegido por quatro portas, em um prédio da Polícia Civil do Rio. As jóias haviam sido apreendidas em uma operação policial e passavam por perícia.
No lugar das peças, os ladrões colocaram anéis de latão e colares prateados.
O crime aconteceu dentro do prédio do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), responsável pelas perícias da Polícia Civil, no centro do Rio. Os 15 peritos que tinham acesso ao local onde ficavam as jóias são os principais suspeitos.
A polícia disse não saber a quantidade de jóias furtadas, mas afirma que ao menos 12 peças foram levadas, todas elas de joalherias de grife. Uma delas, um anel de diamantes, teve o valor estimado em R$ 50 mil.
O sumiço das peças foi notado anteontem por uma das peritas que avaliava as jóias. Segundo a polícia, ela tinha por hábito fotografar todas as peças periciadas. Quando pegou um dos estojos, reparou que faltava uma jóia, e começou a checar novamente outros estojos. Em um deles, percebeu que os anéis eram diferentes dos que tinha fotografado. Ela comunicou o sumiço, e a Corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito.
"Esse crime é quase perfeito. Só não foi perfeito porque a pessoa que subtraiu as jóias jamais podia imaginar que a perita voltaria para conferir, e que ela teria fotografado [as peças]", disse a corregedora da Polícia Civil, Ivanete Araújo.
Para chegar ao cofre onde ficam as jóias, é preciso passar por quatro portas: uma gradeada, uma inteiramente de ferro, outra de madeira e uma quarta de aço fina com uma grade acoplada, que dava acesso direto ao compartimento.
"A pessoa, para entrar lá, teria que ter, no mínimo, uma das chaves das portas. E teria que conhecer a mecânica do local, porque quem pegou os bens não apenas furtou, mas também substituiu por outras peças. Ele substituía de tal forma que ficava o mesmo número de peças", disse Araújo.
As peças, contudo, foram furtadas após serem retiradas do cofre para ir à perícia. Enquanto não eram periciadas, elas ficavam dentro de estojos em uma sala, no mesmo setor. A polícia acredita que as jóias foram furtadas nessa sala.
Os 15 funcionários suspeitos são peritos concursados e trabalham dentro do setor de merceologia, no segundo andar do prédio, mas apenas alguns deles têm as chaves.
"É praticamente impossível não ter sido um funcionário. Tinha que ser uma pessoa que conhecia muito bem o setor, sabia onde eram armazenadas [as jóias], sabia a rotina dentro do setor", afirmou a corregedora.
As jóias haviam sido apreendidas em uma operação da Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado), em março, para coibir uma quadrilha que roubava jóias de casas de classe alta na zona sul do Rio e na Barra da Tijuca (zona oeste) e as revendia para joalherias. A investigação começou em maio de 2007, quando criminosos invadiram a casa da ex-Miss Brasil Leila Schuster, na Barra.
Após rastrear as peças roubadas, os policiais apreenderam o material e o enviaram, em julho, ao ICCE, para que os investigadores estimassem um valor e acionassem os possíveis proprietários. O delegado Fábio Cardoso, da Draco, afirmou que esperava há quatro meses a conclusão da perícia. "Nós nem sabíamos disso [furto]. Fizemos várias remessas, desde maio. Era muita jóia."


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