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Tráfico de drogas disputa mercado em morros no Rio
Traficantes perdem clientela da classe média e passam a explorar comércio nas favelas
Chegada de crack no Rio indica nova dinâmica no varejo de drogas; aumento da violência afasta os consumidores dos morros
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Crianças em Cidade de Deus, que recebeu unidade pacificadora
CLAUDIA ANTUNES
ITALO NOGUEIRA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
As facções do tráfico nas favelas do Rio perderam nos últimos anos parte da clientela de
classe média, e seus lucros dependem cada vez mais das próprias comunidades, o que provoca maior disputa por territórios entre elas.
Há dois sinais disso, segundo
especialistas ouvidos pela Folha. O primeiro é a entrada do
crack na cidade -a droga, consumida pelos mais pobres, era
inexistente no Rio há cinco
anos. O segundo é a exploração
pelos traficantes, via taxação
ou "concessão", de serviços como transporte alternativo
(vans), distribuição de botijões
de gás e mototáxi.
Essa nova dinâmica do varejo
de drogas está ligada às últimas
disputas de território entre
quadrilhas das três facções do
Rio -Comando Vermelho
(CV), Terceiro Comando (TC) e
Amigo dos Amigos (ADA).
"O morro dos Macacos nunca
foi ponto importante de vendas. Mas a redução do lucro aumenta a necessidade de buscar
novas áreas", diz Michel Misse,
do Núcleo de Estudos da Violência Urbana da UFRJ.
Ele se refere ao caso de oito
dias atrás, quando um helicóptero policial foi derrubado durante invasão do CV, que tentou tomar a favela de Vila Isabel
(zona norte) dos rivais da ADA.
Exemplo citado por Silvia
Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e
Cidadania da Universidade
Candido Mendes, ilustra a diversificação do negócio.
No Carnaval de 2008, faltou
consumidor na "boca" da Mangueira (zona norte). Para se capitalizar, traficantes roubaram
um caminhão de cerveja e avisaram os donos das biroscas da
redondeza de que só podiam
vender as deles quando acabassem as do "patrão".
Três fenômenos explicam o
fato de parte da classe média do
Rio ter deixado de "subir o
morro" para obter drogas: o aumento da violência, com incursões policiais mais frequentes e
traficantes mais truculentos; o
aumento do uso de drogas sintéticas, como o ecstasy; e o tráfico operado pela própria classe
média, com opção de pedir por
telefone a entrega da droga.
Ainda existe quem compre
na favela, em bailes funk ou por
meio dos garotos que vendem
nas ruas próximas das bocas de
fumo. "Antes havia filas intermináveis. Hoje há compra nos
bairros próximos", diz Misse.
O chefe da Polícia Civil do
Rio, Alan Turnowski, diz que a
prática de cobrar por serviços
ainda é uma decisão do chefe
do tráfico em cada área.
Um estudo da Secretaria de
Fazenda do Estado que tentou
medir a rentabilidade do tráfico apontou que a exploração de
serviços "pode se tornar uma
forma de diluir custos fixos".
Em toda capital, segundo
margem ampla do governo, o
lucro anual fica entre R$ 26 milhões e R$ 236 milhões. Os traficantes atuariam próximo ao
seu custo de "manutenção".
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