São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Milícias de policiais ganham mais espaço

Expansão de grupos, que já controlam cerca de 200 áreas pobres da cidade, depende também da exploração de serviços

Fonte de renda também está na extorsão; ocupação paramilitar de território distingue o crime carioca do de outras cidades do país

DA SUCURSAL DO RIO

Outro sinal da mudança no padrão histórico de atuação das facções do tráfico no Rio de Janeiro é a perda de espaço para as milícias de policiais e ex-policiais, que se expandiram nesta década.
São cerca de 200 áreas pobres, incluindo favelas, dominadas por milícias, segundo a Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado), e 328 favelas (de 968) ocupadas pelo tráfico, conforme estimativa feita há dois anos pela Secretaria de Segurança do Estado.
A fonte de renda das milícias, além da extorsão em troca de "proteção", são também os serviços, o que demonstra a lucratividade da ocupação paramilitar de território, que distingue o crime carioca do de outras cidades brasileiras.
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias, afirma que em Rio das Pedras (Jacarepaguá, zona oeste) milicianos faturam US$ 170 mil por dia com as cooperativas de van.
"A cultura da territorialidade virou problema maior no Rio do que a droga em si", diz Silvia Ramos, da Universidade Candido Mendes.
Michel Misse, da UFRJ, vê a entrada do crack como um indicador de desorganização do tráfico. Mas Luis Flávio Sapori, professor da PUC de Minas, secretário-adjunto de Segurança do Estado entre 2003 e 2007, prevê que, num volume alto, a droga pode vir a ser tão lucrativa quanto a cocaína.
Para Sapori, o provável é que o crack tenha entrado no Rio por meio de São Paulo. Ele não considera "muito esclarecida" a aliança entre CV e PCC (Primeiro Comando da Capital), embora no Rio diga-se que a facção paulista faz "venda casada" de armas e droga.
O professor diz que a "oligopolização" do tráfico no Rio facilita o domínio territorial, em contraste com a fragmentação que existe em Belo Horizonte e Recife, ou o monopólio do PCC em São Paulo.
É improvável que as quadrilhas do Rio comprem diretamente de fornecedor no exterior. Há intermediários, diz Sapori. "A turma do CV, da ADA, é do varejo. A cocaína que vem de fora ainda é a pasta base. É preciso alguém com capital para transformá-la em pó, em laboratórios clandestinos. Esse atacadista pode vender para vários varejistas."
O CV ainda é a mais poderosa e hierarquizada facção do Rio. Seus principais líderes estão na cadeia há anos e continuam sendo ouvidos pelos comparsas soltos. Há nesse comportamento dois componentes importantes: a tradição da obediência e o pragmatismo de todo traficante que sabe que um dia vai parar na prisão.
"Dentro da cadeia, ele vai encontrar aquele que vai lhe estender a mão ou prejudicá-lo", disse à Folha, em 2007, o ex-presidiário Paulo César Chaves, o PC.
Hoje muito doente, PC é remanescente do grupo que criou o CV, no presídio da Ilha Grande. Na cadeia, conviveu com os chefes atuais do CV. "Os líderes da atualidade são pessoas sem nenhuma consciência, só têm a mentalidade do mal. São doentes mentais, pessoas completamente alienadas."

Texto Anterior: Tráfico de drogas disputa mercado em morros no Rio
Próximo Texto: Para PF, em SP, monopólio das drogas é do PCC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.