São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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Novo modelo reduz tiroteios, mas atrito com polícia persiste

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

JOÃO PAULO GONDIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, RIO

Morador do morro Dona Marta, em Botafogo, zona Sul do Rio, o estoquista Eliézio Conceição, 28, diz que a maior mudança do morro, desde que a UPP (Unidade de Policiamento Pacificador) foi implantada, há dez meses, é o fato de seus sobrinhos hoje brincarem nas ruelas. Mas nem tudo é elogio.
"Com medo de tiros, minha mãe me trancava em casa. Perdi amigos no tráfico. Meus sobrinhos não passarão por isso. Mas vejo moradores sendo revistados sem motivo. Ninguém pode fazer festa tarde porque a polícia manda parar".
Eliézio é o reflexo de quão longe a atuação dos policiais está da unanimidade. A comunidade foi a primeira a receber a UPP, em dezembro, depois de um mês ocupada pela PM.
As unidades pacificadoras são o modelo em que o governo do Rio aposta para retomar as favelas. Segundo pesquisa feita em maio pela Fundação Getúlio Vargas com 600 moradores, 58,4% deles acham que a segurança melhorou com a presença da UPP. Para 68%, a criminalidade caiu. É comum ouvir que "a favela está mais tranquila" nos becos da favela.
"Às vezes eu esperava horas para poder subir por causa dos tiroteios", diz o pastor Valdecir Pereira. "Restaurantes de Botafogo agora ajudam nas festas da comunidade", diz José Mário Hilário, presidente da associação de moradores.
Mareli Wagner, 43, mora em Botafogo há 24 anos e nunca tinha subido a favela. A primeira vez foi anteontem. Procurava uma casa para a irmã alugar. "Ouvia coisas horríveis sobre a violência aqui. Mas agora mudou". Não conseguiu o que queria. "Agora não há mais casas."
Em outro acesso ao morro, a revista a dois homens por PMs -liberados em seguida- era observada por moradores irritados. Eles relatam que as abordagens são truculentas.
"Tenho um amigo aqui no morro que diz que UPP significa unidade de polícia problemática. Eu já tive problemas com policiais daqui", afirmou a técnica de enfermagem Sônia Maria de Oliveira, 48, moradora da comunidade Santa Marta, primeira a abrigar uma unidade, em dezembro de 2008. Sônia move um processo contra a polícia. "Eles jogaram spray de pimenta nos meus olhos após eu defender meu sobrinho de uma arbitrariedade", relata.
Levado algemado à delegacia, o sobrinho foi acusado de desacato, resistência, desobediência e lesão corporal. "De vítima, meu sobrinho passou a autor de agressões. Decidimos entrar com uma ação". Em agosto, Ministério Público autuou os PMs como autores de "crime de abuso de autoridade".
O produtor cinematográfico Antônio Guedes discorda. "A truculência depende de como se reage à abordagem. Sou revistado e acho normal."
Pelo menos uma regra foi bem entendida. Quase todas as ligações de luz na favela eram clandestinas. Depois que a UPP chegou, a Light regularizou tudo e, em setembro, emitiu as primeiras cobranças. O índice de contas em dia atingiu 90%, contra 75% na média do asfalto. Mais de um terço foi pago antes do vencimento.




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