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Novo modelo reduz tiroteios, mas atrito com polícia persiste
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
JOÃO PAULO GONDIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, RIO
Morador do morro Dona
Marta, em Botafogo, zona Sul
do Rio, o estoquista Eliézio
Conceição, 28, diz que a maior
mudança do morro, desde que a
UPP (Unidade de Policiamento
Pacificador) foi implantada, há
dez meses, é o fato de seus sobrinhos hoje brincarem nas
ruelas. Mas nem tudo é elogio.
"Com medo de tiros, minha
mãe me trancava em casa. Perdi amigos no tráfico. Meus sobrinhos não passarão por isso.
Mas vejo moradores sendo revistados sem motivo. Ninguém
pode fazer festa tarde porque a
polícia manda parar".
Eliézio é o reflexo de quão
longe a atuação dos policiais está da unanimidade. A comunidade foi a primeira a receber a
UPP, em dezembro, depois de
um mês ocupada pela PM.
As unidades pacificadoras
são o modelo em que o governo
do Rio aposta para retomar as
favelas. Segundo pesquisa feita
em maio pela Fundação Getúlio Vargas com 600 moradores,
58,4% deles acham que a segurança melhorou com a presença da UPP. Para 68%, a criminalidade caiu. É comum ouvir
que "a favela está mais tranquila" nos becos da favela.
"Às vezes eu esperava horas
para poder subir por causa dos
tiroteios", diz o pastor Valdecir
Pereira. "Restaurantes de Botafogo agora ajudam nas festas
da comunidade", diz José Mário Hilário, presidente da associação de moradores.
Mareli Wagner, 43, mora em
Botafogo há 24 anos e nunca tinha subido a favela. A primeira
vez foi anteontem. Procurava
uma casa para a irmã alugar.
"Ouvia coisas horríveis sobre a
violência aqui. Mas agora mudou". Não conseguiu o que queria. "Agora não há mais casas."
Em outro acesso ao morro, a
revista a dois homens por PMs
-liberados em seguida- era
observada por moradores irritados. Eles relatam que as abordagens são truculentas.
"Tenho um amigo aqui no
morro que diz que UPP significa unidade de polícia problemática. Eu já tive problemas
com policiais daqui", afirmou a
técnica de enfermagem Sônia
Maria de Oliveira, 48, moradora da comunidade Santa Marta,
primeira a abrigar uma unidade, em dezembro de 2008. Sônia move um processo contra a
polícia. "Eles jogaram spray de
pimenta nos meus olhos após
eu defender meu sobrinho de
uma arbitrariedade", relata.
Levado algemado à delegacia,
o sobrinho foi acusado de desacato, resistência, desobediência e lesão corporal. "De vítima,
meu sobrinho passou a autor
de agressões. Decidimos entrar
com uma ação". Em agosto, Ministério Público autuou os PMs
como autores de "crime de abuso de autoridade".
O produtor cinematográfico
Antônio Guedes discorda. "A
truculência depende de como
se reage à abordagem. Sou revistado e acho normal."
Pelo menos uma regra foi
bem entendida. Quase todas as
ligações de luz na favela eram
clandestinas. Depois que a UPP
chegou, a Light regularizou tudo e, em setembro, emitiu as
primeiras cobranças. O índice
de contas em dia atingiu 90%,
contra 75% na média do asfalto.
Mais de um terço foi pago antes
do vencimento.
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