São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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Após sofrer acidente, ex-motociclistas se tornam jogadores de "vôlei sentado"

BRUNA BORGES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No Brasil entre os jogadores do voleibol paraolímpico muitos são ex-motociclistas que se envolveram em acidentes de trânsito.
Foi assim com Renato de Oliveira, 27, que em 2002 havia sido aprovado na fase inicial de seleção do time de futebol São Caetano e trabalhava como motoboy.
Naquele ano, sofreu um grave acidente com sua moto ao bater em um carro e teve de amputar a perna direita.
Foi depois disso que buscou alternativas para continuar praticando esportes. Conseguiu no vôlei se tornar um atleta. A modalidade é jogada sentada. "Se isso aconteceu comigo, eu vou me superar, vou treinar e me tornar um atleta de ponta no mundo do paraolímpico."
Ele não virou jogador de futebol profissional, mas foi eleito três vezes o melhor paraatleta de vôlei nacional e fez faculdade de educação física. Hoje é pós-graduado em atividade física adaptada pela Unifesp e, nos fins de semana, joga futebol com os amigos usando uma prótese.
Segundo o Hospital das Clínicas da USP, entre maio e julho de 2009, metade dos atendimentos a vitimas de acidentes de trânsito era com motociclista. E desses atendimentos, 81% eram homens.
Na cidade de São Paulo foram atendidos 8.117 motociclistas em 2008 de acordo com o Corpo de Bombeiros. O número corresponde às vítimas que sobreviveram aos acidentes. No ano anterior, o índice foi de 6.397 pessoas.
"As vantagens do vôlei sentado são não oferecer risco, ser de grande readaptação e funcionar como um meio de reinserção na sociedade", diz Lais Miller, médica da AACD.
Atualmente, no Brasil existem 20 times masculinos e seis femininos filiados à Associação Brasileira de Voleibol Paraolímpico.

Depressão
Muitos dos atletas têm depressão antes de conhecer o esporte. Deivisson Santos, 26, perdeu a perna esquerda há sete anos e treina vôlei sentado há três. É medalhista de ouro do Parapan de 2007 e jogou em Pequim.
Mas, por muito tempo perdeu a vontade de sair e de fazer o que gostava. Em 2002, um carro de polícia bateu em sua moto e ele teve de amputar a perna esquerda.
"Na época eu pensei: minha vida acabou. Só fiquei melhor quando percebi que outras pessoas que passaram pela mesma situação conseguiam fazer muitas coisas."
Santos e o ex-motoboy treinam com Wellington Platini da Anunciação, 24, no time paulistano Cruz de Malta/ Nossa Caixa no Colégio Nova Escola, que cede a quadra.
Wellington gasta uma hora e 20 minutos para ir de Osasco, onde mora, até o treino.
Em 2005, atravessava um cruzamento quando um carro não o viu. Após uma semana, amputou a perna direita.
Os treinos sempre ocorrem à noite porque todos os jogadores precisam trabalhar em atividades extras para assegurar a renda. Apesar do esforço, Wellington não desiste do esporte. "É muito pior você pensar que é um coitado e se acomodar. O esporte não deixa você ser assim."

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