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foco
Após sofrer acidente,
ex-motociclistas se tornam
jogadores de "vôlei sentado"
BRUNA BORGES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No Brasil entre os jogadores do voleibol paraolímpico
muitos são ex-motociclistas
que se envolveram em acidentes de trânsito.
Foi assim com Renato de
Oliveira, 27, que em 2002 havia sido aprovado na fase inicial de seleção do time de futebol São Caetano e trabalhava como motoboy.
Naquele ano, sofreu um
grave acidente com sua moto
ao bater em um carro e teve
de amputar a perna direita.
Foi depois disso que buscou alternativas para continuar praticando esportes.
Conseguiu no vôlei se tornar
um atleta. A modalidade é jogada sentada. "Se isso aconteceu comigo, eu vou me superar, vou treinar e me tornar
um atleta de ponta no mundo
do paraolímpico."
Ele não virou jogador de futebol profissional, mas foi
eleito três vezes o melhor paraatleta de vôlei nacional e fez
faculdade de educação física.
Hoje é pós-graduado em atividade física adaptada pela
Unifesp e, nos fins de semana,
joga futebol com os amigos
usando uma prótese.
Segundo o Hospital das Clínicas da USP, entre maio e julho de 2009, metade dos
atendimentos a vitimas de
acidentes de trânsito era com
motociclista. E desses atendimentos, 81% eram homens.
Na cidade de São Paulo foram atendidos 8.117 motociclistas em 2008 de acordo
com o Corpo de Bombeiros. O
número corresponde às vítimas que sobreviveram aos
acidentes. No ano anterior, o
índice foi de 6.397 pessoas.
"As vantagens do vôlei sentado são não oferecer risco,
ser de grande readaptação e
funcionar como um meio de
reinserção na sociedade", diz
Lais Miller, médica da AACD.
Atualmente, no Brasil existem 20 times masculinos e
seis femininos filiados à Associação Brasileira de Voleibol
Paraolímpico.
Depressão
Muitos dos atletas têm depressão antes de conhecer o
esporte. Deivisson Santos, 26,
perdeu a perna esquerda há
sete anos e treina vôlei sentado há três. É medalhista de
ouro do Parapan de 2007 e jogou em Pequim.
Mas, por muito tempo perdeu a vontade de sair e de fazer o que gostava. Em 2002,
um carro de polícia bateu em
sua moto e ele teve de amputar a perna esquerda.
"Na época eu pensei: minha
vida acabou. Só fiquei melhor
quando percebi que outras
pessoas que passaram pela
mesma situação conseguiam
fazer muitas coisas."
Santos e o ex-motoboy treinam com Wellington Platini
da Anunciação, 24, no time
paulistano Cruz de Malta/
Nossa Caixa no Colégio Nova
Escola, que cede a quadra.
Wellington gasta uma hora
e 20 minutos para ir de Osasco, onde mora, até o treino.
Em 2005, atravessava um
cruzamento quando um carro não o viu. Após uma semana, amputou a perna direita.
Os treinos sempre ocorrem
à noite porque todos os jogadores precisam trabalhar em
atividades extras para assegurar a renda. Apesar do esforço, Wellington não desiste do
esporte. "É muito pior você
pensar que é um coitado e se
acomodar. O esporte não deixa você ser assim."
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