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São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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SP 450

Shopping abriu as portas há 37 anos, introduzindo em São Paulo o então recém-criado estilo americano de fazer compras

IGUATEMI inaugurou comércio "indoor" na cidade


Interior do Iguatemi no dia na inauguração


KIYOMORI MORI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aos 64 anos, o comerciante Vidal Veicer ainda se lembra da primeira vez que viu de perto Chico Buarque de Holanda, Nara Leão e Chico Anísio juntos: 28 de novembro de 1966.
Não que ele estivesse muito interessado na trupe artística naquele dia. Estava lá para conferir, ao lado de outras 5.000 pessoas, a festa de inauguração do Iguatemi, o primeiro shopping center do Brasil.
"Eu quase não aproveitei o show. Estava mais preocupado com o sucesso da minha loja no novo empreendimento", recorda o bem-humorado comerciante, dono da rede de lojas Arvi, de bolsas e acessórios para viagens, que até hoje funciona no shopping Iguatemi, localizado na avenida Brigadeiro Faria Lima, nos Jardins.
Nos EUA, o primeiro shopping havia surgido em 1922, na cidade de Kansas -o estabelecimento continua em pleno funcionamento. A dúvida, em meados dos anos 60, era saber se o mesmo modelo se aplicaria ao Brasil.
"O conceito era novo. Estávamos importando para cá um padrão de comércio de sucesso nos Estados Unidos, mas ninguém estava 100% seguro de que o protótipo funcionaria no nosso comércio", recorda Veicer.
No total, eram 75 lojas de grifes reunidas em um único espaço. Corredores cobertos e estacionamento foram as armas utilizadas para atrair o refinado consumidor da rua Augusta, coqueluche do comércio na década de 60, para fazer as compras naquele novo espaço comercial.
Mas a maior dificuldade, segundo Veicer, foi fazer com que as pessoas trocassem o hábito de compra "de rua" pelo novo tipo de conceito de compras "indoor", dentro de um local fechado.
"Muita gente vinha aqui apenas para visitar, passear e ver de perto a novidade. Às vezes, aparecia até excursão do interior e de escolas para trazer os curiosos. Todo mundo queria conhecer o tal shopping", conta. "Mas comprar que era bom, quase nada", brinca.
Para piorar, o lugar era tranqüilo demais. Localizado então numa área residencial, o terreno escolhido era a chácara onde Eduardo Matarazzo (tio-avô do senador petista) passava os finais de semana e montava a cavalo. Cercada de verde, alguns pequenos comércios e casarões, a estreita rua Iguatemi não parecia ser exatamente o tipo de lugar que um dia se tornaria pólo de comércio chique de São Paulo.
"Cinemas e ar-condicionado central foram melhorias que só surgiram anos depois. Como ainda não havia parâmetros nem concorrência de outros shoppings, era difícil saber o que deveria ser inovado para atrair mais público. Tudo era um grande laboratório", afirma Veicer. A criação da praça de alimentação, por exemplo, ocorreu na década de 70. A instalação do relógio d'água, com 250 litros e 120 metros de vidro, projetado pelo estilista francês Gitton Bernard, aconteceu apenas em 1982.
"O crescimento urbano e o aumento da violência fizeram com que as pessoas buscassem o conforto e a segurança do shopping", acredita o comerciante.
Em pouco mais de cinco anos, o número de lojas já havia chegado a 160 (hoje são 330), demonstrando que a fórmula norte-americana deu certo em São Paulo. Veicer, por exemplo, fechou suas lojas de rua e apostou de vez em lojas de shoppings. "Definir hoje o paulistano como alguém que adora shopping é motivo de orgulho para quem ajudou a trazer esse conceito para cá", afirma.


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