São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004

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MISS CARCERAGEM

Fernanda Maria de Jesus, há dois anos e sete meses cumprindo pena, ganhou concurso em SP

Presa por tráfico é a beldade dos presídios

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Atrás das grades das prisões femininas do Estado de São Paulo, entre as 3.660 mulheres invisíveis que ali vivem, está uma miss de coroa de pedras brilhantes.
É Fernanda Maria de Jesus, 24, presa há dois anos e sete meses na penitenciária de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, por tráfico de drogas. Ela foi a vencedora do primeiro concurso de beleza realizado em presídios de São Paulo.
O evento, batizado de Reescrevendo o Futuro, aconteceu ontem na Penitenciária Feminina do Butantã (zona oeste), onde foi montado um palco para as apresentações de 40 detentas finalistas de quatro categorias: beleza, simpatia, prosa e poesia.
Todas elas usavam vestidos longos, coloridos, e equilibravam-se em cima dos saltos altos que havia anos não usavam.
"Havia oito anos eu não vestia uma roupa assim. Estou sempre com aquela calça bege e as camisetas brancas [uniforme das detentas]. É um tédio! Agora sim. Estou me sentindo até mais leve", diz Patrícia Ragazzi, 30, presa por assalto a mão armada.
Nos bastidores, o vai-e-vem de cabelos ajeitados, bocas pintadas e unhas feitas era de derrubar qualquer fantasia sobre criminosas. No lugar do medo, os sorrisos. "Nós não somos essas monstruosidades que imaginam por aí", afirma Flávia Dias, 31, também presa por assalto.
No lugar da violência, uma vaidade teimosa, de quem quer estar bela mesmo sem ninguém do lado de fora dos muros ver. "Não é porque estamos presas que vamos ficar descuidadas. Temos amor próprio", decreta a miss Fernanda, que diz ter ensaiado à exaustão os passos do desfile que mostrou aos jurados, entre eles o apresentador de televisão Raul Gil e o colunista da Folha Jorge Coli. "Andava com livros na cabeça dentro da cela para treinar os passos", confessa.
Foram mais de seis horas de festa, encerradas por um show do cantor Fábio Jr. Na platéia, entre gritos e dancinhas, uma presa comentava com outra: "Hoje está tudo lindo, mas é só ilusão. Amanhã, volta tudo ao normal de novo".


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