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Operador diz que desconhecia plano do Legacy
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Segundo os primeiros depoimentos de controladores de
vôo que atuavam no dia do
maior acidente aéreo da história brasileira, um sargento de
Brasília, de 22 anos, considerou
ter dado uma orientação "parcial" ao informar seu colega em
São José dos Campos (SP) que
o Legacy estava autorizado a
voar a 37 mil pés (11,2 km).
Nos depoimentos, aos quais a
Folha teve acesso, ele admitiu
que desconhecia a previsão de
três altitudes diferentes. Disse
que, ao receber o pedido de São
José para confirmar a autorização de vôo do Legacy, "não tinha informações de que a aeronave pretendia, em seu plano,
modificar o seu nível de vôo em
Brasília nem na posição Teres
[já em Mato Grosso]".
Como se sabe, o Legacy seguiu em 37 mil pés até se chocar com o Boeing, em Mato
Grosso, desrespeitando o plano
de vôo, que previa uma descida
até 36 mil pés após a passagem
por Brasília e a subida a 38 mil
pés pouco antes da colisão.
A alegação do militar foi a de
que essas informações não
eram visíveis na "strip eletrônica", ou seja, no registro do
plano de vôo nos radares do
Cindacta-1, o centro de controle que tem sede em Brasília e ao
qual a torre de São José está subordinada. O delegado argumentou que as informações
completas seriam facilmente
obtidas por meio da "tecla especial". O militar respondeu
que "não entendeu ser necessário acessá-la", pois ele se limitava às especificações do vôo
apenas no setor número um
-ou seja, até Brasília, não no
restante do trajeto.
O suboficial de 52 anos de
São José que conversou com o
controlador e depois autorizou
a decolagem do Legacy disse à
PF que tinha conhecimento
dos três níveis e que, ao consultar "o controle competente em
Brasília", recebeu como resposta que estava autorizado "o
nível 370 na proa de Poços de
Caldas [MG]". Depois, "transmitiu a autorização [aos pilotos
americanos] nesses exatos termos". Na conversa entre os
dois controladores, o de São
José se referiu à rota "São José-Eduardo Gomes", que foi
depois repassada pela torre ao
Legacy, junto com a altitude de
37 mil pés, e pode ter induzido
os pilotos a achar que deveriam
ir sempre no mesmo nível até o
destino final, Manaus.
O controlador de Brasília argumentou que interpretou a
menção "São José-Eduardo
Gomes" "apenas como uma
forma de identificação de qual
vôo e aeronave se estava tratando e não da extensão completa da autorização que seria
recebida".
Os depoimentos confirmam
que um outro sargento, de 27
anos, não percebeu que o sistema corrigiu automaticamente
o plano de vôo virtual do Legacy quando este passou por
Brasília, mostrando altitudes
previstas e não as que estavam
efetivamente sendo voadas. O
transponder do Legacy ficou
inoperante -tirando do sistema sua altitude real.
O sargento alegou que estava
ocupado "com outros tráfegos
[aviões]". Segundo a FAB, eram
cinco os aviões controlados por
ele, abaixo do limite de 14.
Nos depoimentos, em 35 páginas, os controladores dizem
que estavam sem sobrecarga. O
tráfego estava tranqüilo e que
eles estavam dentro de escalas
normais de trabalho e folga.
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