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Lei Maria da Penha é criticada por rigidez
Secretário de Segurança de Santa Catarina diz que a nova legislação deu foco muito repressivo à violência doméstica
Para governo federal, problema é que alternativas propostas, como centros de reabilitação para agressores, não saíram do papel
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
A rigidez da lei federal Maria
da Penha, que pune com prisão
a violência contra mulheres, está criando uma deformação no
sistema prisional e um grave
problema social. Essa é a avaliação do secretário da Segurança de Santa Catarina, Dejair
Vicente Pinto, que determinou
que todos os presos enquadrados na lei sejam colocados em
celas separadas no Estado.
No dia 9 deste mês, o aposentado Leandro de Oliveira, 51, foi
espancado até a morte por colegas de cela em Joinville. Segundo o secretário, ele foi preso por
dar um tapa na mulher -um
revide após ela ter arremessado
um ferro de passar contra ele.
"Esse caso era passível de intervenção policial ou social?",
questiona Pinto. "A repressão
não é a solução do problema.
Muitos dos presos após essa lei
poderiam responder em liberdade. Talvez passar uns dois ou
três dias contidos para sentir
mais de perto os efeitos de lei."
Segundo ele, os presos decorrentes da aplicação dessa lei
passaram a ser alvos de violência. "A massa carcerária não tolera algumas práticas criminosas. Há preocupação do Estado
em proteger as pessoas."
De janeiro a setembro, apenas uma pessoa foi presa em
Florianópolis por violência doméstica. Após a lei entrar em
vigor, houve 37 prisões. "A lei
Maria da Penha deu um foco
muito repressivo à questão da
violência doméstica, que é algo
bem mais complexo."
Nos últimos 40 dias, houve
cinco casos de violência contra
mulheres em Santa Catarina
que acabaram em morte -na
noite de quarta-feira, a agricultora Sirlei Sgarbossa Andolfatto, 33, foi morta a pedradas pelo
marido, Gilberto Rivelino Andolfatto, 36, em Concórdia, durante uma briga.
Centros de reabilitação
Para a subsecretária de Programas e Ações Temáticas da
Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres, Aparecida
Gonçalves, a lei não defende cadeia para os agressores. O problema é que as alternativas propostas pela lei, como a criação
de centros de reabilitação para
os agressores, ainda não foram
postas em prática.
"A gente sabia que haveria
críticas. Mas essas [do secretário] não são procedentes. A lei
não é só repressiva. Prevê que
haja centros de reabilitação para o agressor. A grande questão
é que os governos federal e estadual e os municípios ainda
não foram capazes de criar essas alternativas."
Segundo ela, apenas um capítulo trata das medidas de proteção. "São 40 outros que fazem referência a medidas de
prevenção e atendimento. "São
anos para adequar a legislação",
diz. "A cada 15 segundos uma
mulher é espancada e violentada neste país. A sociedade e o
Estado sempre foram omissos
em relação à violência doméstica. O que a lei traz de novo é que
o problema passa a ser responsabilidade do Estado."
Hoje, Dia Internacional da
Não-Violência contra a Mulher, a Folha reconta abaixo
três casos recentes de violência
contra a mulher que terminaram em tragédia.
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