São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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PAULO E YARA

Suspeita de traição faz bancário atropelar e matar mulher na frente dos filhos, em Santa Catarina

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS E JOINVILLE

Parece coisa de livro: bancário, filho único, tímido e introspectivo, o rapaz da história se apaixona de saída pela exuberante operadora de telemarketing, uma moça experiente com os homens, vaidosa e de grandes ambições.
O final é trágico. Cerca de três anos depois, ele suspeita que é traído, atropela a mulher e a prensa contra um muro de pedras, na frente do filho do casal e da filha dela.
O caso de Paulo Eduardo Steinbach, 32, e Yara Margareth Paz, 28, foi parar nas primeiras páginas dos jornais e nos telejornais.
Foi um gesto de amor, argumenta o advogado Moacir João Daldon, que defende Steinbach. "Ele era completamente apaixonado pela Yara e sabia que estava sendo traído. Ouviu na secretária eletrônica o amante dizer que "foi muito bom". No dia em que a matou, o outro estava no local."
Por que, então, não se separou antes? "Ele é funcionário público, tem renda conhecida. Não queria, na separação, ser explorado", conta.
A delegada Maria Carolina Opilhar, 34, que cuida do inquérito na Delegacia da Mulher em Florianópolis, diz que "aparentemente não há prova de traição". Segundo ela, nenhuma das testemunhas diz ter visto Yara conversando com outro homem -o suposto amante, que, diz Daldon, se chama Samuel e tem 22 anos- nas proximidades da clínica onde ocorreu o crime.
Nascida e criada em Joinville, interior de Santa Catarina, Yara era, nas palavras de sua mãe, uma "moça atentada". "Ela sempre deixava os homens loucos atrás dela. Não é por ser minha filha, mas a Yara era muito linda", diz a ex-vigia desempregada Eliana Luiza de Oliveira Paz, 56, que se separou do marido há 14 anos. Ela dá a entrevista na casa de cinco cômodos onde Yara e os três irmãos cresceram, na periferia de Joinville. Instalada com outras duas em um terreno de terra batida, a casa tem chão de cimento, paredes de reboco e janelas pequenas.
"Ela sempre quis me dar uma vida melhor", diz Eliana.
Yara tinha três filhos: a mais velha, de pai desconhecido, tem 11 anos e era criada pelo bancário, que assumiu informalmente sua paternidade; o mais novo, 3, morava com eles. O do meio, 7, vive com o pai, um designer, em um "bairro nobre" de Joinville.
Preso em Florianópolis, Steinbach, que já era "caladão", ficou mais ainda. "Não vou dizer, só por causa do que aconteceu, que o Paulo é má pessoa. Ele fazia todas as vontades da Yara", diz Eliana.
Recentemente, o casal trocou o carro e mudou-se para uma casa maior.
Formado em engenharia eletrônica, Steinbach cresceu em um ambiente de classe média, estudou em colégios particulares e era um aluno acima da média.
Filho único de pais separados, ele foi criado pelo padrasto, Orlando, veterinário do Exército, mais velho 17 anos que sua mãe, Denise, 58.
Os dois estão incomunicáveis: não atendem campainha nem telefone: "Por favor, respeite a nossa dor", pede um irmão de Denise.
Na cadeia, Paulo alterna horas em silêncio com momentos de desconsolo. "Ele foi de zero a 150 em segundos, e agora é tarde", diz Daldon.


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