São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2000 |
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CIDADANIA Organizações não-governamentais garantem à população pobre opções de educação, emprego, cultura e lazer Periferia se organiza e cria projetos sociais
GABRIELA ATHIAS DA REPORTAGEM LOCAL A periferia das zonas sul e leste da cidade de São Paulo é citada na mídia como palco de violência, porque ali ocorrem com frequência chacinas, brigas de gangue, tráfico de drogas e ali vivem adolescentes infratores. O que a maioria das pessoas desconhece é que nessa periferia existem bairros que sediam projetos comunitários feitos por gente que tenta construir um dia-a-dia melhor e que muitas vezes trabalha por pouco ou nenhum dinheiro. Alguns projetos são "legalizados" sob a forma de organizações não-governamentais e podem receber recursos de outros países. No caso da periferia de São Paulo, a maioria usa a estrutura dos centros comunitários, geralmente vinculados à Igreja Católica, e sobrevive basicamente de convênios firmados com o poder público municipal e estadual. A organização da sociedade civil fenômeno que se consolidou nos últimos dez anos em todo o país- já está contribuindo efetivamente para melhorar a qualidade de vida na periferia paulistana. Na zona sul da cidade, por exemplo, os pais se organizaram em associações como a dos "Sem-Vaga" e dos "Pais do Jardim Eliana" para lutar por vagas nas escolas públicas. Aprenderam a usar a mídia para pressionar o governo. O resultado é que hoje, na zona sul, a principal reclamação dos pais de alunos, de 1ª à 8ª série, é que a escola fica longe de casa e eles não têm condições de pagar transporte. Há poucos anos, a gritaria era para denunciar a falta de vaga em escolas perto ou longe do bairro. Na zona leste, a região onde há maior organização comunitária da cidade, os centros mantêm creches, programas de alfabetização de adultos, de reforço escolar, de recuperação de adolescentes infratores de profissionalização e até de atendimento à população da terceira idade. Nem sempre as estatísticas sobre as ONGs associadas à Abong (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais) refletem a realidade dos projetos da periferia. Mas dão uma pista sobre as tendências do setor. Uma pesquisa feita pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião, no Rio) em conjunto com a Universidade Jonhs Hopkins, em Baltimore (EUA), mostra que em 24 países pesquisados, incluindo o Brasil, as ONGs que mais empregam pessoas são as que trabalham na área social. Segundo a pesquisa, o aumento da mão-de-obra empregada por ONGs no país, entre 91 e 95, chegou a 46,16%. No mesmo período, o aumento de pessoal na iniciativa privada ficou em 27,09%. Independentemente de ter filiação na Abong, de receber financiamento do exterior ou de possuir convênios com a prefeitura, as instituições do terceiro setor enfrentam o mesmo desafio: conseguir que seu projeto sirva de modelo de política pública. Ou seja: o objetivo é que o projeto que atende, com sucesso, cem adolescentes carentes da favela Santa Madalena, na zona leste de São Paulo, seja copiado e adaptado pelo poder público para os garotos de todas as favelas da região. Alguns projetos sociais conseguiram isso. Um caso notável é a Pastoral da Criança, ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). O trabalho das agentes de saúde, mulheres que pesam e acompanham o desenvolvimento das crianças de 0 a 1 ano de idade, reduziu em mais de 50% a mortalidade infantil em áreas miseráveis do sertão nordestino. O trabalho passou a ser financiado pelo Ministério da Saúde. O modelo das agentes foi incorporado no Programa de Saúde da Família, do governo federal. A Folha selecionou três projetos sociais em bairros cujas principais marcas são os indicadores de violência: Parque Santo Antônio e Jardim Ângela (zona sul de São Paulo) e Ermelino Matarazzo (zona leste). Próximo Texto: Oficinas comunitárias tiram jovens das ruas Índice |
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