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Oficinas comunitárias tiram jovens das ruas
ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com ofertas de trabalho para
pintar fachadas de padarias, escolas, muros de lava-rápidos e postos de gasolina, os adolescentes
Spif e Suco terão um Natal diferente neste ano.
Os dois garotos deixaram de ser
"pichadores de muro" e agora são
grafiteiros em uma das regiões
mais violentas de São Paulo, o Jardim Ângela.
No começo do ano, eles trocaram as ruas pelas oficinas da Sociedade Santos Mártires, uma
ONG ligada à paróquia homônima, coordenada pelos padres irlandeses Jaime Crowe e Eduardo
McGettrick. Ambos estão no Brasil há mais de uma década.
Ao todo, são quase 2.000 pessoas atendidas nos serviços da
Santos Mártires. Entres elas, Spif e
Suco, dois estudantes da 8.ª série
que, com latas de spray nas mãos,
aproveitam a chance de escrever
uma história diferente de muitos
amigos deles: meninos pobres
que morreram no crime ou foram
mortos pela polícia e viraram
mais uma estatística no Ângela
-como eles chamam o bairro.
Eles explicam que, no mundo
do grafite, os artistas geralmente
escolhem nomes que são siglas de
uma mensagem ou frase que expresse um sentimento.
Assim, Cláudio Sacramento Figueiredo, 16, é Spif (Significado
do Pensamento Infinito), e Tiago
do Nascimento Menezes, 14, é Suco (Somente Unidos Conseguiremos Oportunidade).
Filho de um eletrotécnico e de
uma cozinheira, Spif estuda à noite e faz bicos como ajudante de
pedreiro.
Suco é o terceiro de cinco filhos
em uma família que mora só com
a mãe e é sustentada pelos irmãos
mais velhos, de 18 e 21 anos. Os
pais estão desempregados.
Além da oportunidade de sair
das ruas, segundo o padre Jaime
Crowe, os cursos ajudam também
a melhorar a auto-estima dos jovens. "A resposta das famílias e
das escolas também é boa. A evasão escolar e as brigas em casa diminuíram", conta Crowe.
Com um grupo de cem funcionários e mais de 500 voluntários, a
ONG mantém creches, centros de
juventude, serviços de assistência
a dependentes de drogas e a mulheres vítimas de violência doméstica.
Oferece ainda cursos profissionalizantes de grafitagem, discotecagem, padaria e informática, aulas de capoeira, dança, ética e cidadania e mantém 23 turmas de
alfabetização para adultos. Cerca
de 600 novos alfabetizados fizeram a festa de formatura no último domingo.
Drogas
As oficinas da paróquia atendem adolescentes infratores do
bairro, que estão em regime de liberdade assistida.
Praticamente toda a renda da
Santos Mártires é obtida por meio
de convênios com a prefeitura ou
com o Estado.
O trabalho de ajuda a dependentes de droga (a maioria de álcool, cocaína e crack) tem a parceria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A assistência a mulheres vítimas
de violência conta com o trabalho
voluntário de quatro psicólogas e
uma advogada.
"Mas ainda é pouco. A população no entorno da paróquia chega
a 200 mil pessoas", diz o padre.
"Procuramos ampliar parcerias
com o poder público e estamos
atrás da iniciativa privada e mais
voluntários." Até a elaboração do
site da entidade foi paralisada por
falta de profissionais.
"O nosso trabalho começou
com creches, em 1989, e fomos
crescendo. Tentamos atender às
necessidades do bairro, na medida em que elas aparecem", explica
Crowe.
Atualmente, a comunidade tenta implantar um projeto de reciclagem de lixo e de geração de
renda para 40 pessoas, mas ainda
não conseguiu patrocínio.
Os atuais programas mantêm
os 13 da paróquia, localizados em
vários pontos do bairro, diariamente ocupados.
Segunda chance
O trabalho no Ângela também
ofereceu uma segunda chance para a administradora de empresas
Cilene Amorim Santos, 30, como
professora na comunidade.
"Trabalhei 11 anos em empresas
privadas na área de recursos humanos, mas não me sentia útil",
afirma ela.
Cilene começou como voluntária e, na primeira chance que teve,
há dez meses, abandonou a área
de recursos humanos e foi contratada pela Santos Mártires.
Ela não revela o salário, mas
conta que ganha pouco mais da
metade do que ganhava antes,
quando cumpria horário das 8h
às 18h.
Hoje, ela trabalha das 7h às 12h,
dá aulas de ética e ainda compartilha reuniões e encontros com jovens e até aulas de capoeira.
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