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REFUGIADOS DE GUERRA
Grupo chegará ao país em janeiro e ficará em Porto Alegre, Natal, Mogi das Cruzes e Santa Maria Madalena
Brasil reassentará cem afegãos em 4 cidades
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
Pela primeira vez, por meio de
parceria com as Nações Unidas, o
Brasil fará o reassentamento de
refugiados de guerra. Cem afegãos chegarão ao Brasil na segunda quinzena de janeiro e serão
instalados em quatro cidades.
A experiência servirá como "laboratório" para o país passar a receber regularmente refugiados de
guerra nos próximos anos.
Hoje existem 2.795 refugiados
no Brasil -a maioria vindo de
países africanos, segundo dados
do Ministério da Justiça. Eles chegam ao país, principalmente, como clandestinos de navios e também de avião, por meio de passaportes falsos.
Segundo a secretária nacional
de Justiça, Elizabeth Süssekind,
presidente do Conare (Comitê
Nacional para os Refugiados), se a
experiência com os afegãos der
resultado, deverão chegar novas
turmas de estrangeiros vindos de
países em situação de conflito.
"Vai depender única e exclusivamente do desempenho desse
programa de reassentamento
[dos afegãos]. Vamos ver se eles
se adaptarão, se serão bem recebidos. A partir daí, pode ser que o
Brasil entenda que deva dobrar
esse número. Acredito que manteremos os cem no primeiro ano e
possamos receber outros cem no
ano seguinte", declarou.
Os cem afegãos (cerca de 25 famílias) vivem em campos de refugiados na Índia, Irã e Turquia e
são parte das 5 milhões de pessoas
que abandonaram o Afeganistão
desde a guerra civil motivada pela
ocupação soviética em 1979.
Eles serão instalados pelo governo federal em Porto Alegre,
Natal, Mogi das Cruzes (SP) e
Santa Maria Madalena (RJ).
O programa de reassentamento
dos afegãos representará uma nova modalidade da política brasileira de recepção de estrangeiros
em busca de refúgio. Antes do
programa, os pedidos de refúgio
eram formulados pelos interessados, após terem ingressado no
país, legal ou ilegalmente.
Do total de refugiados acolhidos
pelo governo federal até novembro último, 84,7% são africanos,
segundo o Conare. Por país, a
maior parcela de refugiados é a
dos angolanos (59,4% do total).
Eles optam pelo Brasil principalmente porque falam português e se valem de uma linha aérea direta, com um vôo semanal,
da companhia angolana Taag, entre a capital Luanda e o Rio. Depois de entrar no país com visto
de turista, solicitam refúgio.
Parte dos demais africanos chega pelos portos brasileiros, principalmente o de Santos (SP), a bordo de navios cargueiros, nos quais
embarcam clandestinamente nos
portos de seus países de origem.
Segundo registros da Polícia Federal, neste ano houve um recorde de clandestinos no porto de
Santos (25, todos africanos). Em
2000, foram apenas quatro e, em
1999, cinco. Em outro grande porto, o de Paranaguá (PR), o número dobrou entre 2000 e 2001 (de 6
para 12), segundo a PF.
"Pelo que sabemos, e pelo relato
dos próprios clandestinos, a segurança portuária em portos como
Abidjã (Costa do Marfim), Lagos
(Nigéria) e Matadi (Congo) praticamente inexiste. Então, o cidadão fica no cais, à espera de uma
oportunidade para entrar e se esconder no interior do navio", disse o delegado Cássio Luiz Nogueira, chefe do Nepom (Núcleo Especial de Polícia Marítima), da
Polícia Federal, em Santos.
Esse tipo de refugiado normalmente não tem o Brasil como opção preferencial porque nem ao
menos sabe o destino do navio ao
ingressar na embarcação. "Eles
têm a esperança de parar na Europa ou nos EUA, mas, em 90% dos
casos, assim mesmo pedem refúgio ao Brasil", afirmou Nogueira.
Foi o que aconteceu com o pedreiro cubano Ogandy Diaz Maz,
37, que chegou ao Brasil em 94 de
navio, como clandestino, e solicitou refúgio. Sua intenção era ir
para o México. "Conhecia o país
pelas imagens das novelas que
passavam em Cuba", disse.
Colaborou Mari Tortato, da Agência Folha em Santos
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