São Paulo, terça-feira, 25 de dezembro de 2001

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EDUCAÇÃO

Instituição mantida pelo Colégio Pio 12 atendia filhos de empregados de residências de área nobre do Morumbi

Socialites se opõem a fechamento de escola

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O fechamento de uma escola beneficente no Morumbi (zona sul de São Paulo), que atendia crianças da favela de Paraisópolis, causou protestos. Porém não foram os pais a liderar a mobilização, que incluem faixas espalhadas pelo bairro, e sim um grupo de moradores com maior poder aquisitivo cujos empregados têm filhos matriculados na estabelecimento.
A escola beneficente é mantida há cerca de 40 anos pelo Colégio Pio 12, instituição tradicional de irmãs franciscanas que atende a parcela do bairro detentora de renda mais alta. Dentro do complexo escolar, que inclui até um bosque, ficava o prédio onde cerca de 450 crianças carentes cursavam o ensino fundamental.
Há dez anos, o governo paulista mantinha parceria com o colégio, fornecendo as professoras e a merenda. O Pio 12 cuidava da manutenção da infra-estrutura, das disciplinas complementares, como música, e da coordenação diária, à qual se dedicavam duas freiras.
De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, dois anos atrás, a diretoria da instituição religiosa solicitou o prédio da "Escolinha do Pio 12" para realizar, no local, outros projetos sociais.
"Apesar de estar aqui, a escolinha é dirigida pela equipe da Escola Estadual Professor Homero Forte, que fica em Paraisópolis. Nós queríamos um projeto nosso, com o objetivo de tirar as crianças da rua", afirma a diretora do Pio 12, irmã Yolanda Marcelino.
A inauguração, neste ano, da terceira escola estadual em Paraisópolis, ainda sem nome, pôs fim à parceria e atendeu o pedido das irmãs do Pio 12. As 450 crianças da escolinha irão para a Homero Forte no próximo ano letivo.
"Uma coisa não inviabiliza a outra. Não é porque o Estado não fornece mais verba que a escolinha deve fechar", afirma Milu Vilela, moradora da região e presidente do Comitê Brasileiro para o Ano Internacional do Voluntariado. Há dois anos, Milu enviou uma carta para Pittsburgh (EUA), sede da Ordem das Irmãs Franciscanas da Providência de Deus, mantenedora do Pio 12, pedindo a continuidade da escola.
"Parece-me pouco cristã uma atitude dessas. Sem a escolinha, as crianças perdem uma estrutura excelente, com dez psicólogas voluntárias, enfim, um trabalho social completo. A diretora tinha de ampliar o local para atender o dobro de crianças", afirma Milu.
O protesto dos moradores inclui um abaixo-assinado promovido pela Sociedade Amigos do Jardim Vitória Régia, presidida por Vânia Lúcia Jardim Ribeiro Parra Rosique. "Na escolinha, havia todo um conceito de limpeza, disciplina e organização dado pelas freiras", diz Vânia, que também protestou com cartas para organismos internacionais.
A associação cuida de um condomínio fechado no Morumbi, mas, segundo Vânia, a defesa dos moradores inclui o bem-estar em Paraisópolis. "O nosso grande objetivo não é ajudar as pessoas daqui. Se roubarem meu carro, compro outro. É o olhar para o lado que nos interessa", diz.
Paraisópolis, a segunda maior favela paulistana, tem 32 mil habitantes e ocupa 1,5 milhão de m2.


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