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EDUCAÇÃO
Instituição mantida pelo Colégio Pio 12 atendia filhos de empregados de residências de área nobre do Morumbi
Socialites se opõem a fechamento de escola
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O fechamento de uma escola beneficente no Morumbi (zona sul
de São Paulo), que atendia crianças da favela de Paraisópolis, causou protestos. Porém não foram
os pais a liderar a mobilização,
que incluem faixas espalhadas pelo bairro, e sim um grupo de moradores com maior poder aquisitivo cujos empregados têm filhos
matriculados na estabelecimento.
A escola beneficente é mantida
há cerca de 40 anos pelo Colégio
Pio 12, instituição tradicional de
irmãs franciscanas que atende a
parcela do bairro detentora de
renda mais alta. Dentro do complexo escolar, que inclui até um
bosque, ficava o prédio onde cerca de 450 crianças carentes cursavam o ensino fundamental.
Há dez anos, o governo paulista
mantinha parceria com o colégio,
fornecendo as professoras e a merenda. O Pio 12 cuidava da manutenção da infra-estrutura, das disciplinas complementares, como
música, e da coordenação diária,
à qual se dedicavam duas freiras.
De acordo com a Secretaria de
Estado da Educação, dois anos
atrás, a diretoria da instituição religiosa solicitou o prédio da "Escolinha do Pio 12" para realizar,
no local, outros projetos sociais.
"Apesar de estar aqui, a escolinha é dirigida pela equipe da Escola Estadual Professor Homero
Forte, que fica em Paraisópolis.
Nós queríamos um projeto nosso,
com o objetivo de tirar as crianças
da rua", afirma a diretora do Pio
12, irmã Yolanda Marcelino.
A inauguração, neste ano, da
terceira escola estadual em Paraisópolis, ainda sem nome, pôs fim
à parceria e atendeu o pedido das
irmãs do Pio 12. As 450 crianças
da escolinha irão para a Homero
Forte no próximo ano letivo.
"Uma coisa não inviabiliza a outra. Não é porque o Estado não
fornece mais verba que a escolinha deve fechar", afirma Milu Vilela, moradora da região e presidente do Comitê Brasileiro para o
Ano Internacional do Voluntariado. Há dois anos, Milu enviou
uma carta para Pittsburgh (EUA),
sede da Ordem das Irmãs Franciscanas da Providência de Deus,
mantenedora do Pio 12, pedindo
a continuidade da escola.
"Parece-me pouco cristã uma
atitude dessas. Sem a escolinha, as
crianças perdem uma estrutura
excelente, com dez psicólogas voluntárias, enfim, um trabalho social completo. A diretora tinha de
ampliar o local para atender o dobro de crianças", afirma Milu.
O protesto dos moradores inclui um abaixo-assinado promovido pela Sociedade Amigos do
Jardim Vitória Régia, presidida
por Vânia Lúcia Jardim Ribeiro
Parra Rosique. "Na escolinha, havia todo um conceito de limpeza,
disciplina e organização dado pelas freiras", diz Vânia, que também protestou com cartas para
organismos internacionais.
A associação cuida de um condomínio fechado no Morumbi,
mas, segundo Vânia, a defesa dos
moradores inclui o bem-estar em
Paraisópolis. "O nosso grande objetivo não é ajudar as pessoas daqui. Se roubarem meu carro,
compro outro. É o olhar para o lado que nos interessa", diz.
Paraisópolis, a segunda maior
favela paulistana, tem 32 mil habitantes e ocupa 1,5 milhão de m2.
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