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Sebastião, 16, cansou de esperar chover
Ex-agricultor que virou garimpeiro extrai material de uma mina
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRINCESA ISABEL (PB)
Depois de esperar quase um ano
por uma chuva que não veio, o
agricultor Sebastião Edson Pereira, 16, decidiu seguir os passos do
avô Zezinho Belo e do pai, Tião
Pereira. Abandonou a lavoura e,
há dois meses, com a ajuda de
dois "sócios", começou a cavar a
terra seca e pedregosa do sertão
da Paraíba na tentativa de achar o
filão de ouro que há anos muitos
procuram em vão.
Sebastião, o lavrador, se tornou
um "menino-bomba", o representante da terceira geração de
uma família de garimpeiros forjados pela seca que vêem na explosão da dinamite a chance de sobrevivência.
"Larguei a agricultura por falta
de inverno", disse o garoto, referindo-se ao período de chuvas no
Nordeste. "É melhor tentar achar
alguma coisa aqui do que ficar esperando a água cair."
O adolescente trabalha desde os
13 anos nos garimpos, transformando pedras grandes em britas
com o uso de uma marreta. Agora, aos 16 anos, diz que já se sente
experiente para tentar administrar o seu próprio negócio.
O buraco aberto por ele já atingiu cerca de 20 metros de profundidade. Tem a forma de um "L",
porque acompanha o contorno
da pedra onde ele acredita que
possa estar escondido o metal.
Como parte da mina, que tem
um metro de diâmetro, segue em
sentido horizontal, o garoto é
obrigado a se arrastar para instalar o explosivo no fundo do poço.
Na tentativa de garantir um
pouco de segurança ao serviço,
Sebastião faz quase todo o trabalho no escuro. A única vela que
ilumina o ambiente só é acesa
quando ele chega no ponto de detonação. "Aí eu pego o ferro, a
marreta e bato até abrir espaço na
pedra para a dinamite", explica.
Do lado de fora, um dos sócios de
Sebastião fica atento, pronto para
puxar a corda que vai tirar o adolescente do buraco. Antes de
acender o pavio, o garoto avisa:
"Vai queimar." Depois, volta a
gritar: "Já queimou." É a senha
para ser içado à superfície.
O pavio tem cerca de meio metro, distância que o "menino-bomba" considera segura para
que saia de minas com até 20 m de
profundidade e se afaste da fumaça tóxica expelida do túnel.
Sebastião ainda não encontrou
nem um grama de ouro em sua
banqueta. Assim, ele vai repetindo a trajetória do pai, que há quatro anos atua nos garimpos durante os períodos de seca sem
nunca ter visto o metal.
(FG)
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