São Paulo, terça-feira, 25 de dezembro de 2001

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Sebastião, 16, cansou de esperar chover

Ex-agricultor que virou garimpeiro extrai material de uma mina

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRINCESA ISABEL (PB)

Depois de esperar quase um ano por uma chuva que não veio, o agricultor Sebastião Edson Pereira, 16, decidiu seguir os passos do avô Zezinho Belo e do pai, Tião Pereira. Abandonou a lavoura e, há dois meses, com a ajuda de dois "sócios", começou a cavar a terra seca e pedregosa do sertão da Paraíba na tentativa de achar o filão de ouro que há anos muitos procuram em vão.
Sebastião, o lavrador, se tornou um "menino-bomba", o representante da terceira geração de uma família de garimpeiros forjados pela seca que vêem na explosão da dinamite a chance de sobrevivência.
"Larguei a agricultura por falta de inverno", disse o garoto, referindo-se ao período de chuvas no Nordeste. "É melhor tentar achar alguma coisa aqui do que ficar esperando a água cair."
O adolescente trabalha desde os 13 anos nos garimpos, transformando pedras grandes em britas com o uso de uma marreta. Agora, aos 16 anos, diz que já se sente experiente para tentar administrar o seu próprio negócio.
O buraco aberto por ele já atingiu cerca de 20 metros de profundidade. Tem a forma de um "L", porque acompanha o contorno da pedra onde ele acredita que possa estar escondido o metal.
Como parte da mina, que tem um metro de diâmetro, segue em sentido horizontal, o garoto é obrigado a se arrastar para instalar o explosivo no fundo do poço.
Na tentativa de garantir um pouco de segurança ao serviço, Sebastião faz quase todo o trabalho no escuro. A única vela que ilumina o ambiente só é acesa quando ele chega no ponto de detonação. "Aí eu pego o ferro, a marreta e bato até abrir espaço na pedra para a dinamite", explica. Do lado de fora, um dos sócios de Sebastião fica atento, pronto para puxar a corda que vai tirar o adolescente do buraco. Antes de acender o pavio, o garoto avisa: "Vai queimar." Depois, volta a gritar: "Já queimou." É a senha para ser içado à superfície.
O pavio tem cerca de meio metro, distância que o "menino-bomba" considera segura para que saia de minas com até 20 m de profundidade e se afaste da fumaça tóxica expelida do túnel.
Sebastião ainda não encontrou nem um grama de ouro em sua banqueta. Assim, ele vai repetindo a trajetória do pai, que há quatro anos atua nos garimpos durante os períodos de seca sem nunca ter visto o metal. (FG)


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