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TURISMO DA DISCÓRDIA
No Rio Grande do Norte, condutores boicotam atração onde entrada é cobrada e querem desapropriações
Guerra das dunas tira bugueiros de Genipabu
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM EXTREMOZ
Pelo segundo verão seguido,
uma disputa de terra dificulta o
acesso a um dos principais pontos
turísticos do Rio Grande do Norte. As dunas móveis de Genipabu,
em Extremoz (25 km de Natal),
que permitem manobras radicais,
sofrem boicote de bugueiros, que
querem a desapropriação da área.
A disputa antes restrita a posseiros, donos de terra e motoristas
de bugues hoje opõe o Estado e o
sindicato dos bugueiros aos donos dos três terrenos, onde estão
as dunas e que formam os cerca
de 600 hectares do Parque Turístico Ecológico Dunas de Genipabu.
A nova fase da briga começou
em julho de 2004, quando 400 bugueiros bloquearam uma avenida
de Natal em protesto contra o aumento de 100% no "pedágio" para entrada nas dunas -de R$ 5
para R$ 10 por pessoa. Em seguida, deflagraram o boicote.
O agravamento do conflito fez o
governo Wilma de Faria (PSB)
tentar a redução provisória da entrada para R$ 5 por bugue, demanda dos condutores. Como os
donos não aceitaram, o Estado
decidiu "retomar o controle das
áreas", diz Carlos Castim, secretário-adjunto do Gabinete Civil.
Em novembro de 2004, o Estado
obteve na Justiça a desapropriação provisória de um dos três terrenos das dunas -138 hectares
da lagoa de Genipabu e seu entorno, por onde os bugueiros passam
agora sem pagar. Depositou em
juízo R$ 704 mil. A dona recorreu
-alega que a área vale R$ 28,6
milhões e não está à venda.
O governo anunciou a segunda
desapropriação, dos 229 hectares
de dunas móveis, para o fim deste
ano, mas mudou a previsão para
fevereiro de 2006, por atrasos na
avaliação do terreno. A dona disse
que a venda não lhe interessa.
O Estado tomou a causa como
bandeira. Aponta necessidade de
preservação, negligência de gestões passadas e diz que os donos
avançaram em terras devolutas
(estatais sem uso público). "É terra de ninguém", disse Castim.
Os donos (sócios desde 1994 no
parque criado para a cobrança)
mostram escrituras de 1912, 1930
e 1945. Para os bugueiros, R$ 10 de
entrada por pessoa inviabilizam o
passeio, que dura o dia todo e pelo
qual cobram R$ 240 por bugue.
Briga antiga
A atividade comercial de bugue
no Rio Grande do Norte começou
em 1982. Até 1988 (início do cadastro), a entrada nas dunas de
Genipabu era livre, sem cercas.
Naquele ano os proprietários
decidiram cercar as dunas e cobrar pela entrada. Também foram
registradas as primeiras derrubadas de cercas e o início do conflito.
As entradas e saídas das dunas
móveis têm portões e são vigiadas
por seguranças. A entrada baixou
para R$ 5 por pessoa, mas o boicote de bugueiros segue. O local
recebe hoje até 15 bugues por dia.
Os bugueiros potiguares são articulados (há 724 cadastrados).
Atuam em parcerias com o poder
público -de denúncias de crimes
a salvamento de tartarugas- e
negociam demandas diretamente
com secretários e deputados.
Com o boicote às dunas móveis,
os bugueiros alteraram trajetos,
indo até cidades vizinhas para
compensar a falta do "grande diferencial de beleza de Genipabu",
na descrição do presidente do sindicato, Eduardo Pires. Cerca de
300 bugues circulam diariamente
pelas areias na alta temporada.
"Aqui o bugueiro se sente bugueiro", disse Alessandro Pereira,
26, enquanto conduzia a Folha
pelo trecho das dunas móveis.
Autorizado pelo sindicato a entrar na área, estava empolgado
com manobras que fazia na área
de dunas de até 60 m e que mudam de lugar pela ação do vento.
A disputa também expõe a falta
de conhecimento estatal sobre a
situação fundiária em Genipabu.
O governo admite que a APA
(Área de Proteção Ambiental) de
Genipabu, área de 1.881 hectares
criada em 1995 para organizar a
proteção do local e que abrange os
três terrenos na mira do governo,
não saiu do papel. Mais de 200
construções irregulares já foram
constatadas em áreas de dunas.
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