São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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Para os organizadores, cerca de 2,5 milhões passaram pelo local durante todo o dia

Comemoração não teve tumultos; no fim de tarde, chuva afastou parte do público

Parada reúne 1 milhão de pessoas, diz PM

DA REPORTAGEM LOCAL

A avenida 23 de Maio era ontem um retrato das diversas cidades que existem na São Paulo dos 450 anos. A dos skatistas da periferia. A capital da beleza. A metrópole onde é possível encontrar comida de todo o mundo. A cidade das filas e do caos ordenado.
A parada do aniversário começou por volta das 10h, como uma festa de uma cidade do interior -com poucos participantes-, mas, à tarde, a Polícia Militar informou que 1 milhão de pessoas passaram pela avenida. Para os organizadores, porém, foram mais de 2,5 milhões de pessoas.
O público superou, por exemplo, o da última Parada Gay, que reuniu 800 mil pessoas em 2003. No último Réveillon, a avenida Paulista foi ocupada por 1,9 milhão. Não houve tumultos -mesmo as enormes filas para a Estação Boca Livre (de onde era possível falar pelo celular, por três minutos, para qualquer lugar do Brasil) e para pegar brindes andavam com organização.
"Eu arrisco dizer que é a parada mais organizada que já se fez no Brasil", afirmou o fotógrafo Claudio Edinger, 51, que tirava fotos para um livro sobre os 450 anos da cidade. "A síntese de São Paulo está expressa na avenida 23 de Maio", disse Celso Marcondes, presidente da comissão organizadora dos eventos e da Anhembi, pouco antes de a parada sair, rumo ao vale do Anhangabaú.
E, realmente, praticar ioga clássica ao som da música "Anna Júlia" ou de rocks pesados e se alongar de calça jeans parece só ser possível em São Paulo.
"São Pedro cumpriu o acordo com São Paulo", disse ainda Marcondes, sobre o predomínio do sol durante o evento. A chuva, porém, apareceu -e forte- no final do dia.
A prefeita Marta Suplicy (PT) e a cantora Daniela Mercury chegaram às 16h30. "Viva São Paulo, a maior cidade do Brasil", gritou Marta do trio elétrico principal. "Viva a locomotiva do Brasil." A baiana Mercury cantarolou o hino dos 450 anos, composto pelo carioca Zé Rodrix, e depois um de seus sucessos, "Canto da Cidade".
Ao lado do ministro da Casa Civil, José Dirceu, Marta fez questão de chamar a atenção do público para uma faixa de catadores de lixo de uma cooperativa, que fazia referência à sua principal bandeira de campanha, os CEUs (Centros Educacionais Unificados).
"Há 50 anos eu estava no vale do Anhangabaú, vendo o desfile", disse Geraldo de Nicolai, 67. Ele foi um dos primeiros a encostar no palco principal, na altura da saída da r. Vergueiro. Depois, dançou de rosto colado com a namorada, Vilma Sebenstyen, 64.
Poucos participantes acompanharam a banda do Exército, que abriu o evento no palco, tocando o Hino Nacional e os hinos da cidade. "Sampa", de Caetano Veloso, mais uma vez foi executada.
O palco principal exibiu as danças de mais de 15 países e comunidades que têm colônias em São Paulo, além do afoxé de um grupo de mulheres. O evento custou R$ 4 milhões, sendo R$ 2,5 milhões pagos pela Vivo e o restante por vários organizadores.
Durante a parada, o público se concentrou nas duas pistas da avenida, entre o Centro Cultural e o viaduto Tutóia. Famílias inteiras caminhavam pela avenida, com cachorros, carrinhos de bebê. Nas mãos, muitos carregavam câmeras fotográficas e filmadoras.
Do lado direito, no sentido Anhangabaú, concentravam-se os 31 trios elétricos. Neles, 93 bandas tocaram de tudo.
Do outro lado, nas 12 Estações Vivas, cerca de mil pessoas cortaram o cabelo, 300 se maquiaram e 200 fizeram tatuagens de hena gratuitamente; mais de 2.000 pessoas fizeram ioga, massagem, e aulas de dança e alongamento; quase 60 mil cartões-postais foram enviados; mais de 6.000 pessoas ligaram de 32 celulares; 720 caricaturas foram feitas, e 3.500 gibis foram distribuídos.
Mais de mil PMs acompanharam o evento, mas apenas um roubo de carteira foi registrado.
Quando a parada saiu da avenida, ficaram para trás milhares de papéis picados -300 quilos de pequenos quadrados com a história dos bairros e de lugares da cidade foram jogados no local. Havia também mensagens esperançosas para o paulistanos, como a da escritora Cecília Meireles: "A vida só é possível reinventada".



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