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BARBARA GANCIA
Infeliz aniversário
Como se pode exigir ordem de uma metrópole que não respeita o seu ar, a sua saúde mental e o seu patrimônio?
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SÃO PAULO comemorou ontem
seus 453 anos, mas, excetuando o sempre otimista Gilberto
Dimenstein, quem pode dizer que a
cidade está de parabéns?
Dou alguns exemplos para ilustrar
meu pessimismo: recentemente, a
prefeitura instalou lixeiras plásticas
em vários pontos da cidade. Quando
se percebeu que os recipientes estavam sendo furtados e transformados em caixas d"água, a administração pública tratou de furá-los.
Adiantou? Claro que não. Daí para
frente, as lixeiras passaram a ser levadas para virar plástico reciclado.
A cada mês, algo em torno de 130
km de fios e cabos são furtados na cidade. E a gente viu, pelo exemplo das
ruas Oscar Freire e José Paulino, a
mão-de-obra que dá e quanto custa
enfiar os fios para baixo da terra.
Tampas de bueiro são roubadas
para vender ao ferro-velho por gatunos que andam pela cidade em peruas kombi com fundo falso. Isso mesmo. E a gente ainda se solidariza
quando vê alguma perua velha parada no meio da rua, achando que se
trata de um problema mecânico.
Na semana passada, fui apresentada ao ministro Guido Mantega e
ele me perguntou como encaro o futuro. Bem, por mais que veja com
bons olhos um genovês ocupando o
cargo de titular da Fazenda, (para
quem não sabe, os nativos de Gênova são conhecidos pela muquiranice. Minha avó, também de Gênova, era tão mão-de-vaca, mas tão mão-de-vaca, que não penteava o cabelo para não ter de repartir), quem
mandou o ministro, muito cordial,
diga-se, cutucar esta humilde datilógrafa com vara curta? Fui obrigada a
dizer a verdade. Que, na minha modestíssima opinião, se o sonho não
acabou, está cada dia mais distante.
A irrelevância do país na pauta do
Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, é só um dos indicativos
mais palpáveis do estado das coisas.
No que diz respeito a São Paulo,
por mais que tentem heroicamente
salvar o centro ou domar a falta de
educação do cidadão, como se pode
esperar ordem de uma cidade que
não exige respeito com seu ar, sua
saúde mental e seu patrimônio?
Quantas vezes o nobre leitor já não
viu lata de refrigerante ser jogada
pela janela do carro? Como se pode
admitir que São Paulo feche o olho
para os caminhões velhos e/ou de
motor desregulado que circulam livremente cuspindo monóxido de
carbono nas nossas fuças? Por que
não existe uma lei que impeça a fabricação e comercialização de rojões, bombas e foguetes que, além de perigosos, acabam com os nervos de
recém-nascidos, idosos, pessoas enfermas e animais de estimação?
Para quem acha que lixeiras, tampas de bueiro, fios e cabos, fumaça e
rojões são café pequeno, proponho
um debate mais substancioso.
Já que ainda estamos sob os efeitos da ressaca causada pelo acidente
nas obras do metrô, gostaria de saber: por que apenas cinco empresas
dominam as concorrências de obras
públicas na cidade de São Paulo, no
Estado e no resto do país? Por aqui, o
Fura-Fila é obra da Queiroz Galvão,
a ponte Jurubatuba é obra da Camargo Corrêa, os hospitais são feitos
pela Andrade Gutierrez, a linha 4 do
metrô está sendo tocada pela Odebrecht e a OAS constrói os CEUs.
Será que não existe mais ninguém
na engenharia tapuia que dê conta
do recado?
barbara@uol.com.br
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