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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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URBANIDADE

A INSTITUIÇÃO DA FILA Os nostálgicos da Guerra Fria levantarão uma sarcástica sobrancelha. É que São Paulo se tornou uma cidade palpitante de filas: os pobres para o trabalho, a classe média no banco e, quem pode, para o cinema. Antigamente, os países liberais costumavam mostrar as longas filas para a compra das batatas ou, em Cuba, para o sorvete como prova do fracasso do sistema inimigo. (VINCENZO SCARPELLINI)


Tesouro escondido

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Por falta de espaço para exposição, existe um tesouro artístico escondido na cidade de São Paulo. Não se sabe quando -ou se- as obras vão ganhar um museu para sair dessa clandestinidade cultural.
É um acervo de 2.000 obras pertencentes à prefeitura, que é mantido no Centro Cultural São Paulo, em salas acessíveis apenas a pesquisadores de artes plásticas. Mas mesmo estes devem marcar hora para visitá-lo e ter seu projeto de pesquisa aprovado com antecedência.
Gastos culturais e sociais públicos, no Brasil, obedecem à mesma lei: os recursos são escassos e, mesmo assim, muitas vezes, desperdiçados.
Estão ali trabalhos de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Renoir, Marc Chagal, Alfredo Volpi e Frans Post. "As obras estão no acervo desde 1980 e não sabemos quando merecerão um museu", lamenta Paulo Monteiro, responsável pela Pinacoteca Municipal de São Paulo. É como se fosse uma pinacoteca virtual.
Esse desperdício entrou na agenda de uma comissão criada na semana passada para discutir como desenvolver e melhor aproveitar os espaços culturais, estabelecendo conexão com a comunidade e, em especial, com as escolas públicas. Com a parceria das secretarias estadual e municipal da Cultura, o grupo reúne diretores de museus, arquitetos, intelectuais e urbanistas. "Vamos ter que encontrar um lugar para expor o acervo da Pinacoteca Municipal", compromete-se a secretária estadual da Cultura, Cláudia Costin.
Dessa comissão sairá, por exemplo, a decisão sobre o que fazer com o antigo prédio do Dops, reformado, que deveria abrigar o Museu do Imaginário Brasileiro, planejado pelo artista plástico Emanoel Araújo. Se o acervo municipal são obras à procura de um museu, o prédio do Dops, por enquanto, é um museu à procura de obras.
Não é fácil nem barato tocar um museu, cuidando de obras de arte. O Museu de Arte Moderna tem uma despesa mensal de R$ 300 mil. "Estamos sem dinheiro", lamenta Milu Villela, presidente do MAM, ao reclamar de que, por causa da crise, os patrocínios estão diminuindo.
A briga por espaço é dura. "Temos muita coisa guardada", afirma Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado, de olho nas instalações do seu espaçoso vizinho, a estação da Luz, futura sede de um memorial da língua portuguesa.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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