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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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CAOS NO RIO

Grampo de celulares feito pela polícia mostra que líderes do Comando Vermelho, presos em Bangu, ordenaram ações

Da prisão, traficantes orientaram atentados

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Gravações feitas com autorização judicial pela Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil do Rio captaram na segunda-feira conversas em que detentos dos presídios Bangu 3 e 4 transmitiam a traficantes em liberdade, via telefone celular, instruções para as ações violentas que trouxeram pânico à capital e a mais cinco cidades do Grande Rio naquele dia e ontem.
A diretora da coordenadoria, inspetora Marina Maggessi, disse à Folha que os presos monitorados disseram aos cúmplices soltos que seguiam ordens de líderes da facção criminosa CV (Comando Vermelho) presos em Bangu 1.
A informação reforça as suspeitas de que as ações foram orquestradas pelo CV. Anteontem, um panfleto distribuído em vários pontos do Rio reivindicava para a organização a autoria dos ataques incendiários a ônibus, ameaças a comerciantes, saques a mercados e atentados com bombas de fabricação caseira.
Nas gravações, segundo Maggessi, os detentos citaram como mandantes Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, Marcus Vinícius da Silva, o Lambari, e Marcos Antônio da Silva Tavares, o Marquinhos Niterói.
Os nomes dos presos que tiveram as conversas gravadas não foram revelados, sob a alegação de que isso poderia atrapalhar as investigações.
Segundo a diretora da coordenadoria de inteligência, os traficantes Jorge Alexandre Cândido Maia, o Sombra (Vila Kennedy, zona oeste), Cássio Monteiro (Mangueira, zona norte), Jurandir Dias do Nascimento, o Caju (Pavão-Pavãozinho, zona sul), e Luiz Cláudio da Rocha Melo, o Berola (Barreira do Vasco, zona norte), foram os principais articuladores das ações fora do presídio.
As gravações feitas pelo Cinpol indicam que telefones celulares continuam entrando no complexo penitenciário de Bangu, apesar de recentes operações no local relatadas pelo Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) e pela PM (Polícia Militar).

Repressão ao celular
De acordo com as autoridades, essas vistorias teriam resultado na apreensão de dezenas de aparelhos. Na última revista, feita na semana passada, foram apreendidos 57 celulares nos 15 presídios do complexo, revela o Desipe.
Procurado pela Folha, o secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, informou que novas operações serão feitas nesta semana.
A polícia do Rio trabalha com várias hipóteses para identificar as motivações dos atentados dos últimos dois dias.
Ontem, a Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que está sendo investigada pelo serviço de inteligência a informação de que um parente de Fernandinho Beira-Mar teria sido sequestrado por uma quadrilha que teria a participação de policiais. O suposto sequestro, segundo a polícia, poderia ter levado Beira-Mar a ordenar as ações violentas.
Outra hipótese levantada pelo governo do Estado é que os traficantes estariam revoltados com o tratamento que estão recebendo nas unidades prisionais.
O delegado titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas, Milton Olivier, abriu inquérito para apurar a autoria dos atentados. O delegado afirmou que vai pedir ao Desipe a lista dos advogados e visitantes dos presos de Bangu 1 para descobrir se o panfleto supostamente assinado pelo CV saiu de lá.


Colaborou TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal do Rio


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