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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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Para especialista da ONU, classe média é cúmplice

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O financiamento do tráfico carioca e o consequente poderio e "arrogância" que manifesta em suas ações são "sustentados" pelas classes média e alta. Em troca de segurança, consumidores ricos chegam a pagar até US$ 20 por grama de cocaína entregue em casa, "como se entrega pizza".
A observação é de Giovanni Quaglia, que representa o Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime no Brasil e no Cone Sul. Quaglia participou ontem em São Paulo do lançamento do Informe 2002 da Junta Internacional de Fiscalização de Drogas, órgão da ONU que acompanha os acordos internacionais.
Para Quaglia, que já esteve no Brasil de 92 a 96 e retornou há seis meses, a "droga não é só uma questão de pobreza". Na sua opinião, dois novos enfoques precisam ser adotados no combate às drogas e à consequente violência, corrupção e desestabilização geradas pelo tráfico.
Um deles é mostrar às classes ricas que ao consumir drogas estão alimentando a violência. Outro enfoque é investir no tratamento dos dependentes. Segundo ele, de 70% a 80% de toda a cocaína vendida é consumida pelos cerca de 15% de usuários que se tornaram dependentes. "Diminuir o número de dependentes tem impacto direto na redução do mercado."
Quaglia disse que há muita resistência quando se fala em investir no tratamento de dependentes, um caminho que a Europa adotou há 20 anos, com grande retorno. "Quando alguém quer se tratar, não tem onde." Para ele, a política de drogas do Brasil está "no caminho certo", mas precisa de ações práticas e unificadas.
Segundo o relatório de 2003, dedicado às "Drogas Ilícitas e o Desenvolvimento Econômico", 1% do dinheiro gasto pelos consumidores fica com o produtor. Os outros 99%, com traficantes. Em 2001, os gastos com heroína e cocaína na Europa e nos EUA totalizaram US$ 80 bilhões, e o valor do cultivo ilícito de papoula e de coca ficou em US$ 700 milhões.
O secretário nacional Antidrogas, general Paulo Roberto Uchôa, lembrou os elogios que o relatório da ONU fez ao Brasil e disse que a sociedade deverá ter uma participação cada vez maior nessa política. O governo ainda não definiu se a política de drogas permanece com o Gabinete de Segurança Institucional, onde está a Senad, ou se vai para o Ministério da Justiça, como previa o programa petista de campanha.


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