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Para especialista da ONU, classe média é cúmplice
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O financiamento do tráfico carioca e o consequente poderio e
"arrogância" que manifesta em
suas ações são "sustentados" pelas classes média e alta. Em troca
de segurança, consumidores ricos
chegam a pagar até US$ 20 por
grama de cocaína entregue em casa, "como se entrega pizza".
A observação é de Giovanni
Quaglia, que representa o Escritório das Nações Unidas contra a
Droga e o Crime no Brasil e no
Cone Sul. Quaglia participou ontem em São Paulo do lançamento
do Informe 2002 da Junta Internacional de Fiscalização de Drogas, órgão da ONU que acompanha os acordos internacionais.
Para Quaglia, que já esteve no
Brasil de 92 a 96 e retornou há seis
meses, a "droga não é só uma
questão de pobreza". Na sua opinião, dois novos enfoques precisam ser adotados no combate às
drogas e à consequente violência,
corrupção e desestabilização geradas pelo tráfico.
Um deles é mostrar às classes ricas que ao consumir drogas estão
alimentando a violência. Outro
enfoque é investir no tratamento
dos dependentes. Segundo ele, de
70% a 80% de toda a cocaína vendida é consumida pelos cerca de
15% de usuários que se tornaram
dependentes. "Diminuir o número de dependentes tem impacto
direto na redução do mercado."
Quaglia disse que há muita resistência quando se fala em investir no tratamento de dependentes,
um caminho que a Europa adotou há 20 anos, com grande retorno. "Quando alguém quer se tratar, não tem onde." Para ele, a política de drogas do Brasil está "no
caminho certo", mas precisa de
ações práticas e unificadas.
Segundo o relatório de 2003, dedicado às "Drogas Ilícitas e o Desenvolvimento Econômico", 1%
do dinheiro gasto pelos consumidores fica com o produtor. Os outros 99%, com traficantes. Em
2001, os gastos com heroína e cocaína na Europa e nos EUA totalizaram US$ 80 bilhões, e o valor do
cultivo ilícito de papoula e de coca
ficou em US$ 700 milhões.
O secretário nacional Antidrogas, general Paulo Roberto
Uchôa, lembrou os elogios que o
relatório da ONU fez ao Brasil e
disse que a sociedade deverá ter
uma participação cada vez maior
nessa política. O governo ainda
não definiu se a política de drogas
permanece com o Gabinete de Segurança Institucional, onde está a
Senad, ou se vai para o Ministério
da Justiça, como previa o programa petista de campanha.
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